sexta-feira, 5 de dezembro de 2008
Estômago de avestruz
"Carne de avestruz conquista campeão brasileiro de xadrez
O Grande Mestre brasileiro de Xadrez, Giovanni Vescovi, é um grande consumidor de carne de avestruz produzida pela Avestro. Como enxadrista, seu consumo de carboidratos durante os torneios e campeonatos é bem maior que o de proteínas, já que a carne faz com que as pessoas sintam certa letargia. No entanto, isto não acontece com a carne de avestruz, pois ela é bem mais leve do que as outras e muito mais saudável.
O Grande Mestre Vescovi tem 30 anos e é Campeão Brasileiro Absoluto de Xadrez e está entre os Top 100 do ranking mundial. Gaúcho de Porto Alegre, mas residente em São Paulo, volta a sua terra natal entre 7 e 16 de dezembro para disputar a final de mais um Campeonato Brasileiro, nesta que é a versão mais forte da história da competição do país. O seu envolvimento com o esporte, acontece desde os dois anos de idade. Giovanni já foi considerado o garoto prodígio do xadrez no país e treinou com grandes nomes do mundo. Autodidata aprendeu espanhol, russo e sueco; além do inglês e alemão que vieram dos ensinamentos da escola.
O preparo físico do enxadrista começa a se tornar mais forte um pouco antes de cada competição, e com isso ele pratica muitos exercícios aeróbicos combinados com uma alimentação saudável com a inserção de muito carboidrato para aumentar a energia durante os 11 dias de competição. É aqui que entra a carne de avestruz, uma proteína mais leve para equilibrar. No Brasil, o estudo da influência da alimentação em esportes como o xadrez ainda está no início e Vescovi participa desta ação, mas em outros países já existem estudos avançados que buscam comprovar a necessidade deste preparo mais saudável.
Com aparência do filé mignon, a carne de avestruz é vermelha, tem proteína de excelente qualidade, baixos índices de gordura e colesterol, além de ser rica em ferro e conter ômega 3 – que tem a propriedade de controlar o colesterol no sangue. Os valores da carne de avestruz ficam em 19% de proteínas, 3,2 mg de ferro, 1,8% de gordura, 36 mg de colesterol e 101 quilocalorias (valores nutricionais porção 100 gramas, fonte:Universidade de São Paulo/USP, média dos cortes)."
sábado, 22 de novembro de 2008
Trava-línguas
"Cleópatra, Cleópatra, Cleó-pa-tra"
Pois é. Não bastava pôr um nome como Cleópatra no refrão do samba-enredo. Era preciso repeti-lo três vezes, criando um trava-línguas quase intransponível para todos os componentes da escola. Sim, porque ninguém na platéia se arriscava a cantá-lo. Dificuldade a tal ponto que na terceira repetição era necessário soletrá-lo como crianças recebendo as primeiras lições (não, creio que não era essa a intenção do compositor).
Mas não é só no Carnaval que a gente fica conhecendo refrões bizarros. Lembro de dois (devem haver bem mais por aí), que ouvi já em minha carreira de jornalista esportivo. Ambos ocorreram -acho que não por acaso!- no vôlei.
O primeiro na verdade não fui eu que presenciei. Foi a Tânia Scaffa, uma colega dos meus tempos de Lance!. Certa tarde, Taninha tinha ido a Santo André cobrir jogo do time local, que contava com Marcelo Negrão e era patrocinado pela Philco.
Como é comum nestes times, os marqueteiros de plantão quebravam a cuca para que sua marca tivesse a maior visibilidade e exposição possível. E aquela história de que ninguém vai ao ginásio para gritar Tratores Valtra ou Colégios COC nem sempre é verdadeira. Ao menos naquele dia, no ginásio Pedro Dell'Antonia.
"Ah, eu Philco louco!", berravam entusiasmados os torcedores.
Ignoro se a Philco ganhou aquele confronto. Mas o time não teve continuidade, o que acho que já explica alguma coisa.
O outro "causo" ocorreu comigo. Fui enviado a Guarulhos para cobrir o "clássico" entre UnG e Rexona. O time da universidade contra a equipe do desodorante. De um lado, Zé Roberto Guimarães e Ana Moser. Do outro, Bernardinho e Érika.
E a torcida, como não podia deixar de ser, ensaiava seus gritos de apoio. A mais animada era a do Rexona, caravana que viera de Curitiba especialmente para apoiar o time. É, a equipe ainda sediava seus jogos na capital paranaense:
"Olê, lê-á,
Requi-sona
Olê, lê-á,
Requi-sona"
O público que abarrotava as arquibancadas do ginásio Paschoal Thomeu, o Thomeusão, de forma criativa, conseguia gritar o nome quase impronunciável de sua equipe do coração. Pouco tempo depois, o Rexona fixou residência no Rio de Janeiro, deixando o Paraná órfão de um time de ponta.
E a UnG? Sem um refrão tão bacana para apoiar suas jogadoras, obviamente, não sobreviveu àquela Superliga.
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
Craque de bola
"Sabemos que a senhora presidente é boa jogadora", afirmou Blatter, que provocou risos da mandatária do país durante jantar que a presidência ofereceu a Blatter e ao ex-jogador Franz Beckenbauer. Ambos estão no Chile para a abertura do Mundial feminino sub-20, que será jogado em quatro estádios construídos para a competição.
No dia 5 de novembro, Bachelet perdeu o sapato do pé direito. Segundo algumas testemunhas, ao dar o pontapé inicial, o calçado voou mais longe do que a bola.
"Vimos o aspecto técnico de seu chute. Muito lindo, perfeito", afirmou Blatter, causando risada entre os presentes. "Naturalmente, todos os jogadores presentes aqui sabem que, em alguns momentos, podem perder a chuteira, mas isso não é tão grave. Pelo contrário, esta foi para o mundo inteiro uma promoção de seu lindo país", acrescentou Blatter, enquanto Bachelet ia às lágrimas, de tanto rir.
A abertura do Mundial feminino sub-20 está prevista para esta noite, em Coquimbo, 458 km ao norte de Santiago. Bachelet, Blatter e Beckenbauer estarão na tribuna de honra. A competição vai até 7 de dezembro e também terá jogos no bairro de La Florida, em Santiago, e nas cidades de Temuco e Chillían, respectivamente a 673 e 403 km ao sul de Santiago.
Acerto de contas
sexta-feira, 7 de novembro de 2008
Demissão vitalícia
quarta-feira, 1 de outubro de 2008
A fauna no sudeste asiático
Bem, já que estamos no bom e velho teclado em português, vou relembrar aqui algumas historinhas da vasta fauna que encontrei pelo sudeste asiático. E algumas surpresas que tive por lá.
A primeira história ocorreu em Saigon. Estava passeando pelo Palácio da Reunificação. Originalmente, o local era a sede do governo de Nguyen Van Thieu, do então Vietnã do Sul, aliado dos EUA. Encerrei minha visita pelo museu que hoje funciona no local e passeava pelo parque que cerca o palácio.
De repente, um barulho próximo a uma árvore me chamou a atenção. Era um esquilo! Ou coisa que o valha. Não consegui fazer boas fotos do bicho, mas ao menos uma saiu decentemente. Tentarei postá-la aqui.
A segunda surpresa animal que tive foi no Camboja. Estava em Phnom Penh, capital do país, e voltava para o hotel, após um passeio que havia incluído museus e a parte bacana da cidade (não, não estava hospedado neste pedaço). Na volta ao hotel, já no fim da tarde, percebi que cruzaria no caminho com o Wat Phnom, o templo mais venerado pelos cambojanos.
Decidi subir ao topo de um pequeno parque, onde ficava situado o templo. Para atingir o cume, era preciso subir alguns lances de escada, que eram atravessadas por pequenas alamedas, onde era possível caminhar e descansar um pouco nos bancos, apreciando o pôr-do-sol.
Foi quando um animal me chamou a atenção. Não era possível: um macaco me olhava com curiosidade. Saquei de imediato a máquina fotográfica. Ele se assustou, indo se refugiar numa árvore. Fiquei de longe, abrindo o zoom ao máximo, para captá-lo. No início da noite, não rendeu fotos boas.
Estava na Tailândia, jantando com o Matteo, um amigo austríaco que tinha feito na viagem de busão para Sukhotai. Tínhamos já entornado algumas cervejas, mas para meus padrões até que estava ok. O boteco ficava na calçada, junto à rua.
Foi quando o Matteo me chamou a atenção: "Adalberto, tem um elefante atrás de você."
Levei a coisa na brincadeira. Imagina um elefante andando na rua impunemente, dentro da cidade. Tá certo, Sukhotai, com pouco mais de 35 mil habitantes, não é nenhuma metrópole. Mas estávamos bem no centro da cidade.
Incrédulo, olhei para trás e percebi que tinha realmente me excedido muito na cerveja. Também vi um elefante. "Não é possível, um elefante no meio da rua?", me questionei, antes de sacar a máquina novamente. No meu estado etílico, novamente não saiu grande coisa, mas pelo menos prova que isso ocorreu. Era um filhote, conduzido por seu dono.
Não era algo assim tão difícil. No dia seguinte, eu, Matteo e mais dois amigos que havíamos feito no tour daquela tarde, o holandês Marten e o sul-coreano Choi, fomos beber, antes de quase todo mundo pegar o busão para deixar Sukhotai. Só o Marten ficaria mais um dia por lá.
E, no meio da rua, por falta de um, encontramos dois elefantes. A mãe e seu filhote. Desta vez estava sem máquina. O Marten tirou umas fotos. Aguardo que ele as envie a mim (acabou enviando essa foto aí em cima).
Naquela mesma noite, em outra barraquinha na rua, fomos jantar. Foi quando senti algo tocar em meu pé. Não dei importância e só resolvi olhar pouco depois, quando senti uma pressão maior.
Era uma tartaruga, passeando impunemente, pelas ruas de Sukhotai. Pegamos o bichinho, faminto, e fizemos dela nosso mascote. Novas fotos. O Choi quis dar camarão para a tartaruga, mas impedi, dizendo que o bicho era vegetariano. Comeu o resto do arroz frito que havia pedido. A Tailândia foi realmente surpreendente.
terça-feira, 16 de setembro de 2008
O dia em que fui heroi sem ter sido
No dia seguinte, nova caminhada, desta vez de duas horas, ladeira abaixo. Desta vez, o caminho estava ate pior. Havia chovido muito na véspera, e a terra estava bastante escorregadia. Devo ter caído umas quatro ou cinco vezes. Depois de tudo, um rafting pelas corredeiras ate o local onde iríamos almoçar e, de la, partiríamos de volta a Chiang Mai.
Para descermos as corredeiras, dividimos nosso grupo, uma verdadeira babel, em dois botes. No primeiro foram o Raul e a Nuria, um casal de espanhóis, e o Christoph e o Julien, dois franceses. No meu também estavam a Sofia (Argentina), o Frank (EUA) e o Tomi (Croacia).
Em cada grupo havia dois novatos e dois que faziam rafting pela segunda vez em suas vidas (eu incluído). Nosso barco partiu um pouco depois. E, mesmo com dois estreantes, nossa coordenação parecia perfeita.
Tanto e que, em uma manobra um pouco mais arriscada, ultrapassamos o outro grupo. Batemos os remos no alto de berramos junto com o guia: "Good team".
Não sei se foi nossa empatia, mas não se passaram nem cinco minutos, quando pegamos a pior corredeira do caminho.
Ate então o passeio estava divertido. Mas, naquele ponto, surpreendentemente, o bote virou. Estava logo atrás do Tomi, a Sofia vinha ao meu lado. Não vi mais nenhum dos dois.
Em um lampejo, tentei chegar ate o guia que nadava desesperadamente rumo a margem. Cheguei a tocar em seu colete salva-vidas, mas não consegui segura-lo por muito tempo.
A corredeira me levou rio abaixo. Minha única opção era tentar apanhar o bote, que estava de ponta cabeça. Mas a forca da agua fazia essa tarefa parecer impossível.
Desci rio abaixo em um período que pareceram horas, mas foi apenas uns dois ou três minutos. Engoli um pouco de agua, mas o pior era não saber o quão perigoso era o percurso.
O guia tinha dito que havia uma corredeira mais íngreme, e me parecia ser justamente a que eu estava (descobri depois que era mesmo).
Finalmente as águas agitadas acabaram. As duas coxas e os joelhos doíam com o esforço de lutar contra as águas. Tanto que, mesmo no trecho mais brando, ainda demorei um pouco para chegar a margem.
Ao lado, preocupados, estavam o pessoal do outro barco, me aguardando. Com a ajuda de um dos guias, resgatei nossa embarcação e a viramos. Quando meus companheiros de naufrágio chegaram, já estava sentado, tranquilo, no barco.
Ate então, não tinha noticias deles. Após nosso "naufrágio", felizmente, o Frank conseguiu chegar a margem. O Tomi também nadou ate ela e, no caminho, ainda resgatou a Sofia. Só eu havia atravessado a corredeira.
Desesperada com a situação, nossa amiga argentina não queria voltar ao barco. Foi convencida só depois que o guia disse que no caminho por terra havia muitas serpentes.
Quando eles chegaram, estava já sentado no barco, os aguardando. Todos se surpreenderam com minha aparente calma. Acho que meu inglês vagabundo não serviu para convence-los de que minha paura fora imensa.
Parecera que eu fora o único que lutara contra as corredeiras para resgatar o barco. Deixei a lenda rolar. Almoçamos, concluímos o trekking e voltamos nesta van aí em cima para o hotel. Na foto aparecem, da esq. para a dir., Raúl, eu, Frank, Sofia, Julien, Christoph, Tomi e Nuria, toda a turma que estava no rafting.
Demos boas risadas do episódio à noite, em uma cantina italiana. Provei meu primeiro pesto e minha primeira caipirinha em terras orientais. Acho que, após esse acontecimento trash, nasceu uma amizade multicultural.
sábado, 13 de setembro de 2008
Cada um com os seus costumes
A primeira aconteceu ainda em Halong Bay, balneario paradisiaco perto de Hanoi. Estava passeando por uma das formacoes rochosas, quando uma local tentou me impingir algum badulaque. Conversei um pouco com ela e vi seu filho pequeno ao lado. Foi inevitavel passar a mao na cabeca dele.
Ela nao gostou nada. Fechou cara, puxou a crianca e foi embora. Descobri depois que para os vietnamitas (pelo menos para alguns deles), a cabeca e um local sagrado e nao pode ser tocada impunemente.
Essa outra, bem pior, aconteceu ja no Camboja. Estava em Siem Reap no final da tarde, apos mais uma longa caminhada pelo complexo de templos de Angkor.
Tinha tomado uma baixa chuva e molhado toda a minha bermuda. Minhas opcoes para sair na rua eram uma calca jeans (descartada de cara diante do calor local) e um shorts. Pus esse ultimo e sai todo alegre a perambular pelo mercado velho, local onde e farta a oferta de souvenires.
Parei em uma das lojas e resolvi comprar uma camisa do Camboja. Paguei e descobri que tinha virado atracao entre as vendedoras. Muitas delas chegavam perto de mim com saias e diziam para eu experimentar.
No comeco achei que era brincadeira. Mas diante da insistencia e da galhofa geral em relacao a mim, comecei a me irritar. Descobri que para os pudicos costumes locais, so um gay assumido andaria na rua no Camboja de shorts.
Sai de la, mas a coisa havia ficado insuportavel. Por onde passava ouvia as pessoas comentando em seu estranho idioma. Decidi correr para o hotel para por a bermuda molhada mesmo.
De volta ao paraiso
No hotel, em que havia combinado que minha diária incluía o café da manha, me cobraram pela refeição. Paguei mais por estar saturado de discutir do que por ter ficado satisfeito com o serviço oferecido no buraco em que havia me metido. Ainda postarei fotos de la aqui no blog. Disputa com o saudoso New York Inn (lembra dele, Lucchetti?) como o pior hotel em que fiquei na minha vida.
Na saída, mais uma negociação, desta vez com o piloto da tuk-tuk (a moto que puxa espécie de charrete). Ele queria US$ 10 para me levar ao aeroporto. O cara da portaria do hotel tentou me empurrar o seu tuk-tuk por US$ 7, mas nao topei. Bati o pe para o segundo motociclista que pagaria no máximo US$ 5. A contragosto, ele aceitou, após eu ameaçar procurar outra moto. Saiu barato. Mas cansa lutar o dia inteiro para não ser sacaneado nos preços.
A Tailândia, por sua vez, tem sido um alivio. Desembarquei em Bancoc e na hora me deu vontade de ir para uma cidade mais calma. Segui rápido para a Thai Airways e comprei um bilhete para Chiang Mai. Aqui, dei a sorte de me hospedar na Julie Guest House, provavelmente a melhor pousada da cidade. Povo simpático, quarto colorido e alegre, preço absurdamente barato (pagarei uns 350 bahts de diária, algo como US$ 10).
Hoje fui numa feirinha noturna meio hipponga no centro da cidade (uma pena, mas não achei imãs de geladeira, meu souvenir predileto). Me iniciei na culinária tailandesa (que pelo jeito promete ser tão boa quanto a vietnamita).
E, depois da massagem khmer, descobri que em Chiang Mai e ainda mais barato fazer massagem. Hoje contratei duas massagistas para uma legitima massagem tailandesa (sem a sacanagem, hehe) por menos de R$ 6!!!
Amanha parto para um trekking de dois dias no meio do mato, com direito a noite de sono em cabana de bambu, rafting e canoagem.
sexta-feira, 12 de setembro de 2008
Sobre honestidade
A definição se encaixa como uma luva aqui no Camboja. Desde que peguei o táxi no aeroporto de Siem Reap, a impressão que me dá é que todo mundo está pronto para te passar a perna, mesmo que normalmente seja para levar vantagem em migalhas. Vamos aos exemplos.
O cara do hotel me cobra US$ 8 de diária. Ok, é pouco. Mas o hotel, como disse no post aí embaixo, não oferece nenhum luxo. Hoje pela manhã, descobri que o último hóspede que ficou no mesmo quarto que eu, um alemão, pagou US$ 7. Sim, US$ 1 a menos é muito pouco. Migalha.
Pela manhã, queriam me cobrar o café no hotel. Argumentei que ja havia tratado que minha diária incluía o café. Voltaram atras.
Após o café da manhã, contratei um mototaxi para me levar ao Killing Field of Choeung e para o Tuol Sleng Museum. São os dois museus que revelam as atrocidades cometidas pelo Khmer Vermelho. O primeiro foi um campo de extermínio onde morreram ao menos 17.000 pessoas. O segundo era uma escola que foi transformada às pressas em prisão e centro de tortura sob o regime cruel de Pol Pot. Depois dos templos milenares de Siem Reap, queria adentrar a uma história mais contemporânea.
Mas voltando ao assunto que quero tratar aqui, o cara da moto me pediu US$ 15 pelos dois passeios. Aceitou por US$ 10 mesmo. Depois descobri que as motos normalmente fazem o trajeto por US$ 5. E há um tour promovido por uma ONG que cobra US$ 7 para levar não só a esses dois lugares, mas também ao Museu Nacional e ao antigo Palacio Real. Sim, US$ 10 é absurdamente barato, pros padrões brasileiros, para contratar um mototáxi que ficou comigo das 9h30 as 14h40. Mas o sentimento de ser enganado e inevitável.
Na bilheteria do Killing Field of Choeung, o campo de extermínio do Khmer Vermelho, me avisaram que o ingresso era US$ 2. Resolvi pagar em riels, a moeda local (havia feito um câmbio alto e desnecassario, ja que todo mundo aceita dolar). Sabia que o valor era de 8.000 riels (um dolar vale 4.000 riels). Mas para mim houve um ágio, e o valor subiu para 4.200 riels. Nova migalha perdida.
No museu seguinte, fiz o mesmo, paguei em riels. E dessa vez, surpreendentemente , veio o troco certo. Elogiei a honestidade da bilheteira, algo que passei a fazer por aqui sempre que, por exceão, não era sacaneado.
Pequenas desonestidades ja haviam ocorrido em Siem Reap, quando a vendedora de bebidas me cobrou um chá gelado de US$ 1,5 por 8.000 riels (agio de 500 riels, outra migalha). Ou a tuk-tuk (moto que puxa uma especie de charrete, comum por aqui) contratada para três dias por US$ 45. Soube depois, que poderia ter ficado por menos de US$ 30, se tivesse resolvido barganhar.
Por tudo o que escrevi acima, posso parecer estar arrependido de ter incluído o Camboja em minhas férias após estadias fabulosas no Vietnã. Não, sinceramente não. Acho que os três dias perambulando pelos templos de Angkor valeram muito a pena.
Também foi fabuloso ter mergulhado na história contemporânea ao ver de perto a herança de uma das ditaduras mais estúpidas da história humana. É incrível pensar que o mesmo povo que produziu os templos fabulosos de Angkor pode ter gerado um ditador tão sanguinário como Pol Pot. Em pouco mais de três anos no poder, o regime do Khmer Vermelho matou cerca de 1,7 milhão de pessoas.
Phnom Phem, de importante entreposto do sudeste asiático, tornou-se quase uma cidade fantasma, quando o ditador obrigou 3 milhões de pessoas a seguirem para o campo, para o plantio de arroz. A população capital do pais caiu para 40 mil pessoas, a maioria ligada à burocracia pública.
No Killing Field of Choeung há um impressionante memorial às vítimas da ditadura. Nele, uma estante expõe milhares de crânios coletados durante escavações no campo de extermínio. Diante de tanta gente assassinada, é impossível para o país identificar esses corpos.
No Tuol Sleng Museum o que mais impressiona é a história do lugar. Originalmente uma escola, foi transformado na Prisão de Seguranca 21, a temida S-21, sob a ditadura Pol Pot. Lá, chegou-se a matar uma média de cem pessoas por dia. Em uma das alas, há três andares, cada um equipado com salas de tortura (um total de 20 delas!).
Nas outras alas do antigo complexo escolar, há salas e salas transformadas em microcelas, onde o banheiro era uma caixa de excrementos e os presos ficavam amarrados pelo pé a uma grade de ferro para não se moverem, já que as celas eram precárias. Lá também há outra coleção de crânios em exibição (parece que a ditadura tinha predileção por cortar a cabeça de suas vítimas).
Sai desses dois locais tão deprimido com a miséria humana que decidi comprar naquela hora mesmo minha passagem para a Tailândia, último país de meu tour asiático.
Para encerrar esse parêntesis, as casas de massagem (sérias) são outro item que fez o Camboja valer a pena. Por US$ 7 fiz a melhor massagem de uma hora com óleo da minha vida. Por US$ 6, no dia seguinte, consegui recuperar panturrilhas e coxas após dois dias subindo degraus íngremes e irregulares do complexo de Angkor.
Do Camboja conheci tudo o que queria. Aqui, após tudo o que ocorreu e comparado ao que foi o Vietnã, tenho um sentimento de que não quero voltar. Espero que o pais, daqui a alguns anos, me faça mudar de ideia.
quinta-feira, 11 de setembro de 2008
Quem e o genio que indica os hoteis pro Lonely Planet?
Como bom turista descapitalizado, o primeiro item que verifico nos hotéis indicados é o preço. Ok, posso parecer um pouco mão de vaca por querer pagar não mais do que dez doletas por uma diária. Mas, acredite, para os padrões vietnamitas e cambojanos, isso não é nada de mais. Já cheguei a pagar dez doletas em um hotel em Hue que, alem de tudo, tinha cafe da manhã personalizado (você escolhia o prato) e internet livre.
Mas foi em Hoi An que um livrinho sobre o sudeste asiatico e região do Mekong me chamou a atenção. Era exatamente meu roteiro pós-olímpico. Como não pesaria excessivamente na bagagem, comprei por improvaveis 14 mil dongs (R$ 14, em valores brasileiros). Qual não foi a minha surpresa ao descobrir que era um livro pirata! Até no Vietnã se pirateia livros (e em inglês!). Mas acho que a idéia não pegaria no Brasil.
Enfim, desde que estou com o livrinho, tentei duas vezes (em vão) ficar em hotéis que o Lonely Planet indica. Em Nha Trang, por mero acaso, caí em um muito bom, pela bagatela de US$ 15. Em Saigon, não encontrei o hotel indicado. Acabei ficando em outro. Bom, pelos mesmos US$ 15.
Mas no Camboja resolvi radicalizar. Sempre que cheguei a uma cidade por aqui, ja disse de cara ao motorista que tinha reserva em dado hotel, que ja tinha escolhido pelo livrinho.
O primeiro de minha aventura foi em Siem Reap. Era um hoitel sem café da manhã, com lagartixas albinas andando animadamente pelas paredes (uma pena não poder postar, porque tenho foto disso). O lado bom é que a internet era gratuita. Mas era disputada a tapa entre norte-americanos, ingleses, israelenses, alemães e -logico- esse que vos escreve.
Por fim, cheguei hoje a Phnom Phem, que é a capital do glorioso Camboja. Novamente fui pelo livrinho. Desta vez o motorista de tuk-tuk (aqui no Camboja é uma espécie de charrete puxada por uma moto) não conseguia achar o local.
Quando cheguei a essa rua sem saída, onde escrevo em um cyber cafe, não encontrava o hotel. Era necessário passar por um estreito corredor meio alagado pelas chuvas, que não param de cair nesta época no Camboja. No caminho, umas três residências de locais e uma casa de sinuca.
Após outro corredor, esse já meio escuro, recheado de portas que lembravam cabines de navio, cheguei finalmente a uma cozinha. A portraia do hotel ficava no andar de cima. Deixei então minhas pesadas malas no térreo e pus a mão no corrimão da escada. Senti algo frio. Percebi que era outra lagartixa albina. Elas me perseguem.
Na portaria, o atendente me expôs que havia dois tipos de single room, um por US$ 4 e outro por US$ 8. Mas não consegui entender patavinas de qual era a diferenca entre os quartos. Diante do que já vira, achei prudente pagar pelo quarto mais caro.
E, por pouco mais de R$ 14 estou desfrutando de um quarto com duas camas (uma de casal) e ar-condicionado. O banheiro, bem, o banheiro e daqueles tradicionais do Camboja, em que não há box e a ducha alaga toda a extensão do local a cada vez que é ligada. A vantagem é que dá para mijar e escovar os dentes durante o banho. Tudo tem seu lado bom.
Vamos ver o que me aguarda amanhã.
quarta-feira, 10 de setembro de 2008
Em ingles nos entendemos
Apos a cobertura da Olimpiada segui de ferias para Hong Kong com o Ohata, colega da Folha. De la, ja sozinho, viajei para Hanoi. Em seguida, sem roteiro muito bem definido, fui descendo pelo pais, passando por Halong Bay, Hue, Hoi An e Nha Trang ate chegar a Saigon. Em seguida, tomei um voo ate Siem Reap, ja no Camboja. Amanha sigo para Phnom Phem, que e a capital do pais.
Encerro minha jornada asiatica na Tailandia. Ainda com roteiro a definir.
Nao faltaram historias divertidas para contar. Mas, neste periodo, so tive acesso a internet dos PCs dos hoteis em que fiquei. Dois problemas surgiram para atualizar o blog. O primeiro, e obvio, e a absoluta falta de acentos nos terminais asiaticos. Nossa lingua e mesmo estranha por essas paragens. O segundo, e isso e uma pena, e a impossibilidade de anexar as fotos que vou fazendo pelo caminho. Outro fato a se lamentar, ja que pelas minhas ultimas contas (que fiz ainda no Vietna), ja foram umas 2.500 imagens.
Mas vamos a um causo divertido que ocorreu na segunda, ultimo dia meu no Vietna. Peguei um taxi ate o aeroporto e minha preocupacao era nao ser engabelado pelo taxista. Em Hanoi cheguei a pagar absurdos 60 mil dongs (algo como R$ 60) por uma corrida que em Sao Paulo nao passaria de uns R$ 20.
Durante o caminho, abri o livrinho da Lonely Planet sobre o pais, que havia comprado dias antes, para mostrar que estava atento a possiveis desvios de rota para aumentar o valor da corrida (como se fosse um as das ruas da Saigon!).
O taxista percebeu, e, de pronto, me indicou um onibus que seguia logo a nossa frente. Mostrou que a plaquinha indicava que ia para o aeroporto. Conferi no guia, e realmente era o nome do aeroporto (nao me pecam para lembrar agora, de cabeca!). Respondi que estava so conferindo os hoteis da minha proxima estadia. Percebi que o taxista pouco havia entendido ou nao compreendera patavina.
Resolvi entao imitar o sotaque de ingles macarronico dos vietnamitas que havia ouvido durante toda a viagem, iniciando um papo non sense. "I like veri muti Vietna. Veri biutiful pipou." O motorista aquiesceu com a cabeca.
Pensei entao em ir alem, para ver o que o cara iria achar. "Pipou a lori of friendili." Mais uma acenada afirmativa. Apelei: "Andi de gueurls? Fantastic gueurls." Ele sorriu em sinal de aprovacao.
Como meu papo o divertia, resolvi contar um fato curioso que havia acontecido comigo na vespera, em minha ultima noite no Vietna. A melhor coisa que poderia fazer era ficar amigo do taxista, afinal diminuiria a chance de ser achacado novamente, ne?
"Iesterdei, ai uas comi bequi to the hotel uif a friendi ofi maine, a suitzerland, do iu know? Then, a traveco (aqui nao sabia dizer o equivalente em ingles, mas acho que isso nao fez muita diferenca para o motorista) stopped his motorcaicou and offer to me and mai friendi a chupeta (e, meu ingles nao chega a tal grau de refinamento, mas isso pouco importava no momento).
Resolvi entao fechar a historia com chave de ouro, apelando para um coloquial: E eu tenho cara de quem gosta de traveco? Saiu algo como: "Andi ai heve a face who like travecos?" Foi quando o sacana do taxista virou para mim e fez um sinal afirmativo.
Chegamos no aeroporto internacional de Saigon (ou Ho Chi Minh, para as reparticoes oficiais) e ele me mostrou o taximetro em 10.500 dongs. Quis cobrar tambem mais 500 dongs por ter levado minhas duas pesadas malas. Eram R$ 11. Haviam me avisado que uma corrida ate o aeroporto ficaria em R$ 10. Estava de bom tamanho. Paguei sem pestanejar.
Segui adiante. Mas fiquei na duvida se o taxista concordou que nao tenho cara de quem gosta de traveco ou se quis dizer que eu tinha toda a pinta de quem curtia um corpo de mulher provido de pipi.
domingo, 24 de agosto de 2008
Fim de Olimpíada
É uma sensação maravilhosa terminar uma Olimpíada. No meu caso, a segunda. Mas, sinceramente, não me lembro muito bem dos detalhes de como foi em Atenas. Só lembro que saímos muito tarde do MPC. Tirei umas duas das três ou quatro fotos que fiz durante a Olimpíada inteira e terminamos a noite na Ratoeira, local próximo à Media Village, onde sempre íamos jantar porque fechava bem tarde.
Em inglês nos entendemos
Após a cobertura da Olimpíada segui de ferias para Hong Kong com o Ohata, colega da Folha. De la, já sozinho, viajei para Hanói. Em seguida, sem roteiro muito bem definido, fui descendo pelo pais, passando por Halong Bay, Hue, Hoi An e Nha Trang ate chegar a Saigon. Em seguida, tomei um vôo ate Siem Reap, já no Camboja. Amanha sigo para Phnom Phem, que e a capital do pais. Encerro minha jornada asiática na Tailândia. Ainda com roteiro a definir. Não faltaram historias divertidas para contar.
Mas, neste período, só tive acesso a internet dos PCs dos hotéis em que fiquei. Dois problemas surgiram para atualizar o blog. O primeiro, e óbvio, e a absoluta falta de acentos nos terminais asiáticos. Nossa língua e mesmo estranha por essas paragens. O segundo, e isso e uma pena, e a impossibilidade de anexar as fotos que vou fazendo pelo caminho. Outro fato a se lamentar, já que pelas minhas ultimas contas (que fiz ainda no Vietnã), já foram umas 2.500 imagens.
Mas vamos a um causo divertido que ocorreu na segunda, ultimo dia meu no Vietnã. Peguei um
táxi ate o aeroporto e minha preocupação era não ser engambelado pelo taxista. Em Hanói cheguei a pagar absurdos 60 mil dongs (algo como R$ 60) por uma corrida que em São Paulo não passaria de uns R$ 20.
Durante o caminho, abri o livrinho da Lonely Planet sobre o pais, que havia comprado dias antes, para mostrar que estava atento a possíveis desvios de rota para aumentar o valor da corrida (como se fosse um as das ruas da Saigon!).
O taxista percebeu, e, de pronto, me indicou um ônibus que seguia logo a nossa frente. Mostrou que a plaquinha indicava que ia para o aeroporto. Conferi no guia, e realmente era o nome do aeroporto (não me pecam para lembrar agora, de cabeça!).
Respondi que estava só conferindo os hotéis da minha próxima estadia. Percebi que o taxista pouco havia entendido ou não compreendera patavina. Resolvi então imitar o sotaque de inglês macarrônico que havia ouvido durante toda a viagem, iniciando um papo non sense.
‘I like veri muti Vietnã. Veri biutiful pipou.‘ O motorista aquiesceu com a cabeça.
Pensei então em ir alem, para ver o que o cara iria achar. ‘Pipou a lori of friendili.‘ Mais uma acenada afirmativa. Apelei: ‘Andi de gueurls? Fantastic gueurls.‘ Ele sorriu em sinal de aprovação.
Como meu papo o divertia, resolvi contar um fato curioso que havia acontecido comigo na véspera, em minha ultima noite no Vietnã. A melhor coisa que poderia fazer era ficar amigo do taxista, afinal diminuiria a chance de ser achacado novamente, nê?
‘Iesterdei, ai uas uif a friendi ofi maine, a suitzerland, do iu know? Then, a traveco (aqui não sabia dizer o equivalente em inglês, mas acho que isso não fez muita diferença para o motorista) stopped his motorçaicou and offer to me and mai friendi a chupeta (e, meu inglês não chega a tal grau de refinamento, mas isso pouco importava no momento).
Resolvi então fechar a historia com chave de ouro, apelando para um coloquial: E eu tenho cara de quem gosta de traveco? Saiu algo como: ‘Andi ai have a face who like travecos?‘ Foi quando o sacana do taxista virou para mim e fez um sinal afirmativo.
Chegamos no aeroporto internacional de Saigon (ou Ho Chi Minh, para as repartições oficiais) e ele me mostrou o taxímetro em 10.500 dongs. Quis cobrar também mais 500 dongs por ter levado minhas duas pesadas malas. Eram R$ 11. Haviam me avisado que uma corrida ate o aeroporto ficaria em R$ 10. Estava de bom tamanho. Paguei sem pestanejar.
Segui adiante. Mas fiquei na duvida se o taxista concordou que não tenho cara de quem gosta de traveco ou se quis dizer que eu tinha toda a pinta de quem curtia um corpo de mulher provida de pipi.
sábado, 23 de agosto de 2008
Imagem é tudo
sexta-feira, 22 de agosto de 2008
Façam suas apostas
Antes do início da Olimpíada, o Paulo Cobos, colega da Folha, pediu para eu fazer um exercício de adivinhação e apontasse os campeões olímpicos do atletismo em Pequim. O material entrou em uma revista especial sobre a Olimpíada. Cada especialista em sua área na editoria de Esporte fez o mesmo. Como em tudo em jornal, o pedido era para ontem. Tive pouco mais de uma hora para examinar rankings, pódios dos últimos Mundiais indoor e outdoor, e performances na temporada antes de apontar os prováveis 47 campeões do esporte-base da Olimpíada.
Faltando três dias para o encerramento das competições, e considerando que algumas apostas minhas nem estarão na final de suas respectivas provas, meu placar, por ora, é de 12 acertos e 24 erros (33% de aproveitamento).
Alguns palpites óbvios há um mês e meio hoje soam como bizarros. É o caso dos 100 m. Apontei Tyson Gay como campeão. Ele acabara de cravar 9s68 nas seletivas norte-americanas, o mais rápido homem do planeta a cumprir a distância até hoje. O recorde só não foi oficializado porque ele contou com a ajuda de um vento de 4 m/s.
Campeão mundial dos 100 m, 200 m e 4 x 100 m, Gay parecia uma boa aposta, apesar da forte concorrência jamaicana (de Usain Bolt, aí com a medalha de ouro dos 200 m, ouvindo o "Parabéns pra você" sendo entoado no estádio). Uma lesão no tendão-de-aquiles, porém, jogou água nas minhas esperanças com Gay nos 100 m e 4 x 100 m, na qual Gay foi responsável pela eliminação EUA ao se confundir na troca de bastão.
Brad Walker parecia um bom palpite no salto com vara. Com boas marcas no ano, o norte-americano foi vítima de sua empáfia. Quis saltar direto 5,65 m, marca para a classificação direta às finais. Errou todas as tentativas e foi eliminado.
Não, sinceramente não sei que tipo de loucura me fez apontar Josephine Onyia como vencedora dos 100 m com barreiras. A fraquíssima espanhola ficou em quinto lugar em sua semifinal. Pior foi ter chutado em uma desconhecida chinesa, Yingying Zhang, como primeira colocada da maratona. Tudo bem que pouca gente acertaria em outra anônima, a romena Constantina Tomescu, como campeã. O problema é que Zhang nem se classificou para Pequim.
Outros foram atropelados pelas circunstâncias, como ter apostado no então campeão olímpico e ex-recordista mundial, Liu Xiang, como vencedor dos 110 m com barreiras. O chinês desistiu logo na primeira eliminatória por causa de lesão. Sem ele na pista, a vitória ficou de lambuja para o cubano Dayron Robles (aí em cima, vencendo a prova), atual recordista mundial. Pois é, foi o segundo recordista mundial que desprezei (depois de Usain Bolt nos 100 m) e me dei mal.
Duas das minhas escolhidas ao menos foram para a final. Mas as norte-americanas Torri Edwards (200 m) e Tiffany Ross-Williams (400 m com barreiras) terminaram em último lugar.
Uma certa solidariedade latino-americana me fez colocar a cubana Yipsi Moreno como vencedora no arremesso de martelo e o equatoriano Jefferson Perez como campeão da marcha de 20 km. Os dois ao menos pegaram a prata.
Agora mais surpreendente do que os erros, foram os acertos. Acreditava conhecer melhor as provas de pista e saltos, nas quais os brasileiros costumam se destacar de vez em quando. O placar de resultados até aqui me desmente. Surprendentemente, sou um ás nas provas de arremesso, com aproveitamento de 57%. E um fiasco total na pista (29%) e no campo (33%).
Não, não me considerem um Nostradamus porque previ coisas como as vitórias da bela Olga Kaniskina (marcha de 20 km), Barbora Spotakova (arremesso de dardo) ou Primo Kozmus (arremesso de martelo). Nem sei como fiz aquilo.
Tudo isso me fez ficar mais empolgado com a cobertura do atletismo olímpico. Afinal, de outra forma, como é que eu iria vibrar, para espanto de meus colegas na tribuna de imprensa do Ninho de Pássaro, com o triunfo do estoniano Gerd Kanter no arremesso de disco?
quinta-feira, 21 de agosto de 2008
Recorde de velocidade e resistência
Na pista, Usain Bolt festejava o título dos 200 m com o novo recorde mundial: 19s31, corrigidos para 19s30 no cronômetro digital do estádio instantes depois. Fora dela eu colhia esse flagrante aí de cima (é, até que não sou tão mal fotógrafo). Alucinado com o feito do jamaicano, mandei um FODEU bem grande para todo mundo que falava comigo no MSN naquele momento. Acho que eram umas três pessoas e aproveito para me desculpar se tivesse uma mulher entre elas, o que já não me lembro.
Minha jornada ontem começou às 6h30, depois de dormir pouco mais de duas horas. Acordei para seguir para a cobertura da maratona aquática. O local da prova era o mesmo onde acontecem as competições de canoagem e remo. Havia passado por lá e sabia que o local era absurdamente longe. Foram uns 20 minutos no busão da Media Village que leva até o MPC (centro de imprensa dos Jogos). De lá, mais cerca de 1h10min para a arena de canoagem e remo.
No busão encontrei outros companheiros de infortúnio: Bruno Doro (UOL), Casinha (Terra) e Plínio (Lance!). Dormimos quase a viagem inteira, o que fez o Bruno comentar, com razão, que a impressão era que a viagem tinha durado só cinco minutos.
As brasileiras até que deram alguma emoção à prova, disputando o terceiro lugar nos últimos metros dos 10 km da maratona aquática. Mas, no final, como tem acontecido em outras competições, ficaram para trás. Ana Marcela Cunha, líder do ranking mundial, foi a quinta colocada. Poliana Okimoto, vice-campeça mundial dos 5 km e 10 km há dois anos, terminou em sétimo.
Mandei rapidamente os textos para a Folha. Por conta daquelas maravilhas do fuso horário, a prova terminava em cima da lata de nossa edição São Paulo. Dali, corremos para o busão de volta para o MPC (se perdêssemos aquele, teríamos que esperar mais uma hora pelo próximo). Cheguei, almocei e fui tirar um cochilo em um dos sofás do centro de imprensa. Esses locais são disputadíssimos. Ainda farei outro texto a esse respeito.
À tarde, segui para o Ninho de Pássaro. Haveria coletiva da Iaaf (Associação Internacional das Federações de Atletismo). A presença de astros das pistas, como Michael Johnson (então recordista dos 200 m), Mike Powell (recordista do salto em distância) e Wilson Kipketer (recordista dos 800 m) renderia, com certeza, boas aspas.
Johnson fez vasta análise sobre sua prova e declarou que Usain Bolt teria todas as condições de quebrar o seu recorde. "É precipitado dizer que ele irá cair hoje. Mas acho que poderei dizer adeus a ele [o recorde] em breve", brincou.
De lá segui para as tribunas, onde começariam as competições. Na pauta, relato dos brasileiros nos 800 m (Fabiano Peçanha e Kleberson Davide) e salto com vara (Fábio Gomes da Silva), apresentação das finais do salto triplo (Jadel Gregório) e das eliminatórias do 4 x 100 m (com o Brasil na pista no masculino e feminino). De internacional, a final dos 200 m, com a provável vitória de Bolt, e apresentação dos 110 m com barreiras, a prova em que o povo chinês ficou órfão, com a lesão e desistência de Liu Xiang, seu maior ídolo nas pistas.
É, o dia ainda seria carregado. Mas não fazia a menor idéia de quanto. A expectativa pelo novo recorde nos 200 m era tão pequena que a disputa final nem fecharia a jornada no Ninho de Pássaro. Os 400 m com barreiras feminino seria a prova de encerramento. Prova, aliás, totalmente esvaziada diante do feito de Bolt, 19s30 após o tiro de partida.
Na zona mista a confusão era imensa. Repórteres de todos os cantos do planeta se acotovelavam para pegar uma declaraçãozinnha que fosse de algum coadjutantes da final, como Kim Collins, Churandy Martina, Christian Malcolm ou Brian Dzingai, com quase o mesmo ímpeto de esfomeados de Darfur atrás de ajuda humanitária.
Quem passasse por lá, com qualquer indício que fosse jamaicano, seja jornalista, parente de atleta ou médico da delegação, virava celebridade instantânea e era logo cercado. Muitos coleguinhas não sabiam nem quem eram os entrevistados e se aboletavam com o gravador digital à mão para colher aspas. Depois perguntavam.
Bolt chegou à coletiva por volta de 0h30. O resultado da prova já havia sido alterado duas vezes, com a desclassificação do norte-americano Wallace Spearmon e do antilhano Martina. A entrevista, felizmente, não demorou para acabar. Bolt brincou e deu boas aspas, para a alegria dos coleguinhas. Revelou, por exemplo, um desejo adolescente: depois da façanha sua maior vontade era comer vários nuggets.
De lá, rumar para o centro de imprensa para vender o que tinha para a chefia. Não me lembro ao certo agora quantas retrancas mandei. Foram várias. Felizmente tinha me preparado para a catástrofe, embora, no íntimo não acreditasse que ela pudesse acontecer. O recorde dos 200 m (19s32), na minha modesta avaliação, era muito forte. E ninguém, afora Michael Johnson, havia corrido a distância em menos de 19s62. O melhor tempo de Bolt, até então, era 19s67.
Comecei a bater as retrancas ensandecidamente. Na bancada ainda estavam por aqui Bruno Doro e Casinha, companheiros da jornada matutina. O Seixas ainda discutia com São Paulo tamanhos para quinta e pauta para sexta. Na bancada do lado de lá estavam Ivan Drummond (Estado de Minas), Jorge (O Globo) e Luizinho (Correio Braziliense). Afora a imprensa brazuca, só restava um jornalista jamaicano, trajado com a jaqueta do país.
Tomei um Red Bull, que infelizmente na China não tem o mesmo efeito do que o brasileiro. Estava com muito sono, mas pouco a pouco a sensação de cansaço diminuiu. Já não havia ninguém na minha bancada. Na de lá, restavam o Jorge e o Luizinho. Ainda faltava minhas duas últimas retrancas, um box histórico e um ping, e pouco depois não vi mais nenhum dos coleguinhas brazucas.
Mandei a última retranca por volta das 6h10 daqui. O incrível era que eram 19h10 do Brasil e nosso fechamento normalmente é às 19h30. Ou seja, com um fuso 11 horas favorável, quase atrasei São Paulo! Olhei para os lados e o único sobrevivente da longa jornada madrugada adentro era o jamaicano. Acho que para esse cara, o feito de Bolt realmente era bem mais importante do que para a imprensa nacional.
Desarmei o acampamento e peguei minhas duas mochilas. Normalmente carrego duas aqui, uma com laptop e outra com demais tralhas (jaqueta, ipod, gravador e máquina fotográfica digital, canetas, bloquinho, medias guides). Tem sido a solução distribuir para o peso, já que tenho dores lombares de vez em quando.
Lá fora, uma fina garoa caía. Estava sem guarda-chuva, mas apertei a tecla F. O que mais poderia acontecer? O busão da 6h30 ainda demorou um pouco para chegar. Subi nele e desabei. Na chegada à Media Village, a chuva havia aumentado de intensidade.
Cheguei ao prédio C1, apartamento 1208, quarto B, completamente ensopado. Fedia o suor de um dia inteiro de trabalho. Me sentia como se tivesse paticipado de uma corrida de aventura. Fui para o chuveiro. Foi um dos melhores banhos da minha vida.
Meu recorde anterior de trabalho havia sido de 21 horas, ocorrido em uma sexta-feira em que fui fazer uma pauta às 9h e fiquei no pescoção até as 6h de sábado. Na manhã de hoje completei 24 horas seguidas. Acho uma marca forte. Assim como a de Michael Johnson nos 200 m, tão cedo não será batida. Me sentia tão recordista quanto Usain Bolt. Agora quero devorar os meus nuggets.
quarta-feira, 20 de agosto de 2008
Sobre varas e choros
Anteontem, foi a vez da campineira, que perdeu a vara com a qual saltaria 4,55 m e 4,65 m. Desconcentrada e sem o material adequado, acabou falhando e sendo eliminada da prova.
Ela deixou a zona mista dizendo que nunca mais competiria na China. Seu técnico, Elson Miranda afirmou que tentaria demovê-la dessa idéia. Mas o que Fabiana não esperava foi o que ocorreu em seu embarque de volta ao país, ontem.
A saltadora foi abordada por uma equipe de TV chinesa. Como é de praxe, os profissionais da imprensa oficialesca local estavam atrás de recolher aspinhas bacanas e elogiosas ao país e à Olimpíada.
Chateada e com longas 26 horas de viagem pela frente, Fabiana ainda teve que ouvir perguntas como: "O que você mais gostou na China?" e "Como foi a sua performance?"
Ontem foi a cerimônia de premiação do salto com vara no estádio Ninho de Pássaro. No alto do pódio, a recordista mundial Yelena Isinbayeva (5,05 m), amiga e companheira de treinos de Fabiana. Emocionada com o bicampeonato olímpico, chorou copiosamente, como pode ser visto aí em cima, que tirei a partir da TV do estádio (o pódio estava muito distante para uma boa foto).
Mas porque estou postando uma foto da russinha pela segunda vez por aqui? Oras, alguém teria coragem de reclamar de mais uma foto da Isinbayeva?
segunda-feira, 18 de agosto de 2008
Entrevista coletiva
Desde a ascensão fulminante da primeira, após o ouro na Olimpíada de Atenas, em 2004, Feofanova foi gradativamente perdendo espaço. Nunca mais ganhou uma competição importante (Mundial ou Olimpíada) nem esteve mais no topo das listas de melhores marcas da temporada no salto com vara.
Por isso, foi no mínimo deselegante a pergunta feita pelo jornalista indiano: "Feofanova, você não tem orgulho de ter uma compatriota tão boa como a Isinbayeva em sua prova?"Constrangida, Feofanova foi obrigada a dizer que sim, para salvar as aparências.
As coletivas em Pequim têm sido um capítulo à parte. Perguntas esdrúxulas aparecem a toda hora. No início dos Jogos, durante entrevista do presidente do Comitê Olímpico Internacional, Jacques Rogge, havia vários assuntos importantes em pauta na época: poluição, censura na internet, reclamações generalizadas. A importância do evento era que seria a primeira entrevista de Rogge em Pequim, com todos esses problemas na pauta dos principais jornais do mundo.
Para certo jornalista, porém, a francofonia era mais importante do que qualquer questão irrelevante sobre liberdade de imprensa ou aquecimento global e tascou:
"Gostaria de saber do sr. Rogge como o sr. acha que está sendo tratada a língua francesa na Olimpíada de Pequim?"
Rogge, que vinha sendo massacrado pela imprensa ocidental, pareceu aliviado. Engatou um longo discurso, em francês, sobre a contribuição do país na constituição do COI. Lembrou do Barão de Coubertin. Foram preciosos minutos gastos com tal bobagem (a coletiva era de uma hora cronometrada).
Um jornalista qatari-nacionalista, enfurecido, questionou o dirigente sobre a eliminação do Qatar da disputa pelos Jogos de 2016. "O COI disse que Doha não poderia ser sede dos Jogos porque era muito quente. Mas Pequim é tão quente quanto Doha e vai ser sede da Olimpíada." Detalhe, a tal eliminação já ocorreu há alguns meses.
Dias depois, o Bocog (Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos de Pequim, na sigla em inglês) convocou uma coletiva para falar sobre a poluição do ar. Quem disse que os chineses não são democráticos para expor abertamente seus problemas?, pensei comigo. Cheguei cedo à sala de coletiva e qual não foi a minha surpresa ao encontrar um evento em chinês, sem tradução. A imprensa oficialesca, acredito eu, se deliciava, em volta dos responsáveis pelo milagre atmosférico ocorrido na cidade. Mas não posso garantir isso. Nos cinco minutos, atônito, que fiquei lá tentando descobrir onde estavam os tradutores, não consegui entender nada.
Outra que tive que ouvir aconteceu na entrevista coletiva do presidente da Wada (Agência Mundial Antidoping), John Fahey. Um jornalista de algum país da América Central (Honduras, Guatemala, não me lembro bem) perguntou sobre o doping de alguma atleta local irrelevante. Educadamente, o dirigente disse que desconhecia o caso.
Há alguns dias, fui na coletiva do César Cielo, na Casa Brasil, local montado pelo COB para ajudar na campanha pelo Rio-2016. Com o auditório tomado por repórteres, fotógrafos e cinegrafistas, a primeira pergunta foi de um repórter de TV: "Aqui é o fulano, da TV Limeira e gostaria que você mandasse um abraço para o povo de Santa Bárbara", pediu o sujeito.
Entre os repórteres já se tornou piada que tipo de perguntas irrelevantes ou trocadilhescas vamos fazer nas próximas coletivas. No vôlei de praia, fiquei seriamente tentado a perguntar para a australiana Natalie Cook se ela gostava de cozinhar. De preferência em português para a voluntária pagar o mico de ter que traduzir.
Neste momento estou indo para o vôlei de praia fazer a semifinnal entre Renata/Talita e Walsh/May-Treanor. A tentação de perguntar para a Walsh se ela gosta de lavar roupa é muito grande.
domingo, 17 de agosto de 2008
Qualquer coisa é possível
Voa, Bolt, voa
Há quatro anos, em Atenas, não tinha máquina digital e nem me arrisquei a tentar fotografar a chegada. Neste ano, com uma Canon de 8.0 megapixels e zoom ótico de 4x, resolvi arriscar.
O resultado é esse fiasco aí de cima. Tão vergonhoso quanto a eliminação de Tyson Gay nas semifinais e o desempenho pífio de Asafa Powell, pela segunda Olimpíada seguida quinto colocado na final.
Como desculpa, tenho a dizer que estava longe da chegada, no terceiro anel da arquibancada. E o jamaicano realmente foi rápido: 6s69. O primeiro homem a quebrar a barreira dos 9s70 nos 100 m. E pensar que há menos de dez anos o homem não tinha ainda ultrapassado a barreira dos 9s80.