sábado, 31 de janeiro de 2009

Memórias de uma equipe vencedora

Hoje faz exatos 50 anos que a seleção brasileira masculina de basquete conquistou seu primeiro título mundial, em quadras chilenas. O título veio após uma vitória sobre a equipe da casa, por
73 a 49, em arena montada no centro do estádio Nacional, em Santiago. Para celebrar a conquista da taça, uma série de comemorações foram agendadas para Brasília.

E, há dez anos, eu era em início de carreira no Lance!. E, para rememorar aquele feito, decidi entrevistar os dez jogadores então vivos para relembrar a conquista, que estava um pouco esquecida. As entrevistas renderam uma página dupla, publicada pelo jornal no dia 31 de janeiro de 1999.

O curioso é que, nesta semana, dez anos depois, estava novamente atrás de levantar material sobre aquela conquista. E, por casualidade, me deparei de novo com aquele bloquinho, que não sei bem ao certo porque guardei (talvez prevendo que algum dia poderia ser um pequeno documento histórico). O mais incrível foi ter conseguido entender minha letra, normalmente horrível, tanto tempo depois.

Das dez entrevistas, só não encontrei a feita com Algodão (Zenny de Azevedo), que morreria em 10 de março de 2001, pouco mais de dois anos após o levantamento. Não me furto haver algumas falhas na transcrição, mas acho bacana dividir com vocês o depoimento dos jogadores. Vou inserindo um a um no s próximos dias. Começo com o primeiro que foi colhido na época, de Wlamir Marques (nascido em São Vicente, em 16 de julho de 1937), craque daquele time e hoje comentarista da ESPN Brasil.

"Faz tanto tempo [da conquista]. Inclusive eu tenho um livro, feito pela federação gaúcha, e jornais daquela época. Se não tivesse lido hoje sobre isso, não poderia te dizer nada."

"Aquele time era o seguinte: a maioria tinha até 22 anos. Era o meu segundo Mundial Em 1954, eu disputei com o Amaury. Tinha 17 anos. Mas aquela equipe [de 1959] era remodelada. De 1954 só sobraram eu, o Amaury e o Algodão. Havia uma geração nova que apareceu aí. A garotada tinha ganhado o Sul-Americano de 1958."

"Tudo o que queríamos era treinar. A preparação era longa. Foram quatro meses de treinos pela seleção brasileira. A seleção era bem cotada. Havia sido vice-campeã em 1954. Brasil, União Soviética e Estados Unidos eram os países mais citados para ganhar. A liderança do grupo era mais do [técnico] Kanela. Nosso grupo era muito homogêneo."

"A União Soviética e a Bulgária se negaram a jogar com Formosa [por questões políticas]. Se a União Soviética jogasse, seria campeã do mundo. Ela havia ganhado de todas as equipes e Formosa não era um adversário forte. Mas não quis jogar contra a China nacionalista e foi desclassificada, perdeu todos os pontos."

"Nossa final seria então com o Chile. Acontece o seguinte: o Chile era uma equipe forte. O jogo seria no estádio Nacional, não era em um ginásio. E aquilo lotava. O Chile não era considerado um jogo fácil. Os 24 pontos que fizemos não espelham o que foi o jogo [o placar da final foi 73 a 49]. A gente sabia por antecipação que se ganhássemos, seríamos campeões."

"Até 1955, o forte no basquete era o Rio de Janeiro. Se houvesse convocação, a maioria vinha do Rio. Aqui tinha o Corinthians, o XV de Piracicaba, o Pinheiros, o Floresta. No Rio, Sírio, Flamengo, Fluminense. O Brasileiro era disputado por seleções estaduais. Mas em 1955 São Paulo foi campeão e não perdeu mais. Em 1954 o Estadual tinha o campeão do interior e o da capital. A final era disputada em melhor de três jogos e saía o campeão estadual de São Paulo."

"A gente recebia mais ajuda de custo. O tempo que ficava na seleção, não recebia do clube. Tinha jogador que não ganhava nada, vivia às custas do pai. E quem recebia, não ganhava o suficiente para se dedicar só ao basquete. Na época eu jogava pelo XV de Piracicaba. Depois fui para o Corinthians. No XV eu tinha um emprego. Fui funcionário dos Correios de 1956 a 1958. Trabalhava nos Correios, saía e ia para o ginásio treinar."

"Quando ia para a seleção, precisava pegar licença no emprego. E algumas vezes ela não chegava. A gente criava um movimento na empresa para conseguir. Aconteceu isso comigo umas cinco, seis vezes. Aí resolvi abandonar o basquete."

"Fui para o Corinthians em 1962. Joguei de 1953 a 1962 no XV de Piracicaba, de 1962 a 1972, no Corinthians, e de 1972 a 1973, no Tênis Clube de Campinas."

"Em 1971 entrei na faculdade. Fui técnico esporadicamente. Também dei aula de educação física na Fefisa [Faculdades Integradas de Santo André], em Santo André. Fui delegado da Federação Paulista de Basquete e da Confederação Brasileira de Basquete. Continuo no meio do basquete. Essa foi a minha vida. Não me arrisco a fazer outra coisa."

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Cueca de lata

Doping sexual, o viagra vem sendo estudado, desde o ano passado, como doping esportivo. Mas, ao menos seus efeitos benéficos em relação à adaptação à altitude, vem sendo combatidos por entidades de pesquisa do mais alto saber.

Agora foi a vez de o Ibba (Instituto Boliviano de Biologia de Altura) pôr em dúvida a afirmativa de que a pilulinha mágica azul possa melhorar o rendimento dos jogadores ou que facilite sua adaptação à altitude. O diretor da entidade, Enrique Vargas, afirmou, em entrevista concedida ao diário "La Prensa", que não está provado que o medicamento usado habitualmente para melhorar o desempenho sexual ajude a melhorar a performance de esportistas na altitude.

Para o pesquisador, o uso da pílula, "pode facilitar a aclimatação de um esportista que tem pressão pulmonar alta, mas não há nada escrito a respeito do rendimento.

A polêmica sobre o uso da pílula azul entre esportistas surgiu nesta semana, quando o Grêmio e Palmeiras aventaram a hipótese de utilizá-la em seus elencos para melhorar o desempenho da equipe em partidas da Taça Libertadores da América.

Essa possibilidade, já descartada pelos dois clubes, afetaria as equipes bolivianas do Aurora, de Cochabamba, cuja arena Félix Capriles, está a cerca de 2.500 metros de altura, e do Real Potosí, cujo estádio Víctor Agustín Ugarte está situado a mais de 4.000 metros de altitude.

O diretor da Ibba explicou que o uso do viagra em futebolistas que tenham pressão arterial elevada "pode ter um efeito favorável", mas naqueles que não acusem esse problema pode ter efeitos negativos.

Apesar disso, Vargas rejeitou que o uso do medicamento possa ser considerado doping, como consideram alguns médicos. Até o momento, essa droga não consta da lista de substâncias proibidas pelo Código Mundial Antidoping, renovada anualmente pela Wada (Agência Mundial Antidoping).

Por outro lado, o técnico do Aurora, Julio Baldivieso, indicou que sua equipe, que jogará contra o Grêmio na Libertadores, responderá em campo com "futebol e boa preparação". Em declarações ao jornal "La Razón", Baldivieso ironizou a recente polêmica iniciada pelos clubes brazucas ao dizer que se as equipes utilizarem esse expediente, teriam que jogar com "cuecas de lata".

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Odeio coletivas de basquete

Alguns nicks postados no MSN são realmente enigmáticos. Uma amiga diz que sou especialista em despertar a curiosidade alheia nas mensagens que posto após meu nome na lista de contatos. A de hoje, assim como na semana passada, está escrito "Eu odeio coletivas de basquete".

Não, não é por nenhum motivo específico que tomei aversão às entrevistas do esporte que cubro há uns bons dez, 11 anos. Na verdade, foi por coisas ocorridas nos dois últimos eventos de que participei. Pois então, vamos a eles.

Segunda-feira da semana passada, sorteio dos jogos para o Novo Basquete Brasil, competição organizada pela Liga Nacional de Basquete e que irá substituir o Nacional masculino da CBB. O evento estava marcado para as 10h30. Horário decente para jornalistas.

O problema é que houve atraso nos vôos em Confins, em Belo Horizonte, e o presidente da LNB, Kouros Monadjemi, não chegava. Alguns outros membros da diretoria, todos de BH, também estavam com ele. Sem o dirigente, foi antecipada uma reunião técnica das equipes. E tome chá de cadeira para a imprensa.

A cartolada só chegou depois das 13h. Finalmente pudemos entrar à sala de reuniões, cerca de 3 horas depois do horário originalmente marcado (é, dava para ter almoçado em casa). Houve o tal do sorteio, sem grandes novidades. Para mim, ao menos, saí de lá com matéria, disponível aqui para assinantes da Folha/UOL.

Nesta semana, a coletiva era da NBA. O evento foi marcado para as 9h, na Couromoda (olha o couro nas coletivas novamente!), horário proibitivo para jornalistas. Ouvi coleguinhas insatisfeitos dizendo que haviam acordado às 5h para conseguir chegar ao Anhembi, local da feira, naquele horário.

Pois é, nem todo mundo tem a facilidade de o jornal enviar um carro em casa para ser apanhado. E, mesmo assim, "madruguei" às 7h30. Um amigo me disse que jornalista só acorda neste horário para pegar avião ou levar a mulher na maternidade. Saí de casa por volta das 8h30.

Não bastasse isso, o evento começou só depois das 10h. E, se tivesse na edição SP hoje (trocas para a edição que circula só na capital), sairia da redação só depois das 23h30. Ou seja, cumpriria jornada de 15 horas sem nada que justificasse isso. Em tempo: não consegui sair de lá com matéria.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Finalizando bem o ano

Acho que ainda é tempo de comentar o assunto, apesar de a São Silvestre ter sido disputada há alguns dias, na semana passada. A corrida, como é sabido, aumentou, desde 2007, seu número de participantes para 20 mil corredores. Outra novidade bacana foi a inclusão das mulheres junto com os homens no pelotão geral da prova. Anteriormente, a SS funcinava mais ou menos como um colégio interno protestante, com as meninas sendo separadas dos meninos. Pior para elas, que corriam antes, com sol a pino. Muitas passavam mal.

Dito os elogios, vamos às críticas. E desta vez, de forma surpreendente até, não vão diretamente para os organizadores. Em 2007 havia largado com meu amigo Tales Torraga bem na frente. Tivemos pouco problema com retardatários e acredito que já no fim da Consolação o ritmo da prova estava bem agradável para a gente. Mais veloz, o Tales seguiu sozinho adiante na Av. São João. O sol estava escaldante e me esforcei para apenas não fazer meu pior tempo na prova, terminando em pouco mais de 1h36min. Estava moído, mas ainda encarei uma festa de Réveillon até as 5h, 6h.

Neste final de 2008, larguei com outro amigo ex-Folha, o Leandro Valverdes, carinhosamente apelidado de Valdomiro, já nem sem mais por qual razão, e sua namorada. Dessa vez, saímos bem de trás. Demoramos cerca de 10 minutos, após o começo da corrida, para ultrapassarmos o pórtico de início da prova.

Mas isso não foi nada. Na av. Paulista, o trânsito estava extremamente congestionado. Muitas vezes tinha que andar. Ultrapassei dois participantes obesos, que não poderiam estar correndo uma prova de rua, ainda mais a São Silvestre, que possui uma das piores altimetrias do calendário paulistano (das que conheço, só perde para a Maratona de SP). Das duas, uma. Ou aqueles caras pararam bem antes da subida da av. Brigadeiro Luís Antonio ou chegaram correndo até o final, estraçalhando seus joelhos com o sobrepeso.

Mas não foi só isso. Muita gente já caminhava logo na virada para a r. da Consolação, antes de a prova de 15 km completar seus primeiros mil metros e muito antes de enfrentarem sua primeira subida!

Só consegui um espaço razoável para me movimentar, sem ter que me desviar de retardatários a torto e a direito, já no final da av. Rio Branco. Não, não sou atleta de elite. E estou bem longe de ser dos amadores mais velozes. No entanto, é impressionante o exército de despreparados que decide participar da São Silvestre.

Finalizar uma SS é, de fato, uma das formas mais empolgantes de se despedir do ano. Comecei a correr em abril de 2003, mas decidi fazer minha primeira SS só no ano seguinte, quando julguei estar preparado para uma prova desgastante como essa.

Terminar a prova do dia 31 me mostra que passei mais um ano saudável, sem grandes atropelos na balança e que tenho conseguido manter uma rotina minimamente saudável de treinamentos, apesar de meu trabalho, tantas vezes estressante, desgastante e que exige tanto tempo de dedicação.

Após minha chegada, 1h34min37s depois, segundo meu cronômetro, pude acompanhar grande quantidade de corredores que passavam mal, desmaiavam após finalizar o percurso ou vomitavam. Alguns eram removidos de maca.

Lógico que há uma parcela de culpa dos organizadores, de alertar os amadores, de forma mais efetiva, a só disputar a prova se tiverem condições físicas mínimas para tanto. Mas acho que falta também responsabilidade entre os participantes. Espero que isso não gera tragédias.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Quando éramos toscos

Recebo da Taninha (Tânia Scaffa, para os menos íntimos, ex-colega da primeira equipe do diário Lance!) um texto do Maurício Stycer sobre a questão do gênero na redação de um diário esportivo. No caso é a respeito da implantação do projeto do Lance!, em 1997.

Lá se vão mais de 11 anos quando um bando de moleques adentrou a um galpão semi-abandonado e poeirento no glorioso Bairro do Limão para transformá-lo, em menos de três meses, no maior diário esportivo do país. Nos primeiros tempos, tínhamos só uma internet (e discada) e três telefones.

O texto do Stycer lista a turma de mulheres repórteres dos primeiros tempos. A Tânia foi a única mulher selecionada de São Paulo (na foto acima, do dia do lançamento do jornal, ela é obviamente a penúltima, em pé). No Rio, ele lista três jornalistas: Flávia Ribeiro, Thalita Rebouças e Débora Thomé. Uma injustiça à Daniela Oliveira, setorista de vôlei nos primeiros tempos, que não sei que fim levou. E a Thalita saiu logo, não sei nem se integrava a equipe quando o diário foi lançado. Ouvi falar que virou autora de livros juvenis.

De qualquer forma, o trabalho me serviu para abrir alguns campos de discussão interessantes. Vamos a eles. O Stycer defende que houve uma certa "opção masculina" desde a chefia que selecionou os estagiários que iriam integrar o novo jornal. Nesse aspecto, teria sido muito mais meritório a entrada de algumas mulheres na redação.

Cita, por exemplo, os testes de conhecimentos gerais, que continham perguntas sobre futebol, mais usuais de serem respondidas por homens. E que o teste específico (a produção de uma crônica esportiva a partir de jogo que assistimos pela TV) favoreceria mais os homens, habituados a assistir aos jogos. Concordo em parte. O teste específico, de qualquer forma, avaliava uma habilidade que seria necessária a todos (homens e mulheres) na futura redação.

Ao pinçar fala de jornalistas experientes, Stycer encontra episódios que acredita mostrarem laivos de preconceito, de resto algo inerente a qualquer um. Ele conta que um avaliador rejeitou candidato que chorou durante a entrevista, o que, na avaliação do autor, teria ocorrido por conta de "demonstrar características atribuídas às mulheres". Não creio que qualquer equipe de seleção aprovasse candidato com tal despreparo emocional, independentemente do fato de ele ser homem ou mulher.

Mas concordo com o autor, quando aborda outros aspectos, mostrando que uma mulher, na redação, estaria destinada necessariamente, a fazer esportes olímpicos. O futebol era um terreno masculino, ao qual a Tânia, que possuía experiência anterior de cobertura em estádios, não estava destinada. Já eu tive escolha. Lembro que inicialmente me escalaram para cobrir vôlei e pedi para a chefia para ser transferido para o futebol. Fui atendido. Acho que a Tânia não gozaria de tal privilégio. Foi nossa única mulher que também acabou escalada para a seção "Quem vai querer?", de compras, chatésima, mas atributo identificado como feminino.

Outro preconceito arraigado, muito comum até hoje, é desqualificar o trabalho das coleguinhas insinuando relacionamentos afetivos-sexuais com técnicos ou jogadores para obter informação privilegiada. Ela lembra que foi vítima disso: "Muita gente achava que eu dava pro (nadador) Fernando Scherer. Até hoje acham. Falavam isso até para o meu namorado. O Scherer falava coisas pra mim que não falava para outras pessoas. Ele sempre foi meio chatinho e eu sempre soube lidar com ele".

Foi interessante rememorar algumas passagens daquela época através da reflexão do Stycer. Depois de ler todo o texto dele, não resisti e mandei um e-mail para a Tânia, tentando tirar minha maior dúvida: "Éramos tão toscos assim?" Não cabe aqui reproduzir sua resposta. Mas concluo que éramos sim. Será que evoluímos?