quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Rosa Branca e Fernando Brobró

Uso esse espaço hoje para relembrar entrevistas que fiz com dois dos jogadores campeões mundiais de 1959 que já não estão entre nós. As conversas ocorreram por ocasião dos 40 anos daquela conquista, em 1999. O primeiro de hoje é Rosa Branca, nascido Carmo de Souza, em Araraquara, no dia 19 de julho de 1940.

Reserva com pouca chance de quadra em 1959, Rosa Branca teria participação importante no bicampeonato mundial, conquistado em 1963.

Vi ele pela última vez no lançamento da Liga Nacional de Basquete. Uma semana depois, Rosa Branca morreu, em 22 de dezembro de 2008, pouco antes de completar 50 anos do título histórico de 1959 (31 de janeiro).

"Na equipe que joguei, em 1959, o líder era o Algodão. O resta era tudo novo, com exceção do Wlamir e do Amaury. O grupo já vinha do Sul-Americano, disputado no ano anterior, também no Chile."

"Geralmente ficávamos em alojamento do Clube da Marinha. A alimentação era comum, caseira. O Kanela era o nutricionista. Comia muita fruta, leite à vontade. Comíamos bem, então dava para aguentar os treinos."

"De lazer, tinha a turma do buraco, dominó, xadrez, sinuca. Às vezes íamos ao cinema com o Kanela, nas folgas. Chegávamos na concentração e passávamos por um exame médico rigoroso. Tínhamos dois, três médicos acompanhando a gente."

"O Brasil estava numa fase espetacular de treinamento. Passamos por várias fases. Foi um grupo muito unido. Um dos segredos disso foi a forma que o Kanela conduzia, muito bem. Ele foi o maior técnico que já passou pela seleção brasileira."

"Houve um problema político do lado deles [União Soviética]. O Chile só no começo do jogo deu trabalho. A torcida estava apoiando. No meio do jogo a torcida virou a casaca para nós."

"Nosso bicho foi de US$ 20 para comemorar o título. Em 1959 lembro que dava para comprar muitos presentes para a família. A moeda chilena não era forte. Então, cambiava e fazia a festa. Na volta ao Brasil, recebemos homenagem do Juscelino Kubitschek. A Confederação Brasileira de Basquete nos premiou com uma medalha de ouro."

"Passei por Nosso Clube de Araraquara (1953-1956), São Carlos (1957), Palmeiras (1958-1963), Corinthians (1963-1972) e Juventus (1973). Na época do Mundial eu e o Jatyr [Schall] éramos do Palmeiras. Fui coordenador do departamento de Esportes do Sesc na unidade da Consolação."

"Éramos muito patriotas. Nossa pele virava uma bandeira brasileira. Defendíamos as cores do Brasil mesmo. O último Mundial do Kanela foi na Iugoslávia, em 1970. Foi uma pena a equipe ter ficado com o vice-campeonato. Mas o Kanela não era perfeito."

Fernando Pereira de Freitas, o Fernando Brobró, atuou em sete dos dez jogos do Brasil no Mundial. Mas também não teve grande participação em quadra.

Niteroiense, nascido em 18 de julho de 1934, Fernando Brobró ficou famoso pela cesta na decisão do Estadual do Rio de 1956, que deu o título ao Flamengo. Sem aguentar a emoção, Gilberto Cardoso, presidente do clube, teve um enfarto e morreu.

Pela seleção brasileira, o armador também foi medalhista de bronze na Olimpíada de Roma, em 1960. Ele morreu há quase dois anos, em 10 de fevereiro de 2006.

"O curioso é que falo com a gente até hoje se fala. Infelizmente, três deles já se foram [na época, Zezinho, Waldemar e o técnico Kanela]."

"Na verdade, a gente sempre ia [para o Mundial] preocupado com Estados Unidos e União Soviética. Na época, os Estados Unidos foram representados por um time das Forças Armadas. Sempre tínhamos esperança de vencer. Tínhamos um grande comando."

"Até o final já tínhamos fé na conquista. No último jogo não esperávamos o título. Contra os Estados Unidos tinha sido uma final antecipada. Na época não era um ginásio. Armaram um tablado no centro do gramado do estádio Nacional, em Santiago."

"Tínhamos um grande conjunto e um grande comando. Amaury e Wlamir eram jogadores de nível internacional. O time era muito unido. O mais experiente era o Algodão, que era o capitão da equipe. Mas o comando ficava mesmo nas mãos do Kanela. O resto dos jogadores tinha 22, 24 anos, talvez."

"Joguei no Icaraí Praia Clube, depois fui para o Flamengo. Lá fui decacampeão carioca. Depois segui para o Vasco."

"Era ala-armador, com 1,79 m. Estou com 64 anos. Trabalhei como assessor no gabinete do [Luiz Paulo] Conde. Estou aposentado e jogo torneios de veteranos."

"O Zezinho jogou no Tijuca, era ala. Morreu acho que em 1984. Estava sempre com ele no Rio. O Kanela passou por Flamengo e Botafogo. Morreu por volta de 1994, 1995. Ele era danado para dirigir."

2 comentários:

Everton Domingues disse...

Rosa Branca, o nosso eterno 'Globetrotter! Cracão q deixa saudades nas quadras e fora dela. Um grande boa praça bom tb de proza. Adilsão tb nos deixou essa semana. Perdeu o 'jogo' mais importante de sua vida, contra a doença maldita. Treze anos de seleção e integrante da última equipe brasileira q foi pódio em Mundiais (bronze nas Filipinas'78). Os 'grandes' (de verdade) do nosso basquete estão nos deixando. Kd a geração q deveria tomar conta do garrafão?
Gostei do seu blog.
Gde. abraço

Everton Domingues
www.vancouverolimpica.blogspot.com
www.beijingolimpica.blogspot.com
www.londresolmpica.blogspot.com

Anônimo disse...

Oi, Everton,
Um dos nossos objetivos é resgatar um pouco da memória do esporte brasileiros, particularmente do basquete, esporte que cubro há 11 anos.
Abraço,
Adalberto