Estou lendo "João Saldanha, uma vida em jogo", do André Iki Siqueira. Confesso que iniciei o livro meio cético. Andei lendo muitas biografias picaretas, chatas mesmo. Além disso, nunca tinha ouvido falar do autor.
Felizmente minha primeira impressão há muito já foi para escanteio. Afora algumas passagens em que há tantas versões que o livro torna-se repetitivo, a obra contém o que mais procurava em uma biografia sobre personagem tão rico: histórias bacanas.
É sabido que Saldanha, assim como boa parte da classe dos coleguinhas, era um tanto mitômano. Algumas das histórias que ele asseverava serem verdadeiras, provavelmente não passam de lendas. Outras, ninguém conseguirá nunca comprovar.
Ele garantia ter tirado foto dando tapinha no ombro do líder chinês Mao Tsé-Tung. As fotos comprometedoras teriam sido destruídas pela filha Ruthinha durante a ditadura militar. Outra famosa de Saldanha era que ele teria viajado à Itália e, aos 16 anos e quase por acaso, presenciado a Copa de 1934, a primeira de sua carreira. Vai saber...
Uma das mais saborosas ocorreu na redação do Jornal do Brasil. Marcelo Rezende, sim, aquele dos telejornais da Rede TV!, era repórter iniciante e escrevia texto sobre a venda, pelo Botafogo, da sede do clube, em General Severiano, área nobre do Rio. Era 1977 e o então presidente, Cecil Borer, tentava aplacar dívidas.
Com intenção de enriquecer ainda mais o texto, Saldanha contou ao repórter que, em 1912, quando o clube teve o terreno doado, havia um português que mantinha um barraco no local. E passavam-se os dias e nada de o portuga deixar aquele lugar. Foi então que Saldanha e alguns amigos foram até lá e incendiaram o barraco, expulsando o galego.
"Você pode perguntar com o Sandro Moreyra [outro conhecido repórter botafoguense, hoje infelizmente meio esquecido], que estava lá", afirmou Saldanha.
Rezende foi então até a mesa de Moreyra atrás de comprovar a história. Novato, o repórter estava meio receoso em publicar aquilo, já que Saldanha era conhecido por inventar passagens em que aparecia como protagonista. Sandro Moreyra não ficava atrás. É de sua lavra a maioria das histórias folclóricas de Mané Guarrincha, muitas sem comprovação.
"Sandro, é verdade que você e o Saldanha ajudaram a expulsar esse português do terreno do Botafogo?"
"Meu filho, eu sou de 1919. O Saldanha nasceu em 1917. Você acha que em 1912 a gente estava incendiando barraco?", questionou Moreyra.
Música para o meu pai
Há um mês
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