quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Pecente e Jatyr

Hoje, relembro mais dois jogadores que integraram a seleção vencedora do Mundial de 1959. Todas as entrevistas foram feitas em 1999, ocasião em que se comemoravam os 40 anos daquela conquista. Para o leitor que nos pegou agora, encontrei essas falas em um bloquinho esquecido em um canto de casa. Na época ainda trabalhava no Lance!. Mas vamos aos personagens...

Pedro Vicente da Fonseca (nascido em São Vicente, em 21 de janeiro de 1935), o Pecente, passou por dois momentos emocionantes, além do título no Chile: fez aniversário durante a competição e recebeu a notícia do nascimento de sua primeira filha, Sônia Maria, logo após conquistar o título mundial pelo Brasil.

Espécie de sexto jogador daquele time, Pecente rendeu uma das melhores entrevistas. Abaixo, seu depoimento.

"Faz tanto tempo, mas foi a emoção maior que tive na vida. Jogamos contra o Chile na final. Quando terminou, fiquei sabendo que tinha nascido minha primeira filha. Terminou o jogo e o repórter me chamou. Falei com minha mulher no Brasil e fiquei sabendo do nascimento da Sônia Maria, que recebeu o mesmo nome da minha esposa."

"A campanha foi uma coisa gostosa. Em Temuco nos classificamos em primeiro lugar no grupo pelo saldo de pontos. Fomos para Santiago para disputar a fase final."

"O mais experiente do grupo era o Algodão. Do resto, o Amaury e o Wlamir tinham mais experiência. Mas a equipe era praticamente remodelada. Ficou só o Algodão de mais veterano. Eu tinha 24 anos. A equipe havia passado por uma renovação grande no Sul-Americano de 1958, quando fomos campeões. O time tinha sido vice-campeão mundial em 1954. Mas agora, no Chile, quase todos eram novos."

"Naquela época eu jogava pelo XV de Piracicaba. A equipe era muito boa. Tinha na seleção eu, o Wlamir e o Waldemar, além do Braz, que era o assistente técnico do Kanela. A maioria da equipe era de São Paulo. Do Rio vieram o Algodão, o Fernando, o Zezinho e o Kanela."

"A gente tinha esperança de conquistar o título. Achava que ia fazer uma boa campanha. E praticamente ganhamos o título quando a União Soviética foi eliminada. Se não fosse isso, acredito que a União Soviética teria sido campeã. Nos dois jogos que fizemos contra eles, o time perdeu em cima, por 2, 3 pontos. Só que a União Soviética perdeu para o Canadá."

"Ganhamos dos EUA por 14 pontos [81 a 67]. Do Chile, nós sabíamos que íamos ganhar. Foi uma campanha boa. Quando ganhamos dos EUA, achamos que éramos campeões. Mas o Kanela dizia: 'o Chile vai ganhar em casa com a torcida a favor'."

"De qualquer forma, foi uma campanha gostosa. O Kanela era disciplinador. Dava muita condição para a equipe. Nos treinos, fizemos uma temporada em Águas de São Pedro, no Grande Hotel de Águas de São Pedro. Ficamos de 15 a 20 dias. Depois, passamos por São Paulo e Rio de Janeiro. Foram dois meses de preparação. Havia 16 jogadores, alguns foram cortados."

"Deixei o futebol do Santos em 1954. Jogava com o Del Vecchio e o Pepe. Decidi seguir a carreira no basquete. Joguei no XV de Piracicaba a partir de 1955. Era armador, com 1,80 m. Me aposentei em 1983 e hoje coordeno o basquete do Clube de Campo de Piracicaba."

"Eu tinha velocidade, bom arremesso, sabia arremessar de média distância e passava bem. Disputei 13 Jogos Abertos do Interior. Na época, o basquete era muito inseguro. Ganhava só alguma coisa."

"Coordeno hoje o basquete do Clube de Campo de Piracicaba. Em 21 de janeiro faço 64 anos. Hoje, os jovens jogadores estão voltados para a NBA, não para a seleção. Ultimamente passei a acompanhar campeonatos de divisões de base. O nível caiu um pouco. Isso atrasou a formação de novos valores."

Outro personagem de hoje é Jatyr Eduardo Schall (nascido em São Paulo, em 18 de outubro de 1938 ). Em sua carreira, passou por Pinheiros, Palmeiras, Paulistano e Sírio. Reserva bastante acionado, Jatyr atuou em oito dos dez confrontos do Brasil no Mundial de 1959. Abaixo, sua fala.

"Foi um time alegre, coeso, um time que se importava com as cores do Brasil. Tinha muita ombridade. Era um time que punha tudo de si para superar os obstáculos. E eles não eram poucos. A nossa equipe era a penúltima em estatura. Quase todas as outras equipes eram mais altas do que a nossa."

"Havia muita união. Nosso negócio era jogar basquete. Kanela era um técnico disciplinador. Sabia manter a rédea do time, que tinha na mão. Jogadores respeitavam as suas atitudes drásticas. Ele exigia que os jogadores fossem cumpridores de horário na questão de sair. Verificava os quartos antes de ir dormir. Qualquer coisa que saísse fora disso, ele punia. A turma já entrava enquadrada. Os que não se adaptavam no primeiro rapa ele já mandava embora."

"Amaury e Wlamir eram os que tinham mais nome. Já vinham do Mundial anterior. O Kanela foi o responsável pela transição do basquete brasileiro. Os dois mais o Mayr [Mayr Facci , que integrou a seleção vice-campeã mundial em 1954] deram plasticidade ao basquete brasileiro. Antes, todo mundo queria imitar os jogadores americanos. "

"O Algodão era o curinga do Kanela. O técnico era do Flamengo, do Rio de Janeiro. Levou o Algodão. Considerava ele uma âncora do time. Embora não fosse um jogador no mesmo nível do plantel, ele tinha muita raça. Não me lembro de um líder. Mas o Wlamir e o Amaury alternavam neste papel."

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