quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Histórias de Ary

Ary Vidal voltou à ativa no basquete, agora como dirigente do Flamengo. É um alento ao esporte a volta do ex-treinador da seleção brasileira, ouro no Pan-Americano de Indianápolis, em 1987. Talvez a última glória relevante da nossa combalida seleção masculina.

Já o conhecia de jogos, mas fiquei mais próximo do Ary no Pré-Olímpico de San Juan (Porto Rico), em 1999. Foi a primeira seletiva olímpica da (até agora) longa sequência de fiascos nacionais em classificatórios para os Jogos. Ele estava lá como público. Eu, como repórter.

Bem-humorado e cheio de causos, Ary monopolizava as atenções no saguão do hotel. Contava piadinhas politicamente incorretas ("Sabe por que existe a rede separando a quadra de vôlei? É que se não os adversários se beijavam"). Também nos entretinha com suas histórias folclóricas, engraçadas e -verdadeiras ou não-, muito divertidas. Rememoro duas delas.

O caso do time feliz. Estávamos nos anos 1960 e Ary Vidal foi designado como técnico da seleção feminina de basquete. Quando assumiu o cargo, o treinador descobriu que havia problema de relacionamento entre as jogadoras e, para dizer o mínimo, alguns casais de lésbicas na equipe (a velha lenda que circunda o basquete feminino, pelo jeito existia nesta época).

Por conta de um conservadorismo nos costumes, a antiga direção da equipe, havia misturado jogadoras com pouca afinidade na concentração. Em um grupo feminino heterogêneo, a determinação trouxe estresse para o grupo, que não se entendia em quadra.

Ary, ao saber do problema, não teve dúvidas, relacionou todos os casais nos mesmos quartos, além de procurar encaixar as atletas heteros de acordo com suas afinidades. "Não quero saber o que vocês fazem no quarto, quero que vocês treinem bem e joguem bem na quadra", pregou o treinador.

As jogadoras seguiram à risca a determinação. O Brasil venceu todos os seus jogos e conquistou o título do Sul-Americano. Mesmo assim, o treinador não foi mantido no cargo.

A ponte Rolando. Rolando Ferreira era um jovem e promissor pivô quando chegou à seleção brasileira, em meados dos anos 1980. Ary Vidal era o treinador. Com 2,14 m, o jogador possuía um biótipo extremamente raro ao basquete na época, ainda mais no Brasil, que não costumava ter atletas dessa estatura.

Mas a vantagem física não compensava, muitas vezes, os apuros que Rolando fazia o treinador passar. Sua lentidão com a bola e os constantes erros faziam Ary Vidal dar pulos de raiva. Irritado, o treinador pedia vários tempos para adr broncas no pivô.

Anos depois, Ary sofreu problemas no coração e teve que passar por delicada cirurgia. Entre as intervenções, colocou uma (ou algumas) pontes de safena. "Dei o nome do Rolando a uma das pontes de safena, já que ele era o responsável. Inclusive disse isso a ele", dizia o treinador, entre risos.

"Mas coitado, vendo os pivôs de hoje, vejo que ele não era tão ruim assim", completava, diante do desempenho de Josuel, Sandro Varejão, Aylton, Michel e Luiz Fernando, os pivôs brasileiros em San Juan-99.

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