domingo, 24 de agosto de 2008

Fim de Olimpíada


Foi a primeira noite em que essa equipe aí da Folha, em Pequim, esteve reunida, todos juntos, no MPC (centro de imprensa), pela primeira vez nos Jogos. Na foto aparecem, de frente: Raul, eu, Cobos, Ferrari e Edgard. Na fila de costas, um japonês intruso, Lajolo, Seixas e Ohata. E era a nossa última de trabalho na China.

É uma sensação maravilhosa terminar uma Olimpíada. No meu caso, a segunda. Mas, sinceramente, não me lembro muito bem dos detalhes de como foi em Atenas. Só lembro que saímos muito tarde do MPC. Tirei umas duas das três ou quatro fotos que fiz durante a Olimpíada inteira e terminamos a noite na Ratoeira, local próximo à Media Village, onde sempre íamos jantar porque fechava bem tarde.

Em Pequim, a sensação é diferente. Seja pelo fato de ter sido uma Olimpíada bem mais prazerosa, tanto de cobrir quanto pelas façanhas esportivas que pude presenciar. Em Atenas não estava no basquete quando os Estados Unidos perderam para Porto Rico. Assisti à final dos 100 m, com vitória de Justin Gatlin, mas salvo engano, não a estava cobrindo. Minha participação mais empolgante foi no quiproquó que deu na maratona, com o ataque ao Vanderlei Cordeiro de Lima. Mas aí já era um dos instantes finais dos Jogos.

Em Pequim, cobri praticamente todas as provas de atletismo, tendo testemunhado as vitórias de Usain Bolt nos 100 m, 200 m e 4 x 100 m, todos com recordes mundiais. Pude ver a festa de Kenenisa Bekele, atleta que havia entrevistado no início do ano, nos 5000 m. Infelizmente, não me lembro ao certo porque, não estava na final dos 10.000 m, que deve ter sido empolgante.

Vi o momento em que Liu Xiang pôs a mão na coxa e desistiu de correr a primeira eliminatória dos 110 m com barreiras. Assisti à agonia de Fabiana Murer procurando sua vara pouco antes de ser eliminada de sua prova. E sua amiga, Yelena Isinbayeva, outra atleta que entrevistei alguns anos atrás, quebrar novamente um recorde mundial, o 24o de sua longa coleção que, acredito, ainda não está completa.

Em coletivas, conheci alguns mitos da pista e capmpo, como Michael Johnson (recordista mundial dos 400 m e, naquele dia, curtia suas últimas horas como recordista dos 200 m), Wilson Kipketer (recordista dos 800 m) e Mike Powell (recordista do salto em distância).

E, num momento surpreendente, pudemos (eu e mais uns poucos seis ou sete coleguinhas) conversar com Haile Gebrselassie no Ninho de Pássaro, em uma entrevista coletiva que virou quase uma exclusiva já que pouca gente apareceu.

Pude curtir várias partidas do torneio de vôlei de praia, esporte em que o que mais empolga o público, creio eu, são o grupo de dançarinas das Ilhas Canárias (que em Atenas usavam biquínis bem mais "brasileiros" digamos assim).

Estávamos aqui desde o início dos Jogos, quando parecia que os direitos humanos seriam um tema premente na Olimpíada. Contra todos os meus prognósticos e desejos, não foi. Quando a bola começou a rolar, de fato o que importou foi o esporte e seus personagens. Não vi nenhum atleta com pin, broche, bandeira ou declaração que soasse polêmica aos olhos do todo-poderoso Bocog (Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos de Pequim, na sigla em inglês).

E, contra outra previsão minha, não houve nenhuma comoção grande por conta da poluição. O céu de fato é branco. Não me arrisquei (nem tive tempo) a fazer treinos longos de corrida por aqui. Mas não vi nenhum atleta alegar asma induzida para seu mal desempenho atlético. Nem usando as mascarsa que chegaram a ser mostradas por atletas dos EUA. Mais um tema em que a imprensa ocidental gastou muita tinta e efetivamente não pegou.

Ah, em tempo, errei o vencedor da maratona (mas aí também seria um pouco demais, né?). Além disso, a Blanka Vlasic (salto em altura) também não me ajudou e protagonizou uma das maiores amareladas olímpicas, mesmo tendo nascido longe do Brasil e estando invicta havia uns dois anos.

Terminei meus prognósticos dos resultados do atletismo olímpico com o placar de 17 acertos e 30 erros (36% de aproveitamento). Pouco? Muito? Não sei. Mas foi a melhor maneira de ficar empolgado com a final do lançamento de disco masculino ou da marcha de 20 km feminina. Repetirei em outras edições dos Jogos.

Em inglês nos entendemos

Já dois amigos me cobraram pelo fato de eu não estar escrevendo no blog algum tempo. Anteontem foi a vez de alguém especial fazer o mesmo pedido. Então, acho que e hora de retomar a coisa por aqui. Vou dar as minhas razoes para essa longa ausência (uma delas já deu para perceber, ?, e a falta de acentos nos teclados a que tenho tido acesso. Paciência. Corrijo quando voltar ao Brasil.)

Após a cobertura da Olimpíada segui de ferias para Hong Kong com o Ohata, colega da Folha. De la, já sozinho, viajei para Hanói. Em seguida, sem roteiro muito bem definido, fui descendo pelo pais, passando por Halong Bay, Hue, Hoi An e Nha Trang ate chegar a Saigon. Em seguida, tomei um vôo ate Siem Reap, já no Camboja. Amanha sigo para Phnom Phem, que e a capital do pais. Encerro minha jornada asiática na Tailândia. Ainda com roteiro a definir. Não faltaram historias divertidas para contar.

Mas, neste período, só tive acesso a internet dos PCs dos hotéis em que fiquei. Dois problemas surgiram para atualizar o blog. O primeiro, e óbvio, e a absoluta falta de acentos nos terminais asiáticos. Nossa língua e mesmo estranha por essas paragens. O segundo, e isso e uma pena, e a impossibilidade de anexar as fotos que vou fazendo pelo caminho. Outro fato a se lamentar, já que pelas minhas ultimas contas (que fiz ainda no Vietnã), já foram umas 2.500 imagens.

Mas vamos a um causo divertido que ocorreu na segunda, ultimo dia meu no Vietnã. Peguei um
táxi ate o aeroporto e minha preocupação era não ser engambelado pelo taxista. Em Hanói cheguei a pagar absurdos 60 mil dongs (algo como R$ 60) por uma corrida que em São Paulo não passaria de uns R$ 20.

Durante o caminho, abri o livrinho da Lonely Planet sobre o pais, que havia comprado dias antes, para mostrar que estava atento a possíveis desvios de rota para aumentar o valor da corrida (como se fosse um as das ruas da Saigon!).

O taxista percebeu, e, de pronto, me indicou um ônibus que seguia logo a nossa frente. Mostrou que a plaquinha indicava que ia para o aeroporto. Conferi no guia, e realmente era o nome do aeroporto (não me pecam para lembrar agora, de cabeça!).

Respondi que estava só conferindo os hotéis da minha próxima estadia. Percebi que o taxista pouco havia entendido ou não compreendera patavina. Resolvi então imitar o sotaque de inglês macarrônico que havia ouvido durante toda a viagem, iniciando um papo non sense.
‘I like veri muti Vietnã. Veri biutiful pipou.‘ O motorista aquiesceu com a cabeça.

Pensei então em ir alem, para ver o que o cara iria achar. ‘Pipou a lori of friendili.‘ Mais uma acenada afirmativa. Apelei: ‘Andi de gueurls? Fantastic gueurls.‘ Ele sorriu em sinal de aprovação.

Como meu papo o divertia, resolvi contar um fato curioso que havia acontecido comigo na véspera, em minha ultima noite no Vietnã. A melhor coisa que poderia fazer era ficar amigo do taxista, afinal diminuiria a chance de ser achacado novamente, ?

Iesterdei, ai uas uif a friendi ofi maine, a suitzerland, do iu know? Then, a traveco (aqui não sabia dizer o equivalente em inglês, mas acho que isso não fez muita diferença para o motorista) stopped his motorçaicou and offer to me and mai friendi a chupeta (e, meu inglês não chega a tal grau de refinamento, mas isso pouco importava no momento).

Resolvi então fechar a historia com chave de ouro, apelando para um coloquial: E eu tenho cara de quem gosta de traveco? Saiu algo como: ‘Andi ai have a face who like travecos?‘ Foi quando o sacana do taxista virou para mim e fez um sinal afirmativo.

Chegamos no aeroporto internacional de Saigon (ou Ho Chi Minh, para as repartições oficiais) e ele me mostrou o taxímetro em 10.500 dongs. Quis cobrar também mais 500 dongs por ter levado minhas duas pesadas malas. Eram R$ 11. Haviam me avisado que uma corrida ate o aeroporto ficaria em R$ 10. Estava de bom tamanho. Paguei sem pestanejar.

Segui adiante. Mas fiquei na duvida se o taxista concordou que não tenho cara de quem gosta de traveco ou se quis dizer que eu tinha toda a pinta de quem curtia um corpo de mulher provida de pipi.

sábado, 23 de agosto de 2008

Imagem é tudo

Já comentei aqui que os organizadores da Olimpíada de Pequim se preocuparam bastante com o visual. Vários locais se tornaram verdadeiros cartões-postais para fotografar. E não falo só do Ninho do Pássaro, o mais belo estádio que já vi, e do Cubo D'Água, com seu visual futurista, principalmente à noite.

Mas, apesar de tudo isso, o gosto chinês por fotografar é algo meio inexplicável. A impressão que dá é que os caras descobriram ontem as máquinas digitais (talvez não esteja exagerando e tenham descoberto mesmo!). Em muitos casos, parece que roubaram a máquina do pai e começaram a tirar fotos.


Há uma pose mais babaca que a outra que inadvertidamente, os chineses fazem em frente a estádios e arenas. Essa aí com a bandeirinha é um clássico. Há uma outra, com o ingresso na mão, para provar que esteve no estádio durante a Olimpíada é outro "must" do verão. Essa eu não consegui flagrar ontem, chegando no Ninho do Pássaro.


O gosto por aparecer em foto é tão grande que um maluco como esse aí, que se travestiu de homem das cavernas, fez imenso sucesso na porta do estádio Ninho de Pássaro. Coisas de Pequim.


Realmente o desejo de fazer fotos babacas é contagiante. Olha a minha aí com a tocha olímpica.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Façam suas apostas

Antes do início da Olimpíada, o Paulo Cobos, colega da Folha, pediu para eu fazer um exercício de adivinhação e apontasse os campeões olímpicos do atletismo em Pequim. O material entrou em uma revista especial sobre a Olimpíada. Cada especialista em sua área na editoria de Esporte fez o mesmo. Como em tudo em jornal, o pedido era para ontem. Tive pouco mais de uma hora para examinar rankings, pódios dos últimos Mundiais indoor e outdoor, e performances na temporada antes de apontar os prováveis 47 campeões do esporte-base da Olimpíada.

Faltando três dias para o encerramento das competições, e considerando que algumas apostas minhas nem estarão na final de suas respectivas provas, meu placar, por ora, é de 12 acertos e 24 erros (33% de aproveitamento).

Alguns palpites óbvios há um mês e meio hoje soam como bizarros. É o caso dos 100 m. Apontei Tyson Gay como campeão. Ele acabara de cravar 9s68 nas seletivas norte-americanas, o mais rápido homem do planeta a cumprir a distância até hoje. O recorde só não foi oficializado porque ele contou com a ajuda de um vento de 4 m/s.

Campeão mundial dos 100 m, 200 m e 4 x 100 m, Gay parecia uma boa aposta, apesar da forte concorrência jamaicana (de Usain Bolt, aí com a medalha de ouro dos 200 m, ouvindo o "Parabéns pra você" sendo entoado no estádio). Uma lesão no tendão-de-aquiles, porém, jogou água nas minhas esperanças com Gay nos 100 m e 4 x 100 m, na qual Gay foi responsável pela eliminação EUA ao se confundir na troca de bastão.

Brad Walker parecia um bom palpite no salto com vara. Com boas marcas no ano, o norte-americano foi vítima de sua empáfia. Quis saltar direto 5,65 m, marca para a classificação direta às finais. Errou todas as tentativas e foi eliminado.

Não, sinceramente não sei que tipo de loucura me fez apontar Josephine Onyia como vencedora dos 100 m com barreiras. A fraquíssima espanhola ficou em quinto lugar em sua semifinal. Pior foi ter chutado em uma desconhecida chinesa, Yingying Zhang, como primeira colocada da maratona. Tudo bem que pouca gente acertaria em outra anônima, a romena Constantina Tomescu, como campeã. O problema é que Zhang nem se classificou para Pequim.

Outros foram atropelados pelas circunstâncias, como ter apostado no então campeão olímpico e ex-recordista mundial, Liu Xiang, como vencedor dos 110 m com barreiras. O chinês desistiu logo na primeira eliminatória por causa de lesão. Sem ele na pista, a vitória ficou de lambuja para o cubano Dayron Robles (aí em cima, vencendo a prova), atual recordista mundial. Pois é, foi o segundo recordista mundial que desprezei (depois de Usain Bolt nos 100 m) e me dei mal.

Duas das minhas escolhidas ao menos foram para a final. Mas as norte-americanas Torri Edwards (200 m) e Tiffany Ross-Williams (400 m com barreiras) terminaram em último lugar.

Uma certa solidariedade latino-americana me fez colocar a cubana Yipsi Moreno como vencedora no arremesso de martelo e o equatoriano Jefferson Perez como campeão da marcha de 20 km. Os dois ao menos pegaram a prata.

Agora mais surpreendente do que os erros, foram os acertos. Acreditava conhecer melhor as provas de pista e saltos, nas quais os brasileiros costumam se destacar de vez em quando. O placar de resultados até aqui me desmente. Surprendentemente, sou um ás nas provas de arremesso, com aproveitamento de 57%. E um fiasco total na pista (29%) e no campo (33%).

Não, não me considerem um Nostradamus porque previ coisas como as vitórias da bela Olga Kaniskina (marcha de 20 km), Barbora Spotakova (arremesso de dardo) ou Primo Kozmus (arremesso de martelo). Nem sei como fiz aquilo.

Tudo isso me fez ficar mais empolgado com a cobertura do atletismo olímpico. Afinal, de outra forma, como é que eu iria vibrar, para espanto de meus colegas na tribuna de imprensa do Ninho de Pássaro, com o triunfo do estoniano Gerd Kanter no arremesso de disco?

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Recorde de velocidade e resistência


Na pista, Usain Bolt festejava o título dos 200 m com o novo recorde mundial: 19s31, corrigidos para 19s30 no cronômetro digital do estádio instantes depois. Fora dela eu colhia esse flagrante aí de cima (é, até que não sou tão mal fotógrafo). Alucinado com o feito do jamaicano, mandei um FODEU bem grande para todo mundo que falava comigo no MSN naquele momento. Acho que eram umas três pessoas e aproveito para me desculpar se tivesse uma mulher entre elas, o que já não me lembro.

Minha jornada ontem começou às 6h30, depois de dormir pouco mais de duas horas. Acordei para seguir para a cobertura da maratona aquática. O local da prova era o mesmo onde acontecem as competições de canoagem e remo. Havia passado por lá e sabia que o local era absurdamente longe. Foram uns 20 minutos no busão da Media Village que leva até o MPC (centro de imprensa dos Jogos). De lá, mais cerca de 1h10min para a arena de canoagem e remo.

No busão encontrei outros companheiros de infortúnio: Bruno Doro (UOL), Casinha (Terra) e Plínio (Lance!). Dormimos quase a viagem inteira, o que fez o Bruno comentar, com razão, que a impressão era que a viagem tinha durado só cinco minutos.

As brasileiras até que deram alguma emoção à prova, disputando o terceiro lugar nos últimos metros dos 10 km da maratona aquática. Mas, no final, como tem acontecido em outras competições, ficaram para trás. Ana Marcela Cunha, líder do ranking mundial, foi a quinta colocada. Poliana Okimoto, vice-campeça mundial dos 5 km e 10 km há dois anos, terminou em sétimo.

Mandei rapidamente os textos para a Folha. Por conta daquelas maravilhas do fuso horário, a prova terminava em cima da lata de nossa edição São Paulo. Dali, corremos para o busão de volta para o MPC (se perdêssemos aquele, teríamos que esperar mais uma hora pelo próximo). Cheguei, almocei e fui tirar um cochilo em um dos sofás do centro de imprensa. Esses locais são disputadíssimos. Ainda farei outro texto a esse respeito.

À tarde, segui para o Ninho de Pássaro. Haveria coletiva da Iaaf (Associação Internacional das Federações de Atletismo). A presença de astros das pistas, como Michael Johnson (então recordista dos 200 m), Mike Powell (recordista do salto em distância) e Wilson Kipketer (recordista dos 800 m) renderia, com certeza, boas aspas.

Johnson fez vasta análise sobre sua prova e declarou que Usain Bolt teria todas as condições de quebrar o seu recorde. "É precipitado dizer que ele irá cair hoje. Mas acho que poderei dizer adeus a ele [o recorde] em breve", brincou.

De lá segui para as tribunas, onde começariam as competições. Na pauta, relato dos brasileiros nos 800 m (Fabiano Peçanha e Kleberson Davide) e salto com vara (Fábio Gomes da Silva), apresentação das finais do salto triplo (Jadel Gregório) e das eliminatórias do 4 x 100 m (com o Brasil na pista no masculino e feminino). De internacional, a final dos 200 m, com a provável vitória de Bolt, e apresentação dos 110 m com barreiras, a prova em que o povo chinês ficou órfão, com a lesão e desistência de Liu Xiang, seu maior ídolo nas pistas.

É, o dia ainda seria carregado. Mas não fazia a menor idéia de quanto. A expectativa pelo novo recorde nos 200 m era tão pequena que a disputa final nem fecharia a jornada no Ninho de Pássaro. Os 400 m com barreiras feminino seria a prova de encerramento. Prova, aliás, totalmente esvaziada diante do feito de Bolt, 19s30 após o tiro de partida.

Na zona mista a confusão era imensa. Repórteres de todos os cantos do planeta se acotovelavam para pegar uma declaraçãozinnha que fosse de algum coadjutantes da final, como Kim Collins, Churandy Martina, Christian Malcolm ou Brian Dzingai, com quase o mesmo ímpeto de esfomeados de Darfur atrás de ajuda humanitária.

Quem passasse por lá, com qualquer indício que fosse jamaicano, seja jornalista, parente de atleta ou médico da delegação, virava celebridade instantânea e era logo cercado. Muitos coleguinhas não sabiam nem quem eram os entrevistados e se aboletavam com o gravador digital à mão para colher aspas. Depois perguntavam.

Bolt chegou à coletiva por volta de 0h30. O resultado da prova já havia sido alterado duas vezes, com a desclassificação do norte-americano Wallace Spearmon e do antilhano Martina. A entrevista, felizmente, não demorou para acabar. Bolt brincou e deu boas aspas, para a alegria dos coleguinhas. Revelou, por exemplo, um desejo adolescente: depois da façanha sua maior vontade era comer vários nuggets.

De lá, rumar para o centro de imprensa para vender o que tinha para a chefia. Não me lembro ao certo agora quantas retrancas mandei. Foram várias. Felizmente tinha me preparado para a catástrofe, embora, no íntimo não acreditasse que ela pudesse acontecer. O recorde dos 200 m (19s32), na minha modesta avaliação, era muito forte. E ninguém, afora Michael Johnson, havia corrido a distância em menos de 19s62. O melhor tempo de Bolt, até então, era 19s67.

Comecei a bater as retrancas ensandecidamente. Na bancada ainda estavam por aqui Bruno Doro e Casinha, companheiros da jornada matutina. O Seixas ainda discutia com São Paulo tamanhos para quinta e pauta para sexta. Na bancada do lado de lá estavam Ivan Drummond (Estado de Minas), Jorge (O Globo) e Luizinho (Correio Braziliense). Afora a imprensa brazuca, só restava um jornalista jamaicano, trajado com a jaqueta do país.

Tomei um Red Bull, que infelizmente na China não tem o mesmo efeito do que o brasileiro. Estava com muito sono, mas pouco a pouco a sensação de cansaço diminuiu. Já não havia ninguém na minha bancada. Na de lá, restavam o Jorge e o Luizinho. Ainda faltava minhas duas últimas retrancas, um box histórico e um ping, e pouco depois não vi mais nenhum dos coleguinhas brazucas.

Mandei a última retranca por volta das 6h10 daqui. O incrível era que eram 19h10 do Brasil e nosso fechamento normalmente é às 19h30. Ou seja, com um fuso 11 horas favorável, quase atrasei São Paulo! Olhei para os lados e o único sobrevivente da longa jornada madrugada adentro era o jamaicano. Acho que para esse cara, o feito de Bolt realmente era bem mais importante do que para a imprensa nacional.

Desarmei o acampamento e peguei minhas duas mochilas. Normalmente carrego duas aqui, uma com laptop e outra com demais tralhas (jaqueta, ipod, gravador e máquina fotográfica digital, canetas, bloquinho, medias guides). Tem sido a solução distribuir para o peso, já que tenho dores lombares de vez em quando.

Lá fora, uma fina garoa caía. Estava sem guarda-chuva, mas apertei a tecla F. O que mais poderia acontecer? O busão da 6h30 ainda demorou um pouco para chegar. Subi nele e desabei. Na chegada à Media Village, a chuva havia aumentado de intensidade.

Cheguei ao prédio C1, apartamento 1208, quarto B, completamente ensopado. Fedia o suor de um dia inteiro de trabalho. Me sentia como se tivesse paticipado de uma corrida de aventura. Fui para o chuveiro. Foi um dos melhores banhos da minha vida.

Meu recorde anterior de trabalho havia sido de 21 horas, ocorrido em uma sexta-feira em que fui fazer uma pauta às 9h e fiquei no pescoção até as 6h de sábado. Na manhã de hoje completei 24 horas seguidas. Acho uma marca forte. Assim como a de Michael Johnson nos 200 m, tão cedo não será batida. Me sentia tão recordista quanto Usain Bolt. Agora quero devorar os meus nuggets.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Sobre varas e choros

Fabiana Murer, 27, deixava Pequim, após frustrante décimo lugar na Olimpíada. E, pela segunda vez seguida nos Jogos Olímpicos, um brasileiro é prejudicado no atletismo por fatores extra-competição. Em Atenas-04 foi a vez de Vanderlei Cordeiro de Lima ser derrubado por um ex-padre irlandês quando liderava a maratona olímpica (seria uma vitória inédita para o Brasil). Acabou com o bronze.

Anteontem, foi a vez da campineira, que perdeu a vara com a qual saltaria 4,55 m e 4,65 m. Desconcentrada e sem o material adequado, acabou falhando e sendo eliminada da prova.

Ela deixou a zona mista dizendo que nunca mais competiria na China. Seu técnico, Elson Miranda afirmou que tentaria demovê-la dessa idéia. Mas o que Fabiana não esperava foi o que ocorreu em seu embarque de volta ao país, ontem.

A saltadora foi abordada por uma equipe de TV chinesa. Como é de praxe, os profissionais da imprensa oficialesca local estavam atrás de recolher aspinhas bacanas e elogiosas ao país e à Olimpíada.

Chateada e com longas 26 horas de viagem pela frente, Fabiana ainda teve que ouvir perguntas como: "O que você mais gostou na China?" e "Como foi a sua performance?"


Ontem foi a cerimônia de premiação do salto com vara no estádio Ninho de Pássaro. No alto do pódio, a recordista mundial Yelena Isinbayeva (5,05 m), amiga e companheira de treinos de Fabiana. Emocionada com o bicampeonato olímpico, chorou copiosamente, como pode ser visto aí em cima, que tirei a partir da TV do estádio (o pódio estava muito distante para uma boa foto).

Mas porque estou postando uma foto da russinha pela segunda vez por aqui? Oras, alguém teria coragem de reclamar de mais uma foto da Isinbayeva?

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Entrevista coletiva


Rolava a coletiva da Yelena Isinbayeva, com a presença da Svetlana Feofanova, medalha de bronze ontem. Qualquer pessoa minimamente informada sabe que as duas não se bicam. Eram rivais no início dos anos 2000, quando disputavam o alto do pódio e uma batia o recorde mundial da outra.

Desde a ascensão fulminante da primeira, após o ouro na Olimpíada de Atenas, em 2004, Feofanova foi gradativamente perdendo espaço. Nunca mais ganhou uma competição importante (Mundial ou Olimpíada) nem esteve mais no topo das listas de melhores marcas da temporada no salto com vara.

Por isso, foi no mínimo deselegante a pergunta feita pelo jornalista indiano: "Feofanova, você não tem orgulho de ter uma compatriota tão boa como a Isinbayeva em sua prova?"Constrangida, Feofanova foi obrigada a dizer que sim, para salvar as aparências.

As coletivas em Pequim têm sido um capítulo à parte. Perguntas esdrúxulas aparecem a toda hora. No início dos Jogos, durante entrevista do presidente do Comitê Olímpico Internacional, Jacques Rogge, havia vários assuntos importantes em pauta na época: poluição, censura na internet, reclamações generalizadas. A importância do evento era que seria a primeira entrevista de Rogge em Pequim, com todos esses problemas na pauta dos principais jornais do mundo.

Para certo jornalista, porém, a francofonia era mais importante do que qualquer questão irrelevante sobre liberdade de imprensa ou aquecimento global e tascou:

"Gostaria de saber do sr. Rogge como o sr. acha que está sendo tratada a língua francesa na Olimpíada de Pequim?"

Rogge, que vinha sendo massacrado pela imprensa ocidental, pareceu aliviado. Engatou um longo discurso, em francês, sobre a contribuição do país na constituição do COI. Lembrou do Barão de Coubertin. Foram preciosos minutos gastos com tal bobagem (a coletiva era de uma hora cronometrada).

Um jornalista qatari-nacionalista, enfurecido, questionou o dirigente sobre a eliminação do Qatar da disputa pelos Jogos de 2016. "O COI disse que Doha não poderia ser sede dos Jogos porque era muito quente. Mas Pequim é tão quente quanto Doha e vai ser sede da Olimpíada." Detalhe, a tal eliminação já ocorreu há alguns meses.

Dias depois, o Bocog (Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos de Pequim, na sigla em inglês) convocou uma coletiva para falar sobre a poluição do ar. Quem disse que os chineses não são democráticos para expor abertamente seus problemas?, pensei comigo. Cheguei cedo à sala de coletiva e qual não foi a minha surpresa ao encontrar um evento em chinês, sem tradução. A imprensa oficialesca, acredito eu, se deliciava, em volta dos responsáveis pelo milagre atmosférico ocorrido na cidade. Mas não posso garantir isso. Nos cinco minutos, atônito, que fiquei lá tentando descobrir onde estavam os tradutores, não consegui entender nada.

Outra que tive que ouvir aconteceu na entrevista coletiva do presidente da Wada (Agência Mundial Antidoping), John Fahey. Um jornalista de algum país da América Central (Honduras, Guatemala, não me lembro bem) perguntou sobre o doping de alguma atleta local irrelevante. Educadamente, o dirigente disse que desconhecia o caso.

Há alguns dias, fui na coletiva do César Cielo, na Casa Brasil, local montado pelo COB para ajudar na campanha pelo Rio-2016. Com o auditório tomado por repórteres, fotógrafos e cinegrafistas, a primeira pergunta foi de um repórter de TV: "Aqui é o fulano, da TV Limeira e gostaria que você mandasse um abraço para o povo de Santa Bárbara", pediu o sujeito.

Entre os repórteres já se tornou piada que tipo de perguntas irrelevantes ou trocadilhescas vamos fazer nas próximas coletivas. No vôlei de praia, fiquei seriamente tentado a perguntar para a australiana Natalie Cook se ela gostava de cozinhar. De preferência em português para a voluntária pagar o mico de ter que traduzir.

Neste momento estou indo para o vôlei de praia fazer a semifinnal entre Renata/Talita e Walsh/May-Treanor. A tentação de perguntar para a Walsh se ela gosta de lavar roupa é muito grande.

domingo, 17 de agosto de 2008

Qualquer coisa é possível


"Anything is possible" (Kenenisa Bekele)

Pois é, o campeão dos 10.000 m, atleta patrocinado pela Adidas, teria dito o slogan da Lining, marca picareta chinesa, cujo logo lembra o da Nike e cuja mensagem publicitária copia de forma descarada campanha da Adidas.

Eu não sei. Não estava lá. Infelizmente não assisti à final dos 10.000 m, prova em que o esperado duelo entre Kenenisa Bekele, em busca do bicampeonato olímpico, e Haile Gebrselassie, bicampeão olímpico, não aconteceu.

Como em toda prova feita pelo recordista mundial, Bekele se conservou entre o pelotão principal até a última volta. O soar do sininho foi o sinal para o etíope disparar e, como invariavelmente acontece, deixar todo mundo para trás.

A coincidência é que, como há quatro anos, em Atenas, Bekele foi escoltado por Sileshi Sihine, seu compatriota. Sihine, bi-vice-campeão olímpico perdendo a prova só para o recordista mundial, seria um astro em seu país, se não fosse etíope.

Mas onde estava eu? A quilômetros dali, acompanhando a vitória de Renata/Talita sobre a dupla australiana Barnett/Cook. E e estressando um pouco na arena de vôlei de praia, onde belas cheerleaders animam a empolgada torcida.

Voa, Bolt, voa

É minha segunda Olimpíada. E pela segunda vez tive o privilégio de cobrir a final dos 100 m. E, pela segunda vez testemunhei à final olímpica mais rápida da história, desta vez com a vitória do fenômeno Usain Bolt.

Há quatro anos, em Atenas, não tinha máquina digital e nem me arrisquei a tentar fotografar a chegada. Neste ano, com uma Canon de 8.0 megapixels e zoom ótico de 4x, resolvi arriscar.

O resultado é esse fiasco aí de cima. Tão vergonhoso quanto a eliminação de Tyson Gay nas semifinais e o desempenho pífio de Asafa Powell, pela segunda Olimpíada seguida quinto colocado na final.

Como desculpa, tenho a dizer que estava longe da chegada, no terceiro anel da arquibancada. E o jamaicano realmente foi rápido: 6s69. O primeiro homem a quebrar a barreira dos 9s70 nos 100 m. E pensar que há menos de dez anos o homem não tinha ainda ultrapassado a barreira dos 9s80.

sábado, 16 de agosto de 2008

Espetáculo visual

Uma coisa temos que aplaudir de pé a Olimpíada chinesa: a preocupação com o visual. Por onde se passa há um trabalho de paisagismo bem feito, um monumento bacana para se ver ou um jogo de luminosidade para se apreciar.

E lógico, tirar fotos, muitas fotos. Estava voltando do Ninho de Pássaro há alguns dias, após cobrir treino do atletismo. Era fim de tarde. E essa torre de TV atraía a atenção dos turistas. Inevitável parar, perder alguns minutinhos e tirar umas fotos da torre, cuja iluminação ficava mudando de cor. Mando umas fotos para o leitor curtir um pouco desse espetáculo visual.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Teletubie

O Brasil havia perdido para a Rússia por 3 sets a 1 (25/22, 24/26, 29/31 e 19/25) de maneira incontestável. Não cubro vôlei normalmente, mas nos últimos tempos era a primeira vez que tinha visto uma seleção nitidamente melhor do que a nossa. Bernardinho tentou de tudo no quarto set, mas não conseguiu superar o paredão russo.

Mas o que mais me chamou a atenção foi durante a entrevista coletiva. Não, não foi nenhum destempero verbal de nosso treinador, nem uma declaração arrogante do adversário ou alguma gafe dos tradutores, como já se tornou freqüente.

O que mais contrastava ante o visual de lenhador do técnico Vladimir Alekno e do capitão russo, Vadim Khamuttskikh, era esse simpático mascotinho aí. Ignoro de onde veio. Me fez lembrar os saudosos teletubies.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Corra, busão, corra


Não quero parecer que isso aqui vire um painel de reclamações. Mas o sistema de transporte é uma coisa que não funciona na Olimpíada. Outro dia, saí do Main Press Center (o centro de imprensa, onde a mídia escrita centraliza seus trabalhos) por volta das 2h20 da madrugada.

Afora uma chuva torrencial, quando cheguei ao ponto de ônibus com destino ao North Star Media Village, onde estamos hospedados, havia uma filha que cruzava os dois pontos seguintes. Alguns poucos estavam de guarda-chuva. A maioria, após uma longa jornada de trabalho e carregando pesadas bolsas, se protegia como podia.

Pois bem, o ônibus das 2h30 não passou. E não era por falta de veículos. Havia ao menos uns 20 estacionados logo atrás dos pontos. Mas, onde a burocracia grassa, não se poderia deslocar um ônibus que já não iria levar ninguém até o vôlei de praia ou ao beisebol, por exemplo, para realocar os jornalistas, Às 2h45 chegaram dois ônibus, logo tomados. Não consegui entrar no segundo, que fechou as portas pouco antes de chegar perto dela. Peguei o ônibus das 3h. Também lotado, mas ao menos consegui sentar.

Não dá para se programar pelos horários fornecidos pela organização. Outro dia peguei o ônibus para o ginásio Capital, onde acontecem as partidas de vôlei, acreditando que fosse chegar a tempo de assistir Brasil x Sérvia desde o início. Afinal, no guia de transporte dizia que o percurso levaria apenas 25 minutos. Gastamos mais de 40. Para o vôlei de praia, o guia diz que levaríamos 27. Nunca fiz o trajeto em menos de 35 (normalmente muito mais do que isso). Da Media Village para o MPC o guia instrui que levam 15 minutos. Normalmente leva meia hora.

A via exclusiva é quase desnecessária, já que os ônibus andam numa lentidão desesperadora. Acontece de pegarmos congestionamento na via ao lado e nosso ônibus, com a pista livre, andarem na mesma velocidade do que os carros quase parados.

Ranhetice? Nem tanto. Na Olimpíada, cinco minutos é um tempo preciosíssimo. Pode ser a diferença entre conseguir fazer uma baldeação do MPC para algum ginásio ou ter que esperar mais meia hora pelo ônibus seguinte.

Durante os Jogos, chegamos a cobrir quatro eventos no mesmo dia. E meia hora a menos no busão, pode significar um lanchinho rápido ou ter que esperar até as 2h para jantar, sem ter almoçado. Os horários são irregulares e comemos, e até conseguimos ir ao banheiro, realmente quando dá tempo, entre um evento e outro.

Nada disso tira a empolgação por cobrir uma Olimpíada, e correr alucinadamente entre uma arena de tênis de mesa, abarrotada de chininhas ensandecidos, para a quadra de vôlei de praia, que lembra as arenas de Copacabana, dali para o treino do atletismo, na porta do túnel de acesso à pista do belo Ninho de Pássaro. O sono e a fome podem esperar, né?

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Onde até o Red Bull é censurado


Essa é, definitivamente, a Olimpíada da censura e do moralismo. Seja pela internet bloqueada para sites como o Chiclete Livre (não, não vou escrever o nome daquele país porque ainda quero escrever outros posts no blog por aqui) ou FG (aquele movimento banido na China). Seja pelo tamanho do biquíni das dançarinas na arena de vôlei de praia (como pode ser conferido na foto).

Logo no início dos Jogos, meu e-mail deu pau. Fiquei um dia inteiro sem poder acessá-lo. O motivo? Havia recebido um correio eletrônico vindo do Brasil, cujo conteúdo era censura. Dias depois, conversei com um membro da ONG Olympic Watch, que sugeriu a "adoção" de um preso político por delegação. Me passou qual seria a presa a ser adotada pelo Brasil. Mas era impossível acessar o site da entidade, porque seu subtítulo dizia: "direitos humanos na China".

Dias depois foi a vez de a internet de um coleguinha (me censuro a dizer seu nome), parou de funcionar. O aviso: o usuário acessou conteúdo pornográfico. Ora, afora a discussão sobre o que é ou não pornográfico, para qual padrão de moralismo, é algo normal, o usuário acessar tais páginas em um local em que se trabalha o dia inteiro e se vêem poucas mulheres. Pois é, infelizmente, Olimpíada ainda é muito masculina, ao menos no centro de imprensa.

No vôlei de praia, o moralismo também se impôs. Lembro que em Atenas as dançarinas, arregimentadas por uma companhia das Ilhas Canárias, eram um show à parte. Acredito que um dos grande motivos para as arenas lotarem tenha sido a presença a presença delas. Aqui, os trajes usados pelas animadoras dos intervalos são tão pudicos que poderiam ser utilizados tranqüilamente pelas vovós em Peruíbe, sem causar estranhamento a ninguém.

Absurdo maior, pelo menos para mim, aconteceu hoje pela manhã. As "razões de segurança" cada dia surpreendem mais. Ao tentar deixar a vila de mídia com uma latinha de Red Bull, fui impedido. "Não pode entrar com bebida alcoólica no MPC", justificou a voluntária, mesmo eu argumentando que Red Bull nunca foi bebida alcoólica. Tive que voltar, beber minha latinha diária (é um dos combustíveis para aguentar extenuantes jornadas de 15, 16 horas por dia).

Se sobrasse algum tempo para tomar uma breja, a dificuldade também seria imensa. O produto simplesmente é banido no centro de imprensa. Na vila de mídia, é vendido em uma lojinha que funciona só até as 22h (horário absolutamente impensável para jornalista ter conseguido retornar para seus apartamentos). Outro dia conseguimos comprar algumas latinhas. Estão me esperando todos os dias na geladeira. Devem ficar guardadas pro dia 24.

Azul celeste






Hoje pela manhã, quando saía da Media Village, cruzei com um coleguinha fazendo cooper. Amo correr e isso realmente está me fazendo uma falta danada. Que saudades da endorfina liberada após um treino mais longo, de uma hora, uma hora e meia no Ibirapuera.

Por falta de tempo e receio do clima, aqui tive que abandonar os treinos completamente. Cheguei em Pequim dia 26 de julho. Desde então, vi dois dias de céu azul. Mas nada que pareça sequer o azul da poluída São Paulo, como dá para ver na foto acima, tirada em frente ao MPC (Main Press Center), onde os coleguinhas escrevem suas matérias. Nada empolgante.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Noite de tiete


Jogo entre Estados Unidos e China, pela primeira rodada do torneio de basquete olímpico. Nas arquibancadas, George W. Bush acompanhava tudo atentamente. O placar do jogo, 101 a 70 a favor dos norte-americanos foi o que menos importou.

O clima de festa era sentido das arquibancadas desde o início e nem parecia que estávamos em uma séria competição olímpica. A torcida fazia festa tanto para as cestas de Kobe Bryant quanto para as de Yao Ming. Sem distinção.

Bandeiras dos EUA e da China tremulavam, impunemente, uma ao lado da outra, nos três anéis de arquibancadas dos Ginásio Olímpico de Basquete.

No anel inferior, a presença de Glenn Close e Jared Leto davam um clima holywoodiano à festa. Parecia um jogo do Los Angeles Lakers pela NBA.

Na saída do ginásio, eis que dou de cara com a atriz de "A casa dos espíritos" e "Coisas que você pode dizer só de olhar para ela". O pedido de foto é irresistível.

"Glenn, posso tirar uma foto contigo?", abordo quando ela já estava deixando o ginásio.

"Mas estou tão feia", responde ela, com certa razão. O tempo não foi um bom amigo para a estrela de "Ligações Perigosas".

"Mas eu sou teu fã", justifiquei, com um ar de admiração. Simpática, ela topou.

domingo, 10 de agosto de 2008

Morando no serviço


Até o início da Olimpíada passávamos boa parte do dia no centro de imprensa, o famoso MPC (Main Press Center). Fica perto do Cubo d'Água e do Ninho de Pássaro, as duas jóias arquitetônicas da Olimpíada.

Como pouca coisa acontecia nas arenas esportivas, com exceção de treinos esparsos, alguns fechados aos coleguinhas, era aqui que ficávamos apurando matérias, telefonando, checando dados e participando de coletivas.

O local é imenso. Escrevo no espaço número 656 da sala destinada aos jornalistas de imprensa escrita. É maior do que a de Atenas, que também era bastante grande.

O mais engraçado por aqui são que a cada Olimpíada a gama de serviços oferecidos aumenta. Atualmente é possível fazer massagem gratuita (antes da Olimpíada ainda dava para encarar, agora a fila é imensa).

Ao lado fica uma academia de ginástica, com alguns aparelhos de musculação e esteira. Pois é, dei uma de colunista e, nos primódios de nosso trabalho aqui, consegui dar uma corrida, sem precisar respirar o ar fétido de Pequim.

Também existe, perto dali um salão de cabeleleiro e barbearia. Até o final da Olimpíada, com certeza passarei por lá.

Mas a coqueluche entre os repórteres são os sofás encurvados. Como o fuso é meio zoado para quase todos os que cobrem a Olimpíada, muitos aproveitam esses locais para tirar uma soneca. Não é raro encontrarmos coleguinhas gringos dormindo lá, em forma de conchinha. Ontem, um deles até roncou no sofá perto da nossa mesa.

É tanta facilidade que, se descobrir um chuveiro por aqui, começo a acreditar que existem repórteres que estão usando o MPC também como alojamento.

Solidariedade olímpica

Cobrir Olimpíada é, também, um exercício de solidariedade. Não importa que o repórter ao lado seja do jornal, TV, rádio ou internet concorrente. Lógico que todo mundo quer dar furos(o que numa cobertura dessa dimensão e com tanta gente próxima, é difíci). Mas quando você vê seu coleguinha em apuros por não ter chegado a tempo à coletiva ou à zona mista, ou precisando de uma aspa básica, não há nada de mal em cedê-la. Afinal, hoje é seu concorerente que precisa, amanhã pode ser você.

Em Atenas-04 aconteceu caso engraçado. Tínhamos combinado com o Rogério Daflon, do Globo, de sairmos para tomar umas brejas. Aquele seria um dos poucos dias mais tranqüilos, já que as provas de vela, que o Daflon, eu e o Guilherme Roseguini, na época colega da Folha, estávamos cobrindo, acabariam cedo.

Acho que isso foi no dia em que Torben Grael e Marcelo Ferreira ganharam o bicampeonato olímpico. Como estávamos em dois, acabamos relativamente cedo nossos textos e ficamos esperando o Daflon. O problema é que ele, sozinho, descobriu que teria que escrever muito mais que a gente.

"Quer uma ajuda?", brinquei. Todos rimos diante do absurdo que seria a situação. Infelizmente, a cervejada nunca aconteceu.

Ontem foi a vez de um desses anjinhos me ajudarem. Conheci a Janaína Frare, do Sportv, também em Atenas. E a reencontrei só em grandes eventos: Pan do Rio e agora na Olimpíada de Pequim.

Estava na arena de vôlei de praia, relativamente tranqüilo, pensando nos três textos que precisaria mandar para São Paulo. Só que tinha me esquecido que nosso fechamento no sábado seria às 13h do Brasil ou meia-noite daqui.

Diante do atraso (já eram umas 21 horas e não havia mandado nenhum texto), corri para a sala de imprensa e deixei meu gravador digital nas mãos da Janaína. Não teria tempo de fazer zona mista e coletiva do jogo de estréia de Ana Paula/Larissa. Em uns 20 minutos já tinha mandado os textos de basquete. Pouco depois, foi o material de vôlei de praia masculino, sobre a estréia de Emnanuel e Ricardo, ocorrida naquela manhã.

Quando estava começando o texto do vôlei de praia feminino, ela chegou com as gravações salvadoras. Tinha tido até a boa vontade de fazer uma pergunta que precisava para meu texto. Tudo chegou a tempo em São Paulo, 40 minutos antes do fechamento da edição nacional nossa. Não teria conseeguido isso sem a ajuda dela.

Falta de critério

Dia de cerimônia da bandeira da Rússia, na Vila Olímpica. Chego cedo. Afinal, a idéia é falar com o chefe de missão ou algum cartola local sobre os trocentos casos de doping que assolam o atletimso russo, um dos mais fortes do mundo, às vésperas do início dos Jogos (isso foi na quarta, dois dias antes da festa de abertura da Olimpíada).

Mas apesar de ter podido ficar atrás das arquibancadas na cerimônia da bandeira do Reino Unido, um dia antes, fui impedido de ter acesso sequer próximo ao local de execução do hino russo.

Um voluntário me jogava para um caminho, o outro me pedia para retornar ao anterior. Mesmo faltando cinco minutos para o início da cerimônia, os voluntários diziam que ela já tinha começado e não poderia entrar. Detalhe, estou falando da praça das bandeiras da Vila Olímpica, um lugar descampado, onde já tinha até posado para foto, dias antes.

Sem conseguir combinar nada antes da cerimônia, me resigno a esperar. Acabado o hasteamento da bandeira do time que deve ocupar o terceiro posto no quadro de medalhas aqui, me dirijo à entrada da praça das Bandeiras. Sou novamente impedido. Tenho que esperar os caras saírem de lá.

O problema é que a cartolagem ainda é convidada a entrar em um toldo para um coquetel de confaternização com os chineses. É, no caso do Reino Unido também não houve nada disso.

Adivinha se pude entrar? Pois é, após mais uma vez ter meu trabalho limitado pelos voluntários, não agüento e solto um básico: "Mas na Olimpíada de Sydney não foi assim [disse isso por puro palpite, não estava lá]. Em Atenas também não [nesta eu estava, e podíamos assistir à cerimônia de bandeira sentados com a delegação, algo inimaginável por aqui].

"São razões de segurança", justificou a voluntária, certamente me olhando como um potencial separatista georgiano pronto para agir contra a Rússia.

Essa foi demais retruquei que em Atenas já tinha havido o 11 de setembro, e nem por isso havia aquela palhaçada toda.

"Provavelmente aqui é assim porque essa será a maior Olimpíada de todos os tempos", justificou a chinesinha com seus discursos nacionalistas grandiloqüentes.

"Acho que provavelmente é porque seu país é o mais problemático de todos os tempos", retruquei, deixando a voluntária com cara de tacho.

Felizmente, consegui falar com o Vladimir Vasin, chefe de missão, pouco depois.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Olimpianas

Pois é, cheguei aqui há uns dez dias e acho que um misto de jet leg e desorganização me fizeram ficar tanto tempo sem postar nada. Como é difícil retomar as coisas após tanto tempo, vou destacar algumas coisas que chamaram a atenção nesses dias pequineses...



VOLUNTÁRIOS - É impressionante como eles estão por toda a parte. Vá até o banheiro, há dois voluntários te aguardando na porta. Dirija-se à saída do centro de imprensa, há uma meia dúzia deles só pra te dizer "Ni hao" (olá em chinês, uma das três ou quatro palavras que aprendi da língua deles). Pegue o ônibus para a Vila de Mídia. Há uns três para te conduzirem até a porta. São tantos que às vezes parecem um exército. E literalmente marcham como militares, como neste flagrante aí, na chegada do revezamento da tocha a Pequim.

Nesta véspera de Olimpíada, temos já muuuitos jornalistas trabalhando ensandecidamente, 24 horas por dia, em textos e fotos olímpicas. Por isso, a proporção voluntário-credenciado diminuiu bastante. Mas quando eu e meu colega de Folha, Eduardo Ohata, chegamos aqui, praticamente desbravamos a sala de imprensa. Havia alguns poucos gatos pingados no imenso salão destinado aos jorlnalistas de imprensa escrita. Sobravam voluntários por toda a parte. Era só perguntar algo a um deles, para uma horda de chineses te cercarem tentando ajudar (apenas um resolveria!).

O cúmulo aconteceu comigo em um dos primeiros dias. Tinha acabado de lavar as mãos, no banheiro, quando fui pegar a toalhinha de papel. Não precisei. Havia um voluntário só para pegá-la para mim. Depois de secar, fui jogá-la no cesto. Novamente fui surpreendido por outro, que estava lá apenas para pegar meu papelzinho úmido e jogá-lo no lixo. Fiquei me sentindo um misto de inútil completo e marajá indiano.