Antes do início da Olimpíada, o Paulo Cobos, colega da Folha, pediu para eu fazer um exercício de adivinhação e apontasse os campeões olímpicos do atletismo em Pequim. O material entrou em uma revista especial sobre a Olimpíada. Cada especialista em sua área na editoria de Esporte fez o mesmo. Como em tudo em jornal, o pedido era para ontem. Tive pouco mais de uma hora para examinar rankings, pódios dos últimos Mundiais indoor e outdoor, e performances na temporada antes de apontar os prováveis 47 campeões do esporte-base da Olimpíada.
Faltando três dias para o encerramento das competições, e considerando que algumas apostas minhas nem estarão na final de suas respectivas provas, meu placar, por ora, é de 12 acertos e 24 erros (33% de aproveitamento).
Alguns palpites óbvios há um mês e meio hoje soam como bizarros. É o caso dos 100 m. Apontei Tyson Gay como campeão. Ele acabara de cravar 9s68 nas seletivas norte-americanas, o mais rápido homem do planeta a cumprir a distância até hoje. O recorde só não foi oficializado porque ele contou com a ajuda de um vento de 4 m/s.
Campeão mundial dos 100 m, 200 m e 4 x 100 m, Gay parecia uma boa aposta, apesar da forte concorrência jamaicana (de Usain Bolt, aí com a medalha de ouro dos 200 m, ouvindo o "Parabéns pra você" sendo entoado no estádio). Uma lesão no tendão-de-aquiles, porém, jogou água nas minhas esperanças com Gay nos 100 m e 4 x 100 m, na qual Gay foi responsável pela eliminação EUA ao se confundir na troca de bastão.
Brad Walker parecia um bom palpite no salto com vara. Com boas marcas no ano, o norte-americano foi vítima de sua empáfia. Quis saltar direto 5,65 m, marca para a classificação direta às finais. Errou todas as tentativas e foi eliminado.
Não, sinceramente não sei que tipo de loucura me fez apontar Josephine Onyia como vencedora dos 100 m com barreiras. A fraquíssima espanhola ficou em quinto lugar em sua semifinal. Pior foi ter chutado em uma desconhecida chinesa, Yingying Zhang, como primeira colocada da maratona. Tudo bem que pouca gente acertaria em outra anônima, a romena Constantina Tomescu, como campeã. O problema é que Zhang nem se classificou para Pequim.
Outros foram atropelados pelas circunstâncias, como ter apostado no então campeão olímpico e ex-recordista mundial, Liu Xiang, como vencedor dos 110 m com barreiras. O chinês desistiu logo na primeira eliminatória por causa de lesão. Sem ele na pista, a vitória ficou de lambuja para o cubano Dayron Robles (aí em cima, vencendo a prova), atual recordista mundial. Pois é, foi o segundo recordista mundial que desprezei (depois de Usain Bolt nos 100 m) e me dei mal.
Duas das minhas escolhidas ao menos foram para a final. Mas as norte-americanas Torri Edwards (200 m) e Tiffany Ross-Williams (400 m com barreiras) terminaram em último lugar.
Uma certa solidariedade latino-americana me fez colocar a cubana Yipsi Moreno como vencedora no arremesso de martelo e o equatoriano Jefferson Perez como campeão da marcha de 20 km. Os dois ao menos pegaram a prata.
Agora mais surpreendente do que os erros, foram os acertos. Acreditava conhecer melhor as provas de pista e saltos, nas quais os brasileiros costumam se destacar de vez em quando. O placar de resultados até aqui me desmente. Surprendentemente, sou um ás nas provas de arremesso, com aproveitamento de 57%. E um fiasco total na pista (29%) e no campo (33%).
Não, não me considerem um Nostradamus porque previ coisas como as vitórias da bela Olga Kaniskina (marcha de 20 km), Barbora Spotakova (arremesso de dardo) ou Primo Kozmus (arremesso de martelo). Nem sei como fiz aquilo.
Tudo isso me fez ficar mais empolgado com a cobertura do atletismo olímpico. Afinal, de outra forma, como é que eu iria vibrar, para espanto de meus colegas na tribuna de imprensa do Ninho de Pássaro, com o triunfo do estoniano Gerd Kanter no arremesso de disco?
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