segunda-feira, 9 de março de 2009

No mundo virtual

Ao menos no mundo virtual Cuba não sofre com a deserção de suas estrelas. Pelo menos é isso o que se depreende no videogame de beisebol lançado no país. Nas equipes locais foram incluídos até os jogadores que fugiram do país e triunfaram nas Grandes Ligas dos Estados Unidos. É o caso dos lançadores Orlando "El Duque" Hernández e José Contreras.

No videogame MVP Cuba 1.0, uma adaptação do MVP Beisebol 2005, figuram, além de Hernández e Contreras, outros astros que brilham do outro lado do mar, como Liván Hernández e Kendry Morales.

Outro que ainda defende virtualmente equipes locais é Alexei Ramírez, que fugiu da ilha em dezembro com a intenção de atuar no beisebol profissional.

O beisebol é, ao lado do boxe, um dos esportes mais atingidos pelas deserções em Cuba, que acabou com o esporte profissional em 1961.

"É sábio incluí-los. São jogadores cubanos que, mesmo fora do país, seguem dando prestígio ao país, mesmo que tenham sido censurados aqui", diz um jovem cubano, que pede anonimato.

O videogame foi adaptado por especialistas da UCI (Universidade de Ciências Informáticas de Havana) e pela rádio esportiva Coco. O produto foi apresentado no último sábado no Palácio Central de Computação, um centro estatal destinado ao ensino de informática, segundo o diário "Juventude Rebelde".

Segundo o jornal, "trata-se de uma tentativa de fornecer uma distração eletrônica com características nacionais a crianças e jovens" e inclui cerca de 30 times, entre eles os 16 que participam do Campeonato Cubano.

Na apresentação do software, seus criadores afirmaram que "muitas dificuldades atrasaram o lançamento oficial do jogo", sem precisar quais seriam os problemas. Apesar disso, conseguiram lançar "o primeiro grande jogo de beisebol cubano para computadores".

Os cubanos esperaram cinco anos para ver, em dezembro, no cinema, o documentário "Fora de Liga", filmado em 2003 nos Estados Unidos e em Cuba em que o diretor, Ian Padrón, inclui testemunhos de jogadores desertores, entre eles "El Duque" Hernández.

Juiz sincero

Fato inédito ocorreu na partida entre La Gantoise e Tubize, pelo Campeonato Belga. O La Gantoise vencia o jogo por 1 a 0, quando, no final do confronto, o atacante Mbaye Leye, do Tubize, caiu na área em disputa com o goleiro francês Nicolas Ardouin, do time rival.

Titubeante, o árbitro Peter Vervecken marcou a penalidade. No entanto, instantes depois, reconheceu que havia errado. E pediu uma forcinha a Ardouin.

"Depois que ele apitou o pênalti, ele me disse: 'Me salve, defenda o pênalti'", contou o goleiro, que não conseguiu atender o pedido do juiz, selando a vitória do Tubize por 2 a 0. "É a primeira vez na minha carreira que acontece isso", acrescentou ele, em entrevista à imprensa belga.

As imagens de TV mostram que após apitar a falta, inexistente, de Ardouin, o juiz fica em dúvida um momento e, então, decide conversar com Ardouin.

"Somente o incentivei a reparar meu erro. Nada mais. Não me entendam mal", contou o juiz ao diário "Le Soir". "Depois de ver pela TV, admito que não houve falta. E, portanto, não houve pênalti. Mas, em campo, minha impressão era diferente", reconheceu Peter Vervecken.

Mbaye Leye, por sua vez, o outro protagonista dessa comédia de erros, também admitiu que não sofreu falta no lance que originou o segundo gol.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Marcha ré

Para mim foi uma revelação, já que não a conhecia. Estava no Ninho de Pássaro, cobrindo o atletismo olímpico em Pequim quando iniciou a execução do hino nacional russo. No telão da arena, aparece a figura da musa: Olga Kaniskina, a campeã da marcha de 20 km.

Corta para sete meses depois. A campeã e recordista olímpica, número um do ranking em sua prova, destrona a compatriota Olimpiada Ivanova. Kaniskina crava 1h24min56s, quase um minuto mais rápida do recorde anterior, obtido no Mundial de Helsinque-2005, por Olimpiada (1h25min). Que não se perca pelo nome: a russa não passou de uma prata nos Jogos de Atenas-04. Foi 11ª em Pequim-08.

Kaniskina, porém, não terá seu recorde ratificado pela Iaaf (Associação Internacional das Federações de Atletismo). É que a prova não atendeu a todas as exigências da entidade para ser ratificada. Houve controle antidoping (um dos graves problemas do atletismo russo há poucos anos), mas não havia três juízes internacionais para fiscalizar o andamento da competição.

"Não convidamos juízes internacionais porque essa competição é apenas parte do processo de preparação", disse Valentin Maslakov, técnico chefe da Federação Russa de Atletismo.

"Aqui, só checamos a condição dos atletas para as competições mais importantes do verão [do Hemisfério Norte]. Sempre temos árbitros internacionais no Campeonato Russo de verão. Contudo, por conta dos últimos resultados, devemos, no futuro, convidar juízes internacionais no inverno também", desculpou-se.

Mas aparentemente, o feito de Kaniskina não é inédito na história da marcha russa.

"O tempo de Olga Kaniskina não é, de fato, o melhor resultado [da história]", minimizou Alexei Melnikov, técnico chefe de marcha da federação russa. "Olimpiada Ivanova já marchou mais rápido aqui", acrescentou.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Histórias de Ary

Ary Vidal voltou à ativa no basquete, agora como dirigente do Flamengo. É um alento ao esporte a volta do ex-treinador da seleção brasileira, ouro no Pan-Americano de Indianápolis, em 1987. Talvez a última glória relevante da nossa combalida seleção masculina.

Já o conhecia de jogos, mas fiquei mais próximo do Ary no Pré-Olímpico de San Juan (Porto Rico), em 1999. Foi a primeira seletiva olímpica da (até agora) longa sequência de fiascos nacionais em classificatórios para os Jogos. Ele estava lá como público. Eu, como repórter.

Bem-humorado e cheio de causos, Ary monopolizava as atenções no saguão do hotel. Contava piadinhas politicamente incorretas ("Sabe por que existe a rede separando a quadra de vôlei? É que se não os adversários se beijavam"). Também nos entretinha com suas histórias folclóricas, engraçadas e -verdadeiras ou não-, muito divertidas. Rememoro duas delas.

O caso do time feliz. Estávamos nos anos 1960 e Ary Vidal foi designado como técnico da seleção feminina de basquete. Quando assumiu o cargo, o treinador descobriu que havia problema de relacionamento entre as jogadoras e, para dizer o mínimo, alguns casais de lésbicas na equipe (a velha lenda que circunda o basquete feminino, pelo jeito existia nesta época).

Por conta de um conservadorismo nos costumes, a antiga direção da equipe, havia misturado jogadoras com pouca afinidade na concentração. Em um grupo feminino heterogêneo, a determinação trouxe estresse para o grupo, que não se entendia em quadra.

Ary, ao saber do problema, não teve dúvidas, relacionou todos os casais nos mesmos quartos, além de procurar encaixar as atletas heteros de acordo com suas afinidades. "Não quero saber o que vocês fazem no quarto, quero que vocês treinem bem e joguem bem na quadra", pregou o treinador.

As jogadoras seguiram à risca a determinação. O Brasil venceu todos os seus jogos e conquistou o título do Sul-Americano. Mesmo assim, o treinador não foi mantido no cargo.

A ponte Rolando. Rolando Ferreira era um jovem e promissor pivô quando chegou à seleção brasileira, em meados dos anos 1980. Ary Vidal era o treinador. Com 2,14 m, o jogador possuía um biótipo extremamente raro ao basquete na época, ainda mais no Brasil, que não costumava ter atletas dessa estatura.

Mas a vantagem física não compensava, muitas vezes, os apuros que Rolando fazia o treinador passar. Sua lentidão com a bola e os constantes erros faziam Ary Vidal dar pulos de raiva. Irritado, o treinador pedia vários tempos para adr broncas no pivô.

Anos depois, Ary sofreu problemas no coração e teve que passar por delicada cirurgia. Entre as intervenções, colocou uma (ou algumas) pontes de safena. "Dei o nome do Rolando a uma das pontes de safena, já que ele era o responsável. Inclusive disse isso a ele", dizia o treinador, entre risos.

"Mas coitado, vendo os pivôs de hoje, vejo que ele não era tão ruim assim", completava, diante do desempenho de Josuel, Sandro Varejão, Aylton, Michel e Luiz Fernando, os pivôs brasileiros em San Juan-99.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Amaury Pasos

Já que comecei o resgate das entrevistas que fiz com os jogadores do título mundial de basquete de 1959 com um dos craques daquela equipe, Wlamir Marques, encerro com outro, Amaury Antônio Pasos, nascido em São Paulo, no dia 11 de dezembro de 1935.

O ala-pivô começou no Tietê, passando em seguida por Sírio e Corinthians, para o qual se transferiu em 1966 e participou de lendária equipe que contava ainda com Wlamir, Rosa Branca e Ubiratan.

Pela seleção brasileira, disputou quatro Mundiais. E, numa façanha que hoje parece irreal, subiu ao pódio em todos. Foi bicampeão em 1959 e 1963, vice-campeão em 1954 e medalha de bronze em 1967. Disputou ainda três Olimpíadas e conquistou o bronze em 1960 e 1964.

"Eu me lembro que foi o primeiro título mundial do Brasil. Foi aí que começou a melhor década do basquete brasileiro em todos os tempos. Porque naqueles anos, fizemos parte da elite do basquete. Em 1963 houve o bicampeonato mundial."

"Kanela era um líder por excelência. Não havia um jogador que era considerado o tal. Os mais conhecidos eram o Wlamir e eu. Mas o time era mais ligado na parte técnica, no conjunto. Ficamos três meses treinando. O time ficou alojado um mês e meio na Ilha das Enxadas, no Rio, uma base da marinha."

"Aos domingos, o time saía para almoçar fora e voltava. Para você ter uma idéia, o Kanela cortava a luz às 22h. A gente comprava lanterna para poder ler. Naquele tempo, defender a seleção brasileira era uma coisa romântica. Não havia verba para a gente. Só davam uma diária para lavar a roupa."

"A seleção queria conquistar títulos. O time esperava cumprir um bom papel no Chile. Tivemos algumas cobranças. Tínhamos perdido para a União Soviética por três pontos. Mas, por causa de alguns problemas políticos da União Soviética com a China, ganhamos o campeoanto."

"Até então, o Brasil sempre era o primeiro, segundo ou terceiro colocado. Por isso, esperava disputar o título no Chile. Depois daquela conquista, ainda ganhamos medalha olímpica em Roma e Tóquio."


"Sempre tínhamos em mente a disciplina tática. O jogo contra o Chile foi fácil. O estádio Nacional estava cheio. A vitória contra os Estados Unidos foi o mais difícil. Mas os Estados Unidos tinham enviado uma equipe de terceira categoria."

"Após o título, caímos na gandaia no Chile. Fizemos muito sucesso. Fomos comer churrasco, beber vinho. Varamos a noite. Na volta, o time foi de São Paulo para o Rio."

"Faltou renovação ao basquete brasileiro atual, o surgimento de bons jogadores. Até que temos alguns bons jogadores, temos potencial."

"Neste período todo da era Oscar, o Brasil privilegiou um só jogador, um arremessador de bolas. Basquete é um jogo de equipe. Ninguém vence uma equipe com um só jogador. Os resultados é a equipe que consegue. Esse tempo todo, o Oscar foi o cestinha, mas o Brasil não ganhou nada, a não ser um Pan."

"É uma imagem ruim como exemplo para os jovens jogadores. Jogar basquete não é só arremessar a bola na cesta. É preciso estar bem principalmente na defesa, colaborando, dando assistências."

"O Rosa Branca metia mais bolas de longe. Tenho amizade até hoje com os jogadores: Mical, Rosa Branca, eu, Jatyr, Edson Bispo, que depois virou treinador, inclusive da seleção brasileira. Nós ainda nos encontramos. Passei por Tietê, Sírio e Corinthians. Ainda jogo nos veteranos, participo de programas de implantação de basquete nas escolas e sou industrial."

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Pecente e Jatyr

Hoje, relembro mais dois jogadores que integraram a seleção vencedora do Mundial de 1959. Todas as entrevistas foram feitas em 1999, ocasião em que se comemoravam os 40 anos daquela conquista. Para o leitor que nos pegou agora, encontrei essas falas em um bloquinho esquecido em um canto de casa. Na época ainda trabalhava no Lance!. Mas vamos aos personagens...

Pedro Vicente da Fonseca (nascido em São Vicente, em 21 de janeiro de 1935), o Pecente, passou por dois momentos emocionantes, além do título no Chile: fez aniversário durante a competição e recebeu a notícia do nascimento de sua primeira filha, Sônia Maria, logo após conquistar o título mundial pelo Brasil.

Espécie de sexto jogador daquele time, Pecente rendeu uma das melhores entrevistas. Abaixo, seu depoimento.

"Faz tanto tempo, mas foi a emoção maior que tive na vida. Jogamos contra o Chile na final. Quando terminou, fiquei sabendo que tinha nascido minha primeira filha. Terminou o jogo e o repórter me chamou. Falei com minha mulher no Brasil e fiquei sabendo do nascimento da Sônia Maria, que recebeu o mesmo nome da minha esposa."

"A campanha foi uma coisa gostosa. Em Temuco nos classificamos em primeiro lugar no grupo pelo saldo de pontos. Fomos para Santiago para disputar a fase final."

"O mais experiente do grupo era o Algodão. Do resto, o Amaury e o Wlamir tinham mais experiência. Mas a equipe era praticamente remodelada. Ficou só o Algodão de mais veterano. Eu tinha 24 anos. A equipe havia passado por uma renovação grande no Sul-Americano de 1958, quando fomos campeões. O time tinha sido vice-campeão mundial em 1954. Mas agora, no Chile, quase todos eram novos."

"Naquela época eu jogava pelo XV de Piracicaba. A equipe era muito boa. Tinha na seleção eu, o Wlamir e o Waldemar, além do Braz, que era o assistente técnico do Kanela. A maioria da equipe era de São Paulo. Do Rio vieram o Algodão, o Fernando, o Zezinho e o Kanela."

"A gente tinha esperança de conquistar o título. Achava que ia fazer uma boa campanha. E praticamente ganhamos o título quando a União Soviética foi eliminada. Se não fosse isso, acredito que a União Soviética teria sido campeã. Nos dois jogos que fizemos contra eles, o time perdeu em cima, por 2, 3 pontos. Só que a União Soviética perdeu para o Canadá."

"Ganhamos dos EUA por 14 pontos [81 a 67]. Do Chile, nós sabíamos que íamos ganhar. Foi uma campanha boa. Quando ganhamos dos EUA, achamos que éramos campeões. Mas o Kanela dizia: 'o Chile vai ganhar em casa com a torcida a favor'."

"De qualquer forma, foi uma campanha gostosa. O Kanela era disciplinador. Dava muita condição para a equipe. Nos treinos, fizemos uma temporada em Águas de São Pedro, no Grande Hotel de Águas de São Pedro. Ficamos de 15 a 20 dias. Depois, passamos por São Paulo e Rio de Janeiro. Foram dois meses de preparação. Havia 16 jogadores, alguns foram cortados."

"Deixei o futebol do Santos em 1954. Jogava com o Del Vecchio e o Pepe. Decidi seguir a carreira no basquete. Joguei no XV de Piracicaba a partir de 1955. Era armador, com 1,80 m. Me aposentei em 1983 e hoje coordeno o basquete do Clube de Campo de Piracicaba."

"Eu tinha velocidade, bom arremesso, sabia arremessar de média distância e passava bem. Disputei 13 Jogos Abertos do Interior. Na época, o basquete era muito inseguro. Ganhava só alguma coisa."

"Coordeno hoje o basquete do Clube de Campo de Piracicaba. Em 21 de janeiro faço 64 anos. Hoje, os jovens jogadores estão voltados para a NBA, não para a seleção. Ultimamente passei a acompanhar campeonatos de divisões de base. O nível caiu um pouco. Isso atrasou a formação de novos valores."

Outro personagem de hoje é Jatyr Eduardo Schall (nascido em São Paulo, em 18 de outubro de 1938 ). Em sua carreira, passou por Pinheiros, Palmeiras, Paulistano e Sírio. Reserva bastante acionado, Jatyr atuou em oito dos dez confrontos do Brasil no Mundial de 1959. Abaixo, sua fala.

"Foi um time alegre, coeso, um time que se importava com as cores do Brasil. Tinha muita ombridade. Era um time que punha tudo de si para superar os obstáculos. E eles não eram poucos. A nossa equipe era a penúltima em estatura. Quase todas as outras equipes eram mais altas do que a nossa."

"Havia muita união. Nosso negócio era jogar basquete. Kanela era um técnico disciplinador. Sabia manter a rédea do time, que tinha na mão. Jogadores respeitavam as suas atitudes drásticas. Ele exigia que os jogadores fossem cumpridores de horário na questão de sair. Verificava os quartos antes de ir dormir. Qualquer coisa que saísse fora disso, ele punia. A turma já entrava enquadrada. Os que não se adaptavam no primeiro rapa ele já mandava embora."

"Amaury e Wlamir eram os que tinham mais nome. Já vinham do Mundial anterior. O Kanela foi o responsável pela transição do basquete brasileiro. Os dois mais o Mayr [Mayr Facci , que integrou a seleção vice-campeã mundial em 1954] deram plasticidade ao basquete brasileiro. Antes, todo mundo queria imitar os jogadores americanos. "

"O Algodão era o curinga do Kanela. O técnico era do Flamengo, do Rio de Janeiro. Levou o Algodão. Considerava ele uma âncora do time. Embora não fosse um jogador no mesmo nível do plantel, ele tinha muita raça. Não me lembro de um líder. Mas o Wlamir e o Amaury alternavam neste papel."

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Rosa Branca e Fernando Brobró

Uso esse espaço hoje para relembrar entrevistas que fiz com dois dos jogadores campeões mundiais de 1959 que já não estão entre nós. As conversas ocorreram por ocasião dos 40 anos daquela conquista, em 1999. O primeiro de hoje é Rosa Branca, nascido Carmo de Souza, em Araraquara, no dia 19 de julho de 1940.

Reserva com pouca chance de quadra em 1959, Rosa Branca teria participação importante no bicampeonato mundial, conquistado em 1963.

Vi ele pela última vez no lançamento da Liga Nacional de Basquete. Uma semana depois, Rosa Branca morreu, em 22 de dezembro de 2008, pouco antes de completar 50 anos do título histórico de 1959 (31 de janeiro).

"Na equipe que joguei, em 1959, o líder era o Algodão. O resta era tudo novo, com exceção do Wlamir e do Amaury. O grupo já vinha do Sul-Americano, disputado no ano anterior, também no Chile."

"Geralmente ficávamos em alojamento do Clube da Marinha. A alimentação era comum, caseira. O Kanela era o nutricionista. Comia muita fruta, leite à vontade. Comíamos bem, então dava para aguentar os treinos."

"De lazer, tinha a turma do buraco, dominó, xadrez, sinuca. Às vezes íamos ao cinema com o Kanela, nas folgas. Chegávamos na concentração e passávamos por um exame médico rigoroso. Tínhamos dois, três médicos acompanhando a gente."

"O Brasil estava numa fase espetacular de treinamento. Passamos por várias fases. Foi um grupo muito unido. Um dos segredos disso foi a forma que o Kanela conduzia, muito bem. Ele foi o maior técnico que já passou pela seleção brasileira."

"Houve um problema político do lado deles [União Soviética]. O Chile só no começo do jogo deu trabalho. A torcida estava apoiando. No meio do jogo a torcida virou a casaca para nós."

"Nosso bicho foi de US$ 20 para comemorar o título. Em 1959 lembro que dava para comprar muitos presentes para a família. A moeda chilena não era forte. Então, cambiava e fazia a festa. Na volta ao Brasil, recebemos homenagem do Juscelino Kubitschek. A Confederação Brasileira de Basquete nos premiou com uma medalha de ouro."

"Passei por Nosso Clube de Araraquara (1953-1956), São Carlos (1957), Palmeiras (1958-1963), Corinthians (1963-1972) e Juventus (1973). Na época do Mundial eu e o Jatyr [Schall] éramos do Palmeiras. Fui coordenador do departamento de Esportes do Sesc na unidade da Consolação."

"Éramos muito patriotas. Nossa pele virava uma bandeira brasileira. Defendíamos as cores do Brasil mesmo. O último Mundial do Kanela foi na Iugoslávia, em 1970. Foi uma pena a equipe ter ficado com o vice-campeonato. Mas o Kanela não era perfeito."

Fernando Pereira de Freitas, o Fernando Brobró, atuou em sete dos dez jogos do Brasil no Mundial. Mas também não teve grande participação em quadra.

Niteroiense, nascido em 18 de julho de 1934, Fernando Brobró ficou famoso pela cesta na decisão do Estadual do Rio de 1956, que deu o título ao Flamengo. Sem aguentar a emoção, Gilberto Cardoso, presidente do clube, teve um enfarto e morreu.

Pela seleção brasileira, o armador também foi medalhista de bronze na Olimpíada de Roma, em 1960. Ele morreu há quase dois anos, em 10 de fevereiro de 2006.

"O curioso é que falo com a gente até hoje se fala. Infelizmente, três deles já se foram [na época, Zezinho, Waldemar e o técnico Kanela]."

"Na verdade, a gente sempre ia [para o Mundial] preocupado com Estados Unidos e União Soviética. Na época, os Estados Unidos foram representados por um time das Forças Armadas. Sempre tínhamos esperança de vencer. Tínhamos um grande comando."

"Até o final já tínhamos fé na conquista. No último jogo não esperávamos o título. Contra os Estados Unidos tinha sido uma final antecipada. Na época não era um ginásio. Armaram um tablado no centro do gramado do estádio Nacional, em Santiago."

"Tínhamos um grande conjunto e um grande comando. Amaury e Wlamir eram jogadores de nível internacional. O time era muito unido. O mais experiente era o Algodão, que era o capitão da equipe. Mas o comando ficava mesmo nas mãos do Kanela. O resto dos jogadores tinha 22, 24 anos, talvez."

"Joguei no Icaraí Praia Clube, depois fui para o Flamengo. Lá fui decacampeão carioca. Depois segui para o Vasco."

"Era ala-armador, com 1,79 m. Estou com 64 anos. Trabalhei como assessor no gabinete do [Luiz Paulo] Conde. Estou aposentado e jogo torneios de veteranos."

"O Zezinho jogou no Tijuca, era ala. Morreu acho que em 1984. Estava sempre com ele no Rio. O Kanela passou por Flamengo e Botafogo. Morreu por volta de 1994, 1995. Ele era danado para dirigir."

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Waldyr Boccardo e Otto Nóbrega

Esqueci ontem de postar mais um depoimento dos campeões de 1959. Para compensar, incluo dois heróis do título de 1959 hoje. Começo com Waldyr Geraldo Boccardo (ala-pivô reserva da equipe, nascido em São Manuel, interior de São Paulo, em 28 de Janeiro de 1936).

Tive a satisfação de falar novamente com ele, em 2009, sobre os 50 anos do título. Frasista, definiu os dois craques do time de 1959, Amaury e Wlamir: "Eram a Paula e Hortência da época". Abaixo, a conversa que tivemos em 1999.

"Foi muito bons termos sido campeões.Tínhamos um dos melhores treinadores da história e jogadores excepcionais, como o Amaury e o Pecente. Ganhamos a final do Chile por mais de 30 pontos [o placar foi 73 a 49]. A União Soviética não quis jogar contra Formosa. E a gente foi campeão mundial."

"De lá para cá, o esporte mudou muito. Depois que os negros entraram no basquete, ficou mais rápido. Jogador era muito parado naquele tempo. Kanela era um dos primeiros a gostar de fazer contra-ataques. Nosso time jogava de maneira moderna. Agora é muito mais rápido."

"A gente jogou praticamente todos os dias. Não tinha um jogador mais importante que o Algodão. Ninguém suplantou o Algodão. Falta divulgação, cultuar os ídolos. O Algodão, ninguém falava mal dele."

"Comecei em São José dos Campos. O Alberto Marson me falava que eu tinha que ser tão bom que teria capacidade de jogar em todas as posições. Joguei depois no Flamengo, Botafogo e Vasco. Eu treinava bastante a defesa."

"Temos que melhorar os jogadores que temos. Temos poucos negros na seleção. Em 1958, nós fomos campeões sul-americanos com sete negros. Tem que meter negros."

"O Kanela só deixava sair do hotel para tomar cafezinho. Ele não desculpava falhas e todos o respeitavam como líder e treinador. O Kanela ficava sentado na porta do hotel esperando os jogadores chegarem."

"Nós éramos tão melhores que o Chile que nem sentimos a pressão da final. A diferença era jogar no estádio Nacional. Nós éramos acostumados a jogar em quadra descoberta. Só na final é que fui pegar quadra descoberta."

"Fazia muito frio em Temuco. Foi lá que ganhamos da União Soviética [na verdade o time perdeu, na primeira fase, por 64 a 73]."

"Como técnico, sou apaixonado pelo basquete. Basquete é erros. Escuto os melhores caras do mundo falarem de defesa agressiva e contra-ataque."

Continuo com Otto Carlos Phol da Nóbrega, outro reserva daquele time. Paulistano (não encontrei sua data de nascimento), foi reserva da equipe vencedora. Atuou por Fluminense, Flamengo e Paulistano, clube em que encerrou a carreira e onde chegou a ser vice-presidente.

Falei com o Otto no início de 1999. Parecia o mais abatido de todos na época. Perdia o fôlego em alguns momentos para tossir. Foi minha entrevista mais curta. Ele morreu no ano seguinte, em 15 de julho, de insuficiência respiratória.

"O espírito de união e a vibração daquele time era muito grande. Não esperávamos o título. Foi a primeira grande conquista desse time no qual despontavam nomes como Wlamir, Amaury e Waldemar."

"Nós sabíamos que ia ser difícil. Não esperava o campeonato. A União Soviética e os Estados Unidos eram os favoritos. Tinha Porto Rico que sempre deu trabalho. E a Bulgária que era desconhecida por nós."

"Aquele time tinha alguns trunfos. O Amaury foi o maior jogador que o Brasil já teve, o mais completo. O Kanela tinha uma liderança muito grande. Mas dentro de quadra, Amaury jogava, Wlamir arremessava, sempre preciso."

"Se os soviéticos não tivessem sido desclassificados, nós não tínhamos sido campeões. Pelos resultados deles, nós perderíamos."

"Porto Rico e Estados Unidos tinham sido jogos difíceis. Mas, contra o Chile, nós sabíamos que a gente ia ganhar o título."

"Jogava dentro, de pivô. Passei por Flamengo e Paulistano. Estou com 67 anos. Parei de jogar porque tinha que trabalhar. Vim para São Paulo para dirigir uma fábrica alemã. Depois, fui diretor-administrativo da Villares."

domingo, 1 de fevereiro de 2009

As lembranças de Edson Bispo

O depoimento, dos atletas que recolhi há dez anos com os campeões mundiais de 1959, que divulgo abaixo é o de Edson Bispo dos Santos (nascido no Rio de Janeiro, em 27 de maio de 1935), pivô titular daquela equipe vencedora.

"Aquela foi uma equipe que começou em 1958, no Sul-Americano, quando fomos campeões. Foi o início do grande 'boom' do basquete nacional, após o título em Santiago. Fomos campeões invictos."

"Voltamos para Santiago para jogar o Mundial. A equipe era muito boa, homogênea. Tinha destaque para o Wlamir e o Amaury. Tínhamos dois ou três jogadores para revezar em quadra. Nós nos perocupávamos com a União Soviética."

"O jogo entre União Soviética e Bulgária foi uma vergonha porque a Bulgária recebeu ordem para perder. Houve uma marmelada muito grande. Eu estava gripado e não pude atuar contra a União Soviética, quando também perdemos. Ficou a dúvida [sobre quem era melhor]. Mas a União Soviética perdeu para o Canadá e fomos os primeiros da chave na primeira fase."

"O Algodão vinha desde 1948 e foi o único que sobrou do grupo mais antigo. Ele era o líder, o mais velho. Apesar disso, nós estávamos tranquilos na final, mas o time era mais ou menos jovem."

"No estádio Nacional deveria ter umas 25 mil pessoas assistindo à partida, que não foi tranquila, como o resultado parece dizer. O Chile, se ganhasse, seria o campeão. Mas começamos a abrir uma diferença e foi uma festa para aquele time que praticamente estava começando uma geração. Na noite em que conquistamos o título, foi dado US$ 20 para cada um para comemorar como melhor quisesse."

"Quando chegamos ao Brasil, houve desfile em carro de bombeiros. Recebemos uma medalha do presidente Juscelino Kubitschek."

"A nova geração não sabe do bicampeonato mundial. Reportagens como essa é que vão lembrar."

"Joguei pelo Vasco, pelo Corinthians, fiquei 12 anos no Palmeiras e encerrei a carreira na Hebraica, em 1971. Estou com 63 anos, aposentado. Trabalhava na Prefeitura de São Paulo. Fiquei 36 anos como professor de educação física em escolas."

sábado, 31 de janeiro de 2009

Memórias de uma equipe vencedora

Hoje faz exatos 50 anos que a seleção brasileira masculina de basquete conquistou seu primeiro título mundial, em quadras chilenas. O título veio após uma vitória sobre a equipe da casa, por
73 a 49, em arena montada no centro do estádio Nacional, em Santiago. Para celebrar a conquista da taça, uma série de comemorações foram agendadas para Brasília.

E, há dez anos, eu era em início de carreira no Lance!. E, para rememorar aquele feito, decidi entrevistar os dez jogadores então vivos para relembrar a conquista, que estava um pouco esquecida. As entrevistas renderam uma página dupla, publicada pelo jornal no dia 31 de janeiro de 1999.

O curioso é que, nesta semana, dez anos depois, estava novamente atrás de levantar material sobre aquela conquista. E, por casualidade, me deparei de novo com aquele bloquinho, que não sei bem ao certo porque guardei (talvez prevendo que algum dia poderia ser um pequeno documento histórico). O mais incrível foi ter conseguido entender minha letra, normalmente horrível, tanto tempo depois.

Das dez entrevistas, só não encontrei a feita com Algodão (Zenny de Azevedo), que morreria em 10 de março de 2001, pouco mais de dois anos após o levantamento. Não me furto haver algumas falhas na transcrição, mas acho bacana dividir com vocês o depoimento dos jogadores. Vou inserindo um a um no s próximos dias. Começo com o primeiro que foi colhido na época, de Wlamir Marques (nascido em São Vicente, em 16 de julho de 1937), craque daquele time e hoje comentarista da ESPN Brasil.

"Faz tanto tempo [da conquista]. Inclusive eu tenho um livro, feito pela federação gaúcha, e jornais daquela época. Se não tivesse lido hoje sobre isso, não poderia te dizer nada."

"Aquele time era o seguinte: a maioria tinha até 22 anos. Era o meu segundo Mundial Em 1954, eu disputei com o Amaury. Tinha 17 anos. Mas aquela equipe [de 1959] era remodelada. De 1954 só sobraram eu, o Amaury e o Algodão. Havia uma geração nova que apareceu aí. A garotada tinha ganhado o Sul-Americano de 1958."

"Tudo o que queríamos era treinar. A preparação era longa. Foram quatro meses de treinos pela seleção brasileira. A seleção era bem cotada. Havia sido vice-campeã em 1954. Brasil, União Soviética e Estados Unidos eram os países mais citados para ganhar. A liderança do grupo era mais do [técnico] Kanela. Nosso grupo era muito homogêneo."

"A União Soviética e a Bulgária se negaram a jogar com Formosa [por questões políticas]. Se a União Soviética jogasse, seria campeã do mundo. Ela havia ganhado de todas as equipes e Formosa não era um adversário forte. Mas não quis jogar contra a China nacionalista e foi desclassificada, perdeu todos os pontos."

"Nossa final seria então com o Chile. Acontece o seguinte: o Chile era uma equipe forte. O jogo seria no estádio Nacional, não era em um ginásio. E aquilo lotava. O Chile não era considerado um jogo fácil. Os 24 pontos que fizemos não espelham o que foi o jogo [o placar da final foi 73 a 49]. A gente sabia por antecipação que se ganhássemos, seríamos campeões."

"Até 1955, o forte no basquete era o Rio de Janeiro. Se houvesse convocação, a maioria vinha do Rio. Aqui tinha o Corinthians, o XV de Piracicaba, o Pinheiros, o Floresta. No Rio, Sírio, Flamengo, Fluminense. O Brasileiro era disputado por seleções estaduais. Mas em 1955 São Paulo foi campeão e não perdeu mais. Em 1954 o Estadual tinha o campeão do interior e o da capital. A final era disputada em melhor de três jogos e saía o campeão estadual de São Paulo."

"A gente recebia mais ajuda de custo. O tempo que ficava na seleção, não recebia do clube. Tinha jogador que não ganhava nada, vivia às custas do pai. E quem recebia, não ganhava o suficiente para se dedicar só ao basquete. Na época eu jogava pelo XV de Piracicaba. Depois fui para o Corinthians. No XV eu tinha um emprego. Fui funcionário dos Correios de 1956 a 1958. Trabalhava nos Correios, saía e ia para o ginásio treinar."

"Quando ia para a seleção, precisava pegar licença no emprego. E algumas vezes ela não chegava. A gente criava um movimento na empresa para conseguir. Aconteceu isso comigo umas cinco, seis vezes. Aí resolvi abandonar o basquete."

"Fui para o Corinthians em 1962. Joguei de 1953 a 1962 no XV de Piracicaba, de 1962 a 1972, no Corinthians, e de 1972 a 1973, no Tênis Clube de Campinas."

"Em 1971 entrei na faculdade. Fui técnico esporadicamente. Também dei aula de educação física na Fefisa [Faculdades Integradas de Santo André], em Santo André. Fui delegado da Federação Paulista de Basquete e da Confederação Brasileira de Basquete. Continuo no meio do basquete. Essa foi a minha vida. Não me arrisco a fazer outra coisa."

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Cueca de lata

Doping sexual, o viagra vem sendo estudado, desde o ano passado, como doping esportivo. Mas, ao menos seus efeitos benéficos em relação à adaptação à altitude, vem sendo combatidos por entidades de pesquisa do mais alto saber.

Agora foi a vez de o Ibba (Instituto Boliviano de Biologia de Altura) pôr em dúvida a afirmativa de que a pilulinha mágica azul possa melhorar o rendimento dos jogadores ou que facilite sua adaptação à altitude. O diretor da entidade, Enrique Vargas, afirmou, em entrevista concedida ao diário "La Prensa", que não está provado que o medicamento usado habitualmente para melhorar o desempenho sexual ajude a melhorar a performance de esportistas na altitude.

Para o pesquisador, o uso da pílula, "pode facilitar a aclimatação de um esportista que tem pressão pulmonar alta, mas não há nada escrito a respeito do rendimento.

A polêmica sobre o uso da pílula azul entre esportistas surgiu nesta semana, quando o Grêmio e Palmeiras aventaram a hipótese de utilizá-la em seus elencos para melhorar o desempenho da equipe em partidas da Taça Libertadores da América.

Essa possibilidade, já descartada pelos dois clubes, afetaria as equipes bolivianas do Aurora, de Cochabamba, cuja arena Félix Capriles, está a cerca de 2.500 metros de altura, e do Real Potosí, cujo estádio Víctor Agustín Ugarte está situado a mais de 4.000 metros de altitude.

O diretor da Ibba explicou que o uso do viagra em futebolistas que tenham pressão arterial elevada "pode ter um efeito favorável", mas naqueles que não acusem esse problema pode ter efeitos negativos.

Apesar disso, Vargas rejeitou que o uso do medicamento possa ser considerado doping, como consideram alguns médicos. Até o momento, essa droga não consta da lista de substâncias proibidas pelo Código Mundial Antidoping, renovada anualmente pela Wada (Agência Mundial Antidoping).

Por outro lado, o técnico do Aurora, Julio Baldivieso, indicou que sua equipe, que jogará contra o Grêmio na Libertadores, responderá em campo com "futebol e boa preparação". Em declarações ao jornal "La Razón", Baldivieso ironizou a recente polêmica iniciada pelos clubes brazucas ao dizer que se as equipes utilizarem esse expediente, teriam que jogar com "cuecas de lata".

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Odeio coletivas de basquete

Alguns nicks postados no MSN são realmente enigmáticos. Uma amiga diz que sou especialista em despertar a curiosidade alheia nas mensagens que posto após meu nome na lista de contatos. A de hoje, assim como na semana passada, está escrito "Eu odeio coletivas de basquete".

Não, não é por nenhum motivo específico que tomei aversão às entrevistas do esporte que cubro há uns bons dez, 11 anos. Na verdade, foi por coisas ocorridas nos dois últimos eventos de que participei. Pois então, vamos a eles.

Segunda-feira da semana passada, sorteio dos jogos para o Novo Basquete Brasil, competição organizada pela Liga Nacional de Basquete e que irá substituir o Nacional masculino da CBB. O evento estava marcado para as 10h30. Horário decente para jornalistas.

O problema é que houve atraso nos vôos em Confins, em Belo Horizonte, e o presidente da LNB, Kouros Monadjemi, não chegava. Alguns outros membros da diretoria, todos de BH, também estavam com ele. Sem o dirigente, foi antecipada uma reunião técnica das equipes. E tome chá de cadeira para a imprensa.

A cartolada só chegou depois das 13h. Finalmente pudemos entrar à sala de reuniões, cerca de 3 horas depois do horário originalmente marcado (é, dava para ter almoçado em casa). Houve o tal do sorteio, sem grandes novidades. Para mim, ao menos, saí de lá com matéria, disponível aqui para assinantes da Folha/UOL.

Nesta semana, a coletiva era da NBA. O evento foi marcado para as 9h, na Couromoda (olha o couro nas coletivas novamente!), horário proibitivo para jornalistas. Ouvi coleguinhas insatisfeitos dizendo que haviam acordado às 5h para conseguir chegar ao Anhembi, local da feira, naquele horário.

Pois é, nem todo mundo tem a facilidade de o jornal enviar um carro em casa para ser apanhado. E, mesmo assim, "madruguei" às 7h30. Um amigo me disse que jornalista só acorda neste horário para pegar avião ou levar a mulher na maternidade. Saí de casa por volta das 8h30.

Não bastasse isso, o evento começou só depois das 10h. E, se tivesse na edição SP hoje (trocas para a edição que circula só na capital), sairia da redação só depois das 23h30. Ou seja, cumpriria jornada de 15 horas sem nada que justificasse isso. Em tempo: não consegui sair de lá com matéria.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Finalizando bem o ano

Acho que ainda é tempo de comentar o assunto, apesar de a São Silvestre ter sido disputada há alguns dias, na semana passada. A corrida, como é sabido, aumentou, desde 2007, seu número de participantes para 20 mil corredores. Outra novidade bacana foi a inclusão das mulheres junto com os homens no pelotão geral da prova. Anteriormente, a SS funcinava mais ou menos como um colégio interno protestante, com as meninas sendo separadas dos meninos. Pior para elas, que corriam antes, com sol a pino. Muitas passavam mal.

Dito os elogios, vamos às críticas. E desta vez, de forma surpreendente até, não vão diretamente para os organizadores. Em 2007 havia largado com meu amigo Tales Torraga bem na frente. Tivemos pouco problema com retardatários e acredito que já no fim da Consolação o ritmo da prova estava bem agradável para a gente. Mais veloz, o Tales seguiu sozinho adiante na Av. São João. O sol estava escaldante e me esforcei para apenas não fazer meu pior tempo na prova, terminando em pouco mais de 1h36min. Estava moído, mas ainda encarei uma festa de Réveillon até as 5h, 6h.

Neste final de 2008, larguei com outro amigo ex-Folha, o Leandro Valverdes, carinhosamente apelidado de Valdomiro, já nem sem mais por qual razão, e sua namorada. Dessa vez, saímos bem de trás. Demoramos cerca de 10 minutos, após o começo da corrida, para ultrapassarmos o pórtico de início da prova.

Mas isso não foi nada. Na av. Paulista, o trânsito estava extremamente congestionado. Muitas vezes tinha que andar. Ultrapassei dois participantes obesos, que não poderiam estar correndo uma prova de rua, ainda mais a São Silvestre, que possui uma das piores altimetrias do calendário paulistano (das que conheço, só perde para a Maratona de SP). Das duas, uma. Ou aqueles caras pararam bem antes da subida da av. Brigadeiro Luís Antonio ou chegaram correndo até o final, estraçalhando seus joelhos com o sobrepeso.

Mas não foi só isso. Muita gente já caminhava logo na virada para a r. da Consolação, antes de a prova de 15 km completar seus primeiros mil metros e muito antes de enfrentarem sua primeira subida!

Só consegui um espaço razoável para me movimentar, sem ter que me desviar de retardatários a torto e a direito, já no final da av. Rio Branco. Não, não sou atleta de elite. E estou bem longe de ser dos amadores mais velozes. No entanto, é impressionante o exército de despreparados que decide participar da São Silvestre.

Finalizar uma SS é, de fato, uma das formas mais empolgantes de se despedir do ano. Comecei a correr em abril de 2003, mas decidi fazer minha primeira SS só no ano seguinte, quando julguei estar preparado para uma prova desgastante como essa.

Terminar a prova do dia 31 me mostra que passei mais um ano saudável, sem grandes atropelos na balança e que tenho conseguido manter uma rotina minimamente saudável de treinamentos, apesar de meu trabalho, tantas vezes estressante, desgastante e que exige tanto tempo de dedicação.

Após minha chegada, 1h34min37s depois, segundo meu cronômetro, pude acompanhar grande quantidade de corredores que passavam mal, desmaiavam após finalizar o percurso ou vomitavam. Alguns eram removidos de maca.

Lógico que há uma parcela de culpa dos organizadores, de alertar os amadores, de forma mais efetiva, a só disputar a prova se tiverem condições físicas mínimas para tanto. Mas acho que falta também responsabilidade entre os participantes. Espero que isso não gera tragédias.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Quando éramos toscos

Recebo da Taninha (Tânia Scaffa, para os menos íntimos, ex-colega da primeira equipe do diário Lance!) um texto do Maurício Stycer sobre a questão do gênero na redação de um diário esportivo. No caso é a respeito da implantação do projeto do Lance!, em 1997.

Lá se vão mais de 11 anos quando um bando de moleques adentrou a um galpão semi-abandonado e poeirento no glorioso Bairro do Limão para transformá-lo, em menos de três meses, no maior diário esportivo do país. Nos primeiros tempos, tínhamos só uma internet (e discada) e três telefones.

O texto do Stycer lista a turma de mulheres repórteres dos primeiros tempos. A Tânia foi a única mulher selecionada de São Paulo (na foto acima, do dia do lançamento do jornal, ela é obviamente a penúltima, em pé). No Rio, ele lista três jornalistas: Flávia Ribeiro, Thalita Rebouças e Débora Thomé. Uma injustiça à Daniela Oliveira, setorista de vôlei nos primeiros tempos, que não sei que fim levou. E a Thalita saiu logo, não sei nem se integrava a equipe quando o diário foi lançado. Ouvi falar que virou autora de livros juvenis.

De qualquer forma, o trabalho me serviu para abrir alguns campos de discussão interessantes. Vamos a eles. O Stycer defende que houve uma certa "opção masculina" desde a chefia que selecionou os estagiários que iriam integrar o novo jornal. Nesse aspecto, teria sido muito mais meritório a entrada de algumas mulheres na redação.

Cita, por exemplo, os testes de conhecimentos gerais, que continham perguntas sobre futebol, mais usuais de serem respondidas por homens. E que o teste específico (a produção de uma crônica esportiva a partir de jogo que assistimos pela TV) favoreceria mais os homens, habituados a assistir aos jogos. Concordo em parte. O teste específico, de qualquer forma, avaliava uma habilidade que seria necessária a todos (homens e mulheres) na futura redação.

Ao pinçar fala de jornalistas experientes, Stycer encontra episódios que acredita mostrarem laivos de preconceito, de resto algo inerente a qualquer um. Ele conta que um avaliador rejeitou candidato que chorou durante a entrevista, o que, na avaliação do autor, teria ocorrido por conta de "demonstrar características atribuídas às mulheres". Não creio que qualquer equipe de seleção aprovasse candidato com tal despreparo emocional, independentemente do fato de ele ser homem ou mulher.

Mas concordo com o autor, quando aborda outros aspectos, mostrando que uma mulher, na redação, estaria destinada necessariamente, a fazer esportes olímpicos. O futebol era um terreno masculino, ao qual a Tânia, que possuía experiência anterior de cobertura em estádios, não estava destinada. Já eu tive escolha. Lembro que inicialmente me escalaram para cobrir vôlei e pedi para a chefia para ser transferido para o futebol. Fui atendido. Acho que a Tânia não gozaria de tal privilégio. Foi nossa única mulher que também acabou escalada para a seção "Quem vai querer?", de compras, chatésima, mas atributo identificado como feminino.

Outro preconceito arraigado, muito comum até hoje, é desqualificar o trabalho das coleguinhas insinuando relacionamentos afetivos-sexuais com técnicos ou jogadores para obter informação privilegiada. Ela lembra que foi vítima disso: "Muita gente achava que eu dava pro (nadador) Fernando Scherer. Até hoje acham. Falavam isso até para o meu namorado. O Scherer falava coisas pra mim que não falava para outras pessoas. Ele sempre foi meio chatinho e eu sempre soube lidar com ele".

Foi interessante rememorar algumas passagens daquela época através da reflexão do Stycer. Depois de ler todo o texto dele, não resisti e mandei um e-mail para a Tânia, tentando tirar minha maior dúvida: "Éramos tão toscos assim?" Não cabe aqui reproduzir sua resposta. Mas concluo que éramos sim. Será que evoluímos?