É uma sensação maravilhosa terminar uma Olimpíada. No meu caso, a segunda. Mas, sinceramente, não me lembro muito bem dos detalhes de como foi em Atenas. Só lembro que saímos muito tarde do MPC. Tirei umas duas das três ou quatro fotos que fiz durante a Olimpíada inteira e terminamos a noite na Ratoeira, local próximo à Media Village, onde sempre íamos jantar porque fechava bem tarde.
domingo, 24 de agosto de 2008
Fim de Olimpíada
É uma sensação maravilhosa terminar uma Olimpíada. No meu caso, a segunda. Mas, sinceramente, não me lembro muito bem dos detalhes de como foi em Atenas. Só lembro que saímos muito tarde do MPC. Tirei umas duas das três ou quatro fotos que fiz durante a Olimpíada inteira e terminamos a noite na Ratoeira, local próximo à Media Village, onde sempre íamos jantar porque fechava bem tarde.
Em inglês nos entendemos
Após a cobertura da Olimpíada segui de ferias para Hong Kong com o Ohata, colega da Folha. De la, já sozinho, viajei para Hanói. Em seguida, sem roteiro muito bem definido, fui descendo pelo pais, passando por Halong Bay, Hue, Hoi An e Nha Trang ate chegar a Saigon. Em seguida, tomei um vôo ate Siem Reap, já no Camboja. Amanha sigo para Phnom Phem, que e a capital do pais. Encerro minha jornada asiática na Tailândia. Ainda com roteiro a definir. Não faltaram historias divertidas para contar.
Mas, neste período, só tive acesso a internet dos PCs dos hotéis em que fiquei. Dois problemas surgiram para atualizar o blog. O primeiro, e óbvio, e a absoluta falta de acentos nos terminais asiáticos. Nossa língua e mesmo estranha por essas paragens. O segundo, e isso e uma pena, e a impossibilidade de anexar as fotos que vou fazendo pelo caminho. Outro fato a se lamentar, já que pelas minhas ultimas contas (que fiz ainda no Vietnã), já foram umas 2.500 imagens.
Mas vamos a um causo divertido que ocorreu na segunda, ultimo dia meu no Vietnã. Peguei um
táxi ate o aeroporto e minha preocupação era não ser engambelado pelo taxista. Em Hanói cheguei a pagar absurdos 60 mil dongs (algo como R$ 60) por uma corrida que em São Paulo não passaria de uns R$ 20.
Durante o caminho, abri o livrinho da Lonely Planet sobre o pais, que havia comprado dias antes, para mostrar que estava atento a possíveis desvios de rota para aumentar o valor da corrida (como se fosse um as das ruas da Saigon!).
O taxista percebeu, e, de pronto, me indicou um ônibus que seguia logo a nossa frente. Mostrou que a plaquinha indicava que ia para o aeroporto. Conferi no guia, e realmente era o nome do aeroporto (não me pecam para lembrar agora, de cabeça!).
Respondi que estava só conferindo os hotéis da minha próxima estadia. Percebi que o taxista pouco havia entendido ou não compreendera patavina. Resolvi então imitar o sotaque de inglês macarrônico que havia ouvido durante toda a viagem, iniciando um papo non sense.
‘I like veri muti Vietnã. Veri biutiful pipou.‘ O motorista aquiesceu com a cabeça.
Pensei então em ir alem, para ver o que o cara iria achar. ‘Pipou a lori of friendili.‘ Mais uma acenada afirmativa. Apelei: ‘Andi de gueurls? Fantastic gueurls.‘ Ele sorriu em sinal de aprovação.
Como meu papo o divertia, resolvi contar um fato curioso que havia acontecido comigo na véspera, em minha ultima noite no Vietnã. A melhor coisa que poderia fazer era ficar amigo do taxista, afinal diminuiria a chance de ser achacado novamente, nê?
‘Iesterdei, ai uas uif a friendi ofi maine, a suitzerland, do iu know? Then, a traveco (aqui não sabia dizer o equivalente em inglês, mas acho que isso não fez muita diferença para o motorista) stopped his motorçaicou and offer to me and mai friendi a chupeta (e, meu inglês não chega a tal grau de refinamento, mas isso pouco importava no momento).
Resolvi então fechar a historia com chave de ouro, apelando para um coloquial: E eu tenho cara de quem gosta de traveco? Saiu algo como: ‘Andi ai have a face who like travecos?‘ Foi quando o sacana do taxista virou para mim e fez um sinal afirmativo.
Chegamos no aeroporto internacional de Saigon (ou Ho Chi Minh, para as repartições oficiais) e ele me mostrou o taxímetro em 10.500 dongs. Quis cobrar também mais 500 dongs por ter levado minhas duas pesadas malas. Eram R$ 11. Haviam me avisado que uma corrida ate o aeroporto ficaria em R$ 10. Estava de bom tamanho. Paguei sem pestanejar.
Segui adiante. Mas fiquei na duvida se o taxista concordou que não tenho cara de quem gosta de traveco ou se quis dizer que eu tinha toda a pinta de quem curtia um corpo de mulher provida de pipi.
sábado, 23 de agosto de 2008
Imagem é tudo
sexta-feira, 22 de agosto de 2008
Façam suas apostas
Antes do início da Olimpíada, o Paulo Cobos, colega da Folha, pediu para eu fazer um exercício de adivinhação e apontasse os campeões olímpicos do atletismo em Pequim. O material entrou em uma revista especial sobre a Olimpíada. Cada especialista em sua área na editoria de Esporte fez o mesmo. Como em tudo em jornal, o pedido era para ontem. Tive pouco mais de uma hora para examinar rankings, pódios dos últimos Mundiais indoor e outdoor, e performances na temporada antes de apontar os prováveis 47 campeões do esporte-base da Olimpíada.
Faltando três dias para o encerramento das competições, e considerando que algumas apostas minhas nem estarão na final de suas respectivas provas, meu placar, por ora, é de 12 acertos e 24 erros (33% de aproveitamento).
Alguns palpites óbvios há um mês e meio hoje soam como bizarros. É o caso dos 100 m. Apontei Tyson Gay como campeão. Ele acabara de cravar 9s68 nas seletivas norte-americanas, o mais rápido homem do planeta a cumprir a distância até hoje. O recorde só não foi oficializado porque ele contou com a ajuda de um vento de 4 m/s.
Campeão mundial dos 100 m, 200 m e 4 x 100 m, Gay parecia uma boa aposta, apesar da forte concorrência jamaicana (de Usain Bolt, aí com a medalha de ouro dos 200 m, ouvindo o "Parabéns pra você" sendo entoado no estádio). Uma lesão no tendão-de-aquiles, porém, jogou água nas minhas esperanças com Gay nos 100 m e 4 x 100 m, na qual Gay foi responsável pela eliminação EUA ao se confundir na troca de bastão.
Brad Walker parecia um bom palpite no salto com vara. Com boas marcas no ano, o norte-americano foi vítima de sua empáfia. Quis saltar direto 5,65 m, marca para a classificação direta às finais. Errou todas as tentativas e foi eliminado.
Não, sinceramente não sei que tipo de loucura me fez apontar Josephine Onyia como vencedora dos 100 m com barreiras. A fraquíssima espanhola ficou em quinto lugar em sua semifinal. Pior foi ter chutado em uma desconhecida chinesa, Yingying Zhang, como primeira colocada da maratona. Tudo bem que pouca gente acertaria em outra anônima, a romena Constantina Tomescu, como campeã. O problema é que Zhang nem se classificou para Pequim.
Outros foram atropelados pelas circunstâncias, como ter apostado no então campeão olímpico e ex-recordista mundial, Liu Xiang, como vencedor dos 110 m com barreiras. O chinês desistiu logo na primeira eliminatória por causa de lesão. Sem ele na pista, a vitória ficou de lambuja para o cubano Dayron Robles (aí em cima, vencendo a prova), atual recordista mundial. Pois é, foi o segundo recordista mundial que desprezei (depois de Usain Bolt nos 100 m) e me dei mal.
Duas das minhas escolhidas ao menos foram para a final. Mas as norte-americanas Torri Edwards (200 m) e Tiffany Ross-Williams (400 m com barreiras) terminaram em último lugar.
Uma certa solidariedade latino-americana me fez colocar a cubana Yipsi Moreno como vencedora no arremesso de martelo e o equatoriano Jefferson Perez como campeão da marcha de 20 km. Os dois ao menos pegaram a prata.
Agora mais surpreendente do que os erros, foram os acertos. Acreditava conhecer melhor as provas de pista e saltos, nas quais os brasileiros costumam se destacar de vez em quando. O placar de resultados até aqui me desmente. Surprendentemente, sou um ás nas provas de arremesso, com aproveitamento de 57%. E um fiasco total na pista (29%) e no campo (33%).
Não, não me considerem um Nostradamus porque previ coisas como as vitórias da bela Olga Kaniskina (marcha de 20 km), Barbora Spotakova (arremesso de dardo) ou Primo Kozmus (arremesso de martelo). Nem sei como fiz aquilo.
Tudo isso me fez ficar mais empolgado com a cobertura do atletismo olímpico. Afinal, de outra forma, como é que eu iria vibrar, para espanto de meus colegas na tribuna de imprensa do Ninho de Pássaro, com o triunfo do estoniano Gerd Kanter no arremesso de disco?
quinta-feira, 21 de agosto de 2008
Recorde de velocidade e resistência
Na pista, Usain Bolt festejava o título dos 200 m com o novo recorde mundial: 19s31, corrigidos para 19s30 no cronômetro digital do estádio instantes depois. Fora dela eu colhia esse flagrante aí de cima (é, até que não sou tão mal fotógrafo). Alucinado com o feito do jamaicano, mandei um FODEU bem grande para todo mundo que falava comigo no MSN naquele momento. Acho que eram umas três pessoas e aproveito para me desculpar se tivesse uma mulher entre elas, o que já não me lembro.
Minha jornada ontem começou às 6h30, depois de dormir pouco mais de duas horas. Acordei para seguir para a cobertura da maratona aquática. O local da prova era o mesmo onde acontecem as competições de canoagem e remo. Havia passado por lá e sabia que o local era absurdamente longe. Foram uns 20 minutos no busão da Media Village que leva até o MPC (centro de imprensa dos Jogos). De lá, mais cerca de 1h10min para a arena de canoagem e remo.
No busão encontrei outros companheiros de infortúnio: Bruno Doro (UOL), Casinha (Terra) e Plínio (Lance!). Dormimos quase a viagem inteira, o que fez o Bruno comentar, com razão, que a impressão era que a viagem tinha durado só cinco minutos.
As brasileiras até que deram alguma emoção à prova, disputando o terceiro lugar nos últimos metros dos 10 km da maratona aquática. Mas, no final, como tem acontecido em outras competições, ficaram para trás. Ana Marcela Cunha, líder do ranking mundial, foi a quinta colocada. Poliana Okimoto, vice-campeça mundial dos 5 km e 10 km há dois anos, terminou em sétimo.
Mandei rapidamente os textos para a Folha. Por conta daquelas maravilhas do fuso horário, a prova terminava em cima da lata de nossa edição São Paulo. Dali, corremos para o busão de volta para o MPC (se perdêssemos aquele, teríamos que esperar mais uma hora pelo próximo). Cheguei, almocei e fui tirar um cochilo em um dos sofás do centro de imprensa. Esses locais são disputadíssimos. Ainda farei outro texto a esse respeito.
À tarde, segui para o Ninho de Pássaro. Haveria coletiva da Iaaf (Associação Internacional das Federações de Atletismo). A presença de astros das pistas, como Michael Johnson (então recordista dos 200 m), Mike Powell (recordista do salto em distância) e Wilson Kipketer (recordista dos 800 m) renderia, com certeza, boas aspas.
Johnson fez vasta análise sobre sua prova e declarou que Usain Bolt teria todas as condições de quebrar o seu recorde. "É precipitado dizer que ele irá cair hoje. Mas acho que poderei dizer adeus a ele [o recorde] em breve", brincou.
De lá segui para as tribunas, onde começariam as competições. Na pauta, relato dos brasileiros nos 800 m (Fabiano Peçanha e Kleberson Davide) e salto com vara (Fábio Gomes da Silva), apresentação das finais do salto triplo (Jadel Gregório) e das eliminatórias do 4 x 100 m (com o Brasil na pista no masculino e feminino). De internacional, a final dos 200 m, com a provável vitória de Bolt, e apresentação dos 110 m com barreiras, a prova em que o povo chinês ficou órfão, com a lesão e desistência de Liu Xiang, seu maior ídolo nas pistas.
É, o dia ainda seria carregado. Mas não fazia a menor idéia de quanto. A expectativa pelo novo recorde nos 200 m era tão pequena que a disputa final nem fecharia a jornada no Ninho de Pássaro. Os 400 m com barreiras feminino seria a prova de encerramento. Prova, aliás, totalmente esvaziada diante do feito de Bolt, 19s30 após o tiro de partida.
Na zona mista a confusão era imensa. Repórteres de todos os cantos do planeta se acotovelavam para pegar uma declaraçãozinnha que fosse de algum coadjutantes da final, como Kim Collins, Churandy Martina, Christian Malcolm ou Brian Dzingai, com quase o mesmo ímpeto de esfomeados de Darfur atrás de ajuda humanitária.
Quem passasse por lá, com qualquer indício que fosse jamaicano, seja jornalista, parente de atleta ou médico da delegação, virava celebridade instantânea e era logo cercado. Muitos coleguinhas não sabiam nem quem eram os entrevistados e se aboletavam com o gravador digital à mão para colher aspas. Depois perguntavam.
Bolt chegou à coletiva por volta de 0h30. O resultado da prova já havia sido alterado duas vezes, com a desclassificação do norte-americano Wallace Spearmon e do antilhano Martina. A entrevista, felizmente, não demorou para acabar. Bolt brincou e deu boas aspas, para a alegria dos coleguinhas. Revelou, por exemplo, um desejo adolescente: depois da façanha sua maior vontade era comer vários nuggets.
De lá, rumar para o centro de imprensa para vender o que tinha para a chefia. Não me lembro ao certo agora quantas retrancas mandei. Foram várias. Felizmente tinha me preparado para a catástrofe, embora, no íntimo não acreditasse que ela pudesse acontecer. O recorde dos 200 m (19s32), na minha modesta avaliação, era muito forte. E ninguém, afora Michael Johnson, havia corrido a distância em menos de 19s62. O melhor tempo de Bolt, até então, era 19s67.
Comecei a bater as retrancas ensandecidamente. Na bancada ainda estavam por aqui Bruno Doro e Casinha, companheiros da jornada matutina. O Seixas ainda discutia com São Paulo tamanhos para quinta e pauta para sexta. Na bancada do lado de lá estavam Ivan Drummond (Estado de Minas), Jorge (O Globo) e Luizinho (Correio Braziliense). Afora a imprensa brazuca, só restava um jornalista jamaicano, trajado com a jaqueta do país.
Tomei um Red Bull, que infelizmente na China não tem o mesmo efeito do que o brasileiro. Estava com muito sono, mas pouco a pouco a sensação de cansaço diminuiu. Já não havia ninguém na minha bancada. Na de lá, restavam o Jorge e o Luizinho. Ainda faltava minhas duas últimas retrancas, um box histórico e um ping, e pouco depois não vi mais nenhum dos coleguinhas brazucas.
Mandei a última retranca por volta das 6h10 daqui. O incrível era que eram 19h10 do Brasil e nosso fechamento normalmente é às 19h30. Ou seja, com um fuso 11 horas favorável, quase atrasei São Paulo! Olhei para os lados e o único sobrevivente da longa jornada madrugada adentro era o jamaicano. Acho que para esse cara, o feito de Bolt realmente era bem mais importante do que para a imprensa nacional.
Desarmei o acampamento e peguei minhas duas mochilas. Normalmente carrego duas aqui, uma com laptop e outra com demais tralhas (jaqueta, ipod, gravador e máquina fotográfica digital, canetas, bloquinho, medias guides). Tem sido a solução distribuir para o peso, já que tenho dores lombares de vez em quando.
Lá fora, uma fina garoa caía. Estava sem guarda-chuva, mas apertei a tecla F. O que mais poderia acontecer? O busão da 6h30 ainda demorou um pouco para chegar. Subi nele e desabei. Na chegada à Media Village, a chuva havia aumentado de intensidade.
Cheguei ao prédio C1, apartamento 1208, quarto B, completamente ensopado. Fedia o suor de um dia inteiro de trabalho. Me sentia como se tivesse paticipado de uma corrida de aventura. Fui para o chuveiro. Foi um dos melhores banhos da minha vida.
Meu recorde anterior de trabalho havia sido de 21 horas, ocorrido em uma sexta-feira em que fui fazer uma pauta às 9h e fiquei no pescoção até as 6h de sábado. Na manhã de hoje completei 24 horas seguidas. Acho uma marca forte. Assim como a de Michael Johnson nos 200 m, tão cedo não será batida. Me sentia tão recordista quanto Usain Bolt. Agora quero devorar os meus nuggets.
quarta-feira, 20 de agosto de 2008
Sobre varas e choros
Anteontem, foi a vez da campineira, que perdeu a vara com a qual saltaria 4,55 m e 4,65 m. Desconcentrada e sem o material adequado, acabou falhando e sendo eliminada da prova.
Ela deixou a zona mista dizendo que nunca mais competiria na China. Seu técnico, Elson Miranda afirmou que tentaria demovê-la dessa idéia. Mas o que Fabiana não esperava foi o que ocorreu em seu embarque de volta ao país, ontem.
A saltadora foi abordada por uma equipe de TV chinesa. Como é de praxe, os profissionais da imprensa oficialesca local estavam atrás de recolher aspinhas bacanas e elogiosas ao país e à Olimpíada.
Chateada e com longas 26 horas de viagem pela frente, Fabiana ainda teve que ouvir perguntas como: "O que você mais gostou na China?" e "Como foi a sua performance?"
Ontem foi a cerimônia de premiação do salto com vara no estádio Ninho de Pássaro. No alto do pódio, a recordista mundial Yelena Isinbayeva (5,05 m), amiga e companheira de treinos de Fabiana. Emocionada com o bicampeonato olímpico, chorou copiosamente, como pode ser visto aí em cima, que tirei a partir da TV do estádio (o pódio estava muito distante para uma boa foto).
Mas porque estou postando uma foto da russinha pela segunda vez por aqui? Oras, alguém teria coragem de reclamar de mais uma foto da Isinbayeva?
segunda-feira, 18 de agosto de 2008
Entrevista coletiva
Desde a ascensão fulminante da primeira, após o ouro na Olimpíada de Atenas, em 2004, Feofanova foi gradativamente perdendo espaço. Nunca mais ganhou uma competição importante (Mundial ou Olimpíada) nem esteve mais no topo das listas de melhores marcas da temporada no salto com vara.
Por isso, foi no mínimo deselegante a pergunta feita pelo jornalista indiano: "Feofanova, você não tem orgulho de ter uma compatriota tão boa como a Isinbayeva em sua prova?"Constrangida, Feofanova foi obrigada a dizer que sim, para salvar as aparências.
As coletivas em Pequim têm sido um capítulo à parte. Perguntas esdrúxulas aparecem a toda hora. No início dos Jogos, durante entrevista do presidente do Comitê Olímpico Internacional, Jacques Rogge, havia vários assuntos importantes em pauta na época: poluição, censura na internet, reclamações generalizadas. A importância do evento era que seria a primeira entrevista de Rogge em Pequim, com todos esses problemas na pauta dos principais jornais do mundo.
Para certo jornalista, porém, a francofonia era mais importante do que qualquer questão irrelevante sobre liberdade de imprensa ou aquecimento global e tascou:
"Gostaria de saber do sr. Rogge como o sr. acha que está sendo tratada a língua francesa na Olimpíada de Pequim?"
Rogge, que vinha sendo massacrado pela imprensa ocidental, pareceu aliviado. Engatou um longo discurso, em francês, sobre a contribuição do país na constituição do COI. Lembrou do Barão de Coubertin. Foram preciosos minutos gastos com tal bobagem (a coletiva era de uma hora cronometrada).
Um jornalista qatari-nacionalista, enfurecido, questionou o dirigente sobre a eliminação do Qatar da disputa pelos Jogos de 2016. "O COI disse que Doha não poderia ser sede dos Jogos porque era muito quente. Mas Pequim é tão quente quanto Doha e vai ser sede da Olimpíada." Detalhe, a tal eliminação já ocorreu há alguns meses.
Dias depois, o Bocog (Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos de Pequim, na sigla em inglês) convocou uma coletiva para falar sobre a poluição do ar. Quem disse que os chineses não são democráticos para expor abertamente seus problemas?, pensei comigo. Cheguei cedo à sala de coletiva e qual não foi a minha surpresa ao encontrar um evento em chinês, sem tradução. A imprensa oficialesca, acredito eu, se deliciava, em volta dos responsáveis pelo milagre atmosférico ocorrido na cidade. Mas não posso garantir isso. Nos cinco minutos, atônito, que fiquei lá tentando descobrir onde estavam os tradutores, não consegui entender nada.
Outra que tive que ouvir aconteceu na entrevista coletiva do presidente da Wada (Agência Mundial Antidoping), John Fahey. Um jornalista de algum país da América Central (Honduras, Guatemala, não me lembro bem) perguntou sobre o doping de alguma atleta local irrelevante. Educadamente, o dirigente disse que desconhecia o caso.
Há alguns dias, fui na coletiva do César Cielo, na Casa Brasil, local montado pelo COB para ajudar na campanha pelo Rio-2016. Com o auditório tomado por repórteres, fotógrafos e cinegrafistas, a primeira pergunta foi de um repórter de TV: "Aqui é o fulano, da TV Limeira e gostaria que você mandasse um abraço para o povo de Santa Bárbara", pediu o sujeito.
Entre os repórteres já se tornou piada que tipo de perguntas irrelevantes ou trocadilhescas vamos fazer nas próximas coletivas. No vôlei de praia, fiquei seriamente tentado a perguntar para a australiana Natalie Cook se ela gostava de cozinhar. De preferência em português para a voluntária pagar o mico de ter que traduzir.
Neste momento estou indo para o vôlei de praia fazer a semifinnal entre Renata/Talita e Walsh/May-Treanor. A tentação de perguntar para a Walsh se ela gosta de lavar roupa é muito grande.
domingo, 17 de agosto de 2008
Qualquer coisa é possível
Voa, Bolt, voa
Há quatro anos, em Atenas, não tinha máquina digital e nem me arrisquei a tentar fotografar a chegada. Neste ano, com uma Canon de 8.0 megapixels e zoom ótico de 4x, resolvi arriscar.
O resultado é esse fiasco aí de cima. Tão vergonhoso quanto a eliminação de Tyson Gay nas semifinais e o desempenho pífio de Asafa Powell, pela segunda Olimpíada seguida quinto colocado na final.
Como desculpa, tenho a dizer que estava longe da chegada, no terceiro anel da arquibancada. E o jamaicano realmente foi rápido: 6s69. O primeiro homem a quebrar a barreira dos 9s70 nos 100 m. E pensar que há menos de dez anos o homem não tinha ainda ultrapassado a barreira dos 9s80.
sábado, 16 de agosto de 2008
Espetáculo visual
E lógico, tirar fotos, muitas fotos. Estava voltando do Ninho de Pássaro há alguns dias, após cobrir treino do atletismo. Era fim de tarde. E essa torre de TV atraía a atenção dos turistas. Inevitável parar, perder alguns minutinhos e tirar umas fotos da torre, cuja iluminação ficava mudando de cor. Mando umas fotos para o leitor curtir um pouco desse espetáculo visual.
sexta-feira, 15 de agosto de 2008
Teletubie
Mas o que mais me chamou a atenção foi durante a entrevista coletiva. Não, não foi nenhum destempero verbal de nosso treinador, nem uma declaração arrogante do adversário ou alguma gafe dos tradutores, como já se tornou freqüente.
O que mais contrastava ante o visual de lenhador do técnico Vladimir Alekno e do capitão russo, Vadim Khamuttskikh, era esse simpático mascotinho aí. Ignoro de onde veio. Me fez lembrar os saudosos teletubies.
quinta-feira, 14 de agosto de 2008
Corra, busão, corra
Não dá para se programar pelos horários fornecidos pela organização. Outro dia peguei o ônibus para o ginásio Capital, onde acontecem as partidas de vôlei, acreditando que fosse chegar a tempo de assistir Brasil x Sérvia desde o início. Afinal, no guia de transporte dizia que o percurso levaria apenas 25 minutos. Gastamos mais de 40. Para o vôlei de praia, o guia diz que levaríamos 27. Nunca fiz o trajeto em menos de 35 (normalmente muito mais do que isso). Da Media Village para o MPC o guia instrui que levam 15 minutos. Normalmente leva meia hora.
A via exclusiva é quase desnecessária, já que os ônibus andam numa lentidão desesperadora. Acontece de pegarmos congestionamento na via ao lado e nosso ônibus, com a pista livre, andarem na mesma velocidade do que os carros quase parados.
terça-feira, 12 de agosto de 2008
Onde até o Red Bull é censurado
Azul celeste
Por falta de tempo e receio do clima, aqui tive que abandonar os treinos completamente. Cheguei em Pequim dia 26 de julho. Desde então, vi dois dias de céu azul. Mas nada que pareça sequer o azul da poluída São Paulo, como dá para ver na foto acima, tirada em frente ao MPC (Main Press Center), onde os coleguinhas escrevem suas matérias. Nada empolgante.
segunda-feira, 11 de agosto de 2008
Noite de tiete
Jogo entre Estados Unidos e China, pela primeira rodada do torneio de basquete olímpico. Nas arquibancadas, George W. Bush acompanhava tudo atentamente. O placar do jogo, 101 a 70 a favor dos norte-americanos foi o que menos importou.
O clima de festa era sentido das arquibancadas desde o início e nem parecia que estávamos em uma séria competição olímpica. A torcida fazia festa tanto para as cestas de Kobe Bryant quanto para as de Yao Ming. Sem distinção.
Bandeiras dos EUA e da China tremulavam, impunemente, uma ao lado da outra, nos três anéis de arquibancadas dos Ginásio Olímpico de Basquete.
No anel inferior, a presença de Glenn Close e Jared Leto davam um clima holywoodiano à festa. Parecia um jogo do Los Angeles Lakers pela NBA.
Na saída do ginásio, eis que dou de cara com a atriz de "A casa dos espíritos" e "Coisas que você pode dizer só de olhar para ela". O pedido de foto é irresistível.
"Glenn, posso tirar uma foto contigo?", abordo quando ela já estava deixando o ginásio.
"Mas estou tão feia", responde ela, com certa razão. O tempo não foi um bom amigo para a estrela de "Ligações Perigosas".
"Mas eu sou teu fã", justifiquei, com um ar de admiração. Simpática, ela topou.
domingo, 10 de agosto de 2008
Morando no serviço
Até o início da Olimpíada passávamos boa parte do dia no centro de imprensa, o famoso MPC (Main Press Center). Fica perto do Cubo d'Água e do Ninho de Pássaro, as duas jóias arquitetônicas da Olimpíada.
Como pouca coisa acontecia nas arenas esportivas, com exceção de treinos esparsos, alguns fechados aos coleguinhas, era aqui que ficávamos apurando matérias, telefonando, checando dados e participando de coletivas.
O local é imenso. Escrevo no espaço número 656 da sala destinada aos jornalistas de imprensa escrita. É maior do que a de Atenas, que também era bastante grande.
O mais engraçado por aqui são que a cada Olimpíada a gama de serviços oferecidos aumenta. Atualmente é possível fazer massagem gratuita (antes da Olimpíada ainda dava para encarar, agora a fila é imensa).
Ao lado fica uma academia de ginástica, com alguns aparelhos de musculação e esteira. Pois é, dei uma de colunista e, nos primódios de nosso trabalho aqui, consegui dar uma corrida, sem precisar respirar o ar fétido de Pequim.
Também existe, perto dali um salão de cabeleleiro e barbearia. Até o final da Olimpíada, com certeza passarei por lá.
Mas a coqueluche entre os repórteres são os sofás encurvados. Como o fuso é meio zoado para quase todos os que cobrem a Olimpíada, muitos aproveitam esses locais para tirar uma soneca. Não é raro encontrarmos coleguinhas gringos dormindo lá, em forma de conchinha. Ontem, um deles até roncou no sofá perto da nossa mesa.
É tanta facilidade que, se descobrir um chuveiro por aqui, começo a acreditar que existem repórteres que estão usando o MPC também como alojamento.
Solidariedade olímpica
Em Atenas-04 aconteceu caso engraçado. Tínhamos combinado com o Rogério Daflon, do Globo, de sairmos para tomar umas brejas. Aquele seria um dos poucos dias mais tranqüilos, já que as provas de vela, que o Daflon, eu e o Guilherme Roseguini, na época colega da Folha, estávamos cobrindo, acabariam cedo.
Acho que isso foi no dia em que Torben Grael e Marcelo Ferreira ganharam o bicampeonato olímpico. Como estávamos em dois, acabamos relativamente cedo nossos textos e ficamos esperando o Daflon. O problema é que ele, sozinho, descobriu que teria que escrever muito mais que a gente.
"Quer uma ajuda?", brinquei. Todos rimos diante do absurdo que seria a situação. Infelizmente, a cervejada nunca aconteceu.
Ontem foi a vez de um desses anjinhos me ajudarem. Conheci a Janaína Frare, do Sportv, também em Atenas. E a reencontrei só em grandes eventos: Pan do Rio e agora na Olimpíada de Pequim.
Estava na arena de vôlei de praia, relativamente tranqüilo, pensando nos três textos que precisaria mandar para São Paulo. Só que tinha me esquecido que nosso fechamento no sábado seria às 13h do Brasil ou meia-noite daqui.
Diante do atraso (já eram umas 21 horas e não havia mandado nenhum texto), corri para a sala de imprensa e deixei meu gravador digital nas mãos da Janaína. Não teria tempo de fazer zona mista e coletiva do jogo de estréia de Ana Paula/Larissa. Em uns 20 minutos já tinha mandado os textos de basquete. Pouco depois, foi o material de vôlei de praia masculino, sobre a estréia de Emnanuel e Ricardo, ocorrida naquela manhã.
Quando estava começando o texto do vôlei de praia feminino, ela chegou com as gravações salvadoras. Tinha tido até a boa vontade de fazer uma pergunta que precisava para meu texto. Tudo chegou a tempo em São Paulo, 40 minutos antes do fechamento da edição nacional nossa. Não teria conseeguido isso sem a ajuda dela.
Falta de critério
Mas apesar de ter podido ficar atrás das arquibancadas na cerimônia da bandeira do Reino Unido, um dia antes, fui impedido de ter acesso sequer próximo ao local de execução do hino russo.
Um voluntário me jogava para um caminho, o outro me pedia para retornar ao anterior. Mesmo faltando cinco minutos para o início da cerimônia, os voluntários diziam que ela já tinha começado e não poderia entrar. Detalhe, estou falando da praça das bandeiras da Vila Olímpica, um lugar descampado, onde já tinha até posado para foto, dias antes.
Sem conseguir combinar nada antes da cerimônia, me resigno a esperar. Acabado o hasteamento da bandeira do time que deve ocupar o terceiro posto no quadro de medalhas aqui, me dirijo à entrada da praça das Bandeiras. Sou novamente impedido. Tenho que esperar os caras saírem de lá.
O problema é que a cartolagem ainda é convidada a entrar em um toldo para um coquetel de confaternização com os chineses. É, no caso do Reino Unido também não houve nada disso.
Adivinha se pude entrar? Pois é, após mais uma vez ter meu trabalho limitado pelos voluntários, não agüento e solto um básico: "Mas na Olimpíada de Sydney não foi assim [disse isso por puro palpite, não estava lá]. Em Atenas também não [nesta eu estava, e podíamos assistir à cerimônia de bandeira sentados com a delegação, algo inimaginável por aqui].
"São razões de segurança", justificou a voluntária, certamente me olhando como um potencial separatista georgiano pronto para agir contra a Rússia.
Essa foi demais retruquei que em Atenas já tinha havido o 11 de setembro, e nem por isso havia aquela palhaçada toda.
"Provavelmente aqui é assim porque essa será a maior Olimpíada de todos os tempos", justificou a chinesinha com seus discursos nacionalistas grandiloqüentes.
"Acho que provavelmente é porque seu país é o mais problemático de todos os tempos", retruquei, deixando a voluntária com cara de tacho.
Felizmente, consegui falar com o Vladimir Vasin, chefe de missão, pouco depois.
quinta-feira, 7 de agosto de 2008
Olimpianas
VOLUNTÁRIOS - É impressionante como eles estão por toda a parte. Vá até o banheiro, há dois voluntários te aguardando na porta. Dirija-se à saída do centro de imprensa, há uma meia dúzia deles só pra te dizer "Ni hao" (olá em chinês, uma das três ou quatro palavras que aprendi da língua deles). Pegue o ônibus para a Vila de Mídia. Há uns três para te conduzirem até a porta. São tantos que às vezes parecem um exército. E literalmente marcham como militares, como neste flagrante aí, na chegada do revezamento da tocha a Pequim.
Nesta véspera de Olimpíada, temos já muuuitos jornalistas trabalhando ensandecidamente, 24 horas por dia, em textos e fotos olímpicas. Por isso, a proporção voluntário-credenciado diminuiu bastante. Mas quando eu e meu colega de Folha, Eduardo Ohata, chegamos aqui, praticamente desbravamos a sala de imprensa. Havia alguns poucos gatos pingados no imenso salão destinado aos jorlnalistas de imprensa escrita. Sobravam voluntários por toda a parte. Era só perguntar algo a um deles, para uma horda de chineses te cercarem tentando ajudar (apenas um resolveria!).
O cúmulo aconteceu comigo em um dos primeiros dias. Tinha acabado de lavar as mãos, no banheiro, quando fui pegar a toalhinha de papel. Não precisei. Havia um voluntário só para pegá-la para mim. Depois de secar, fui jogá-la no cesto. Novamente fui surpreendido por outro, que estava lá apenas para pegar meu papelzinho úmido e jogá-lo no lixo. Fiquei me sentindo um misto de inútil completo e marajá indiano.