terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Waldyr Boccardo e Otto Nóbrega

Esqueci ontem de postar mais um depoimento dos campeões de 1959. Para compensar, incluo dois heróis do título de 1959 hoje. Começo com Waldyr Geraldo Boccardo (ala-pivô reserva da equipe, nascido em São Manuel, interior de São Paulo, em 28 de Janeiro de 1936).

Tive a satisfação de falar novamente com ele, em 2009, sobre os 50 anos do título. Frasista, definiu os dois craques do time de 1959, Amaury e Wlamir: "Eram a Paula e Hortência da época". Abaixo, a conversa que tivemos em 1999.

"Foi muito bons termos sido campeões.Tínhamos um dos melhores treinadores da história e jogadores excepcionais, como o Amaury e o Pecente. Ganhamos a final do Chile por mais de 30 pontos [o placar foi 73 a 49]. A União Soviética não quis jogar contra Formosa. E a gente foi campeão mundial."

"De lá para cá, o esporte mudou muito. Depois que os negros entraram no basquete, ficou mais rápido. Jogador era muito parado naquele tempo. Kanela era um dos primeiros a gostar de fazer contra-ataques. Nosso time jogava de maneira moderna. Agora é muito mais rápido."

"A gente jogou praticamente todos os dias. Não tinha um jogador mais importante que o Algodão. Ninguém suplantou o Algodão. Falta divulgação, cultuar os ídolos. O Algodão, ninguém falava mal dele."

"Comecei em São José dos Campos. O Alberto Marson me falava que eu tinha que ser tão bom que teria capacidade de jogar em todas as posições. Joguei depois no Flamengo, Botafogo e Vasco. Eu treinava bastante a defesa."

"Temos que melhorar os jogadores que temos. Temos poucos negros na seleção. Em 1958, nós fomos campeões sul-americanos com sete negros. Tem que meter negros."

"O Kanela só deixava sair do hotel para tomar cafezinho. Ele não desculpava falhas e todos o respeitavam como líder e treinador. O Kanela ficava sentado na porta do hotel esperando os jogadores chegarem."

"Nós éramos tão melhores que o Chile que nem sentimos a pressão da final. A diferença era jogar no estádio Nacional. Nós éramos acostumados a jogar em quadra descoberta. Só na final é que fui pegar quadra descoberta."

"Fazia muito frio em Temuco. Foi lá que ganhamos da União Soviética [na verdade o time perdeu, na primeira fase, por 64 a 73]."

"Como técnico, sou apaixonado pelo basquete. Basquete é erros. Escuto os melhores caras do mundo falarem de defesa agressiva e contra-ataque."

Continuo com Otto Carlos Phol da Nóbrega, outro reserva daquele time. Paulistano (não encontrei sua data de nascimento), foi reserva da equipe vencedora. Atuou por Fluminense, Flamengo e Paulistano, clube em que encerrou a carreira e onde chegou a ser vice-presidente.

Falei com o Otto no início de 1999. Parecia o mais abatido de todos na época. Perdia o fôlego em alguns momentos para tossir. Foi minha entrevista mais curta. Ele morreu no ano seguinte, em 15 de julho, de insuficiência respiratória.

"O espírito de união e a vibração daquele time era muito grande. Não esperávamos o título. Foi a primeira grande conquista desse time no qual despontavam nomes como Wlamir, Amaury e Waldemar."

"Nós sabíamos que ia ser difícil. Não esperava o campeonato. A União Soviética e os Estados Unidos eram os favoritos. Tinha Porto Rico que sempre deu trabalho. E a Bulgária que era desconhecida por nós."

"Aquele time tinha alguns trunfos. O Amaury foi o maior jogador que o Brasil já teve, o mais completo. O Kanela tinha uma liderança muito grande. Mas dentro de quadra, Amaury jogava, Wlamir arremessava, sempre preciso."

"Se os soviéticos não tivessem sido desclassificados, nós não tínhamos sido campeões. Pelos resultados deles, nós perderíamos."

"Porto Rico e Estados Unidos tinham sido jogos difíceis. Mas, contra o Chile, nós sabíamos que a gente ia ganhar o título."

"Jogava dentro, de pivô. Passei por Flamengo e Paulistano. Estou com 67 anos. Parei de jogar porque tinha que trabalhar. Vim para São Paulo para dirigir uma fábrica alemã. Depois, fui diretor-administrativo da Villares."

2 comentários:

Anônimo disse...

Olá, sou neta do Otto, e vi que vc não conseguiu encontrar a data de nascimento dele. Ele nasceu dia 12 de agosto de 1931! Obrigada pela matéria. Gostei muito de lê-la.

Anônimo disse...

Oi, Nathalie,

Muito obrigado pela informação. Mais uma lacuna que foi preenchida. Esse espaço serve também para preservarmos um pouco da memória do nosso esporte.