Rolava a coletiva da Yelena Isinbayeva, com a presença da Svetlana Feofanova, medalha de bronze ontem. Qualquer pessoa minimamente informada sabe que as duas não se bicam. Eram rivais no início dos anos 2000, quando disputavam o alto do pódio e uma batia o recorde mundial da outra.
Desde a ascensão fulminante da primeira, após o ouro na Olimpíada de Atenas, em 2004, Feofanova foi gradativamente perdendo espaço. Nunca mais ganhou uma competição importante (Mundial ou Olimpíada) nem esteve mais no topo das listas de melhores marcas da temporada no salto com vara.
Por isso, foi no mínimo deselegante a pergunta feita pelo jornalista indiano: "Feofanova, você não tem orgulho de ter uma compatriota tão boa como a Isinbayeva em sua prova?"Constrangida, Feofanova foi obrigada a dizer que sim, para salvar as aparências.
As coletivas em Pequim têm sido um capítulo à parte. Perguntas esdrúxulas aparecem a toda hora. No início dos Jogos, durante entrevista do presidente do Comitê Olímpico Internacional, Jacques Rogge, havia vários assuntos importantes em pauta na época: poluição, censura na internet, reclamações generalizadas. A importância do evento era que seria a primeira entrevista de Rogge em Pequim, com todos esses problemas na pauta dos principais jornais do mundo.
Para certo jornalista, porém, a francofonia era mais importante do que qualquer questão irrelevante sobre liberdade de imprensa ou aquecimento global e tascou:
"Gostaria de saber do sr. Rogge como o sr. acha que está sendo tratada a língua francesa na Olimpíada de Pequim?"
Rogge, que vinha sendo massacrado pela imprensa ocidental, pareceu aliviado. Engatou um longo discurso, em francês, sobre a contribuição do país na constituição do COI. Lembrou do Barão de Coubertin. Foram preciosos minutos gastos com tal bobagem (a coletiva era de uma hora cronometrada).
Um jornalista qatari-nacionalista, enfurecido, questionou o dirigente sobre a eliminação do Qatar da disputa pelos Jogos de 2016. "O COI disse que Doha não poderia ser sede dos Jogos porque era muito quente. Mas Pequim é tão quente quanto Doha e vai ser sede da Olimpíada." Detalhe, a tal eliminação já ocorreu há alguns meses.
Dias depois, o Bocog (Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos de Pequim, na sigla em inglês) convocou uma coletiva para falar sobre a poluição do ar. Quem disse que os chineses não são democráticos para expor abertamente seus problemas?, pensei comigo. Cheguei cedo à sala de coletiva e qual não foi a minha surpresa ao encontrar um evento em chinês, sem tradução. A imprensa oficialesca, acredito eu, se deliciava, em volta dos responsáveis pelo milagre atmosférico ocorrido na cidade. Mas não posso garantir isso. Nos cinco minutos, atônito, que fiquei lá tentando descobrir onde estavam os tradutores, não consegui entender nada.
Outra que tive que ouvir aconteceu na entrevista coletiva do presidente da Wada (Agência Mundial Antidoping), John Fahey. Um jornalista de algum país da América Central (Honduras, Guatemala, não me lembro bem) perguntou sobre o doping de alguma atleta local irrelevante. Educadamente, o dirigente disse que desconhecia o caso.
Há alguns dias, fui na coletiva do César Cielo, na Casa Brasil, local montado pelo COB para ajudar na campanha pelo Rio-2016. Com o auditório tomado por repórteres, fotógrafos e cinegrafistas, a primeira pergunta foi de um repórter de TV: "Aqui é o fulano, da TV Limeira e gostaria que você mandasse um abraço para o povo de Santa Bárbara", pediu o sujeito.
Entre os repórteres já se tornou piada que tipo de perguntas irrelevantes ou trocadilhescas vamos fazer nas próximas coletivas. No vôlei de praia, fiquei seriamente tentado a perguntar para a australiana Natalie Cook se ela gostava de cozinhar. De preferência em português para a voluntária pagar o mico de ter que traduzir.
Neste momento estou indo para o vôlei de praia fazer a semifinnal entre Renata/Talita e Walsh/May-Treanor. A tentação de perguntar para a Walsh se ela gosta de lavar roupa é muito grande.
Desde a ascensão fulminante da primeira, após o ouro na Olimpíada de Atenas, em 2004, Feofanova foi gradativamente perdendo espaço. Nunca mais ganhou uma competição importante (Mundial ou Olimpíada) nem esteve mais no topo das listas de melhores marcas da temporada no salto com vara.
Por isso, foi no mínimo deselegante a pergunta feita pelo jornalista indiano: "Feofanova, você não tem orgulho de ter uma compatriota tão boa como a Isinbayeva em sua prova?"Constrangida, Feofanova foi obrigada a dizer que sim, para salvar as aparências.
As coletivas em Pequim têm sido um capítulo à parte. Perguntas esdrúxulas aparecem a toda hora. No início dos Jogos, durante entrevista do presidente do Comitê Olímpico Internacional, Jacques Rogge, havia vários assuntos importantes em pauta na época: poluição, censura na internet, reclamações generalizadas. A importância do evento era que seria a primeira entrevista de Rogge em Pequim, com todos esses problemas na pauta dos principais jornais do mundo.
Para certo jornalista, porém, a francofonia era mais importante do que qualquer questão irrelevante sobre liberdade de imprensa ou aquecimento global e tascou:
"Gostaria de saber do sr. Rogge como o sr. acha que está sendo tratada a língua francesa na Olimpíada de Pequim?"
Rogge, que vinha sendo massacrado pela imprensa ocidental, pareceu aliviado. Engatou um longo discurso, em francês, sobre a contribuição do país na constituição do COI. Lembrou do Barão de Coubertin. Foram preciosos minutos gastos com tal bobagem (a coletiva era de uma hora cronometrada).
Um jornalista qatari-nacionalista, enfurecido, questionou o dirigente sobre a eliminação do Qatar da disputa pelos Jogos de 2016. "O COI disse que Doha não poderia ser sede dos Jogos porque era muito quente. Mas Pequim é tão quente quanto Doha e vai ser sede da Olimpíada." Detalhe, a tal eliminação já ocorreu há alguns meses.
Dias depois, o Bocog (Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos de Pequim, na sigla em inglês) convocou uma coletiva para falar sobre a poluição do ar. Quem disse que os chineses não são democráticos para expor abertamente seus problemas?, pensei comigo. Cheguei cedo à sala de coletiva e qual não foi a minha surpresa ao encontrar um evento em chinês, sem tradução. A imprensa oficialesca, acredito eu, se deliciava, em volta dos responsáveis pelo milagre atmosférico ocorrido na cidade. Mas não posso garantir isso. Nos cinco minutos, atônito, que fiquei lá tentando descobrir onde estavam os tradutores, não consegui entender nada.
Outra que tive que ouvir aconteceu na entrevista coletiva do presidente da Wada (Agência Mundial Antidoping), John Fahey. Um jornalista de algum país da América Central (Honduras, Guatemala, não me lembro bem) perguntou sobre o doping de alguma atleta local irrelevante. Educadamente, o dirigente disse que desconhecia o caso.
Há alguns dias, fui na coletiva do César Cielo, na Casa Brasil, local montado pelo COB para ajudar na campanha pelo Rio-2016. Com o auditório tomado por repórteres, fotógrafos e cinegrafistas, a primeira pergunta foi de um repórter de TV: "Aqui é o fulano, da TV Limeira e gostaria que você mandasse um abraço para o povo de Santa Bárbara", pediu o sujeito.
Entre os repórteres já se tornou piada que tipo de perguntas irrelevantes ou trocadilhescas vamos fazer nas próximas coletivas. No vôlei de praia, fiquei seriamente tentado a perguntar para a australiana Natalie Cook se ela gostava de cozinhar. De preferência em português para a voluntária pagar o mico de ter que traduzir.
Neste momento estou indo para o vôlei de praia fazer a semifinnal entre Renata/Talita e Walsh/May-Treanor. A tentação de perguntar para a Walsh se ela gosta de lavar roupa é muito grande.
Um comentário:
O bom e velho Adalba com os trocadilhos que faziam a alegria de certo editor de poli do bairro do Limão...
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