segunda-feira, 14 de maio de 2007

Boicote a Pequim-2008

O bem mais precioso do jornalismo impresso atual é o papel. No começo do ano escrevi na Folha texto a respeito de uma ONG de direitos humanos que defende o boicote aos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, por causa das contínuas denúncias de violação de direitos humanos na China. Entre os textos, havia uma entrevista com o coordenador dessa ONG, que nasceu na República Tcheca. Por falta de espaço, tal ping-pong jamais foi publicado. Vai abaixo...

PERGUNTA -Para a Olympic Watch o que representa os Jogos Olímpicos em Pequim?
PETR KUTILEK - Os Jogos Olímpicos são a oportunidaded de a China provar que é verdadeiramente um país avançado. O respeito pelos universalmente reconhecidos direitos humanos é absolutamente necessário para um país que quer ser chamado de grande no século 21. Caso contrário, o governo chinês apenas irá embaraçar a si e envergonhar seu povo.

PERGUNTA -Qual é a situação dos direitos humanos na China?
PETR KUTILEK - Apesar das promessas feitas durante a candidatura, o governo chinês não respeita os direitos humanos de seu povo mais do que antes. A situação não melhorou. Há relatórios confiáveis que relatam um aumento do controle dos meios de comunicação desde que os novos líderes Hu Jintao e Wen Jiabao tomaram o poder. A agitação pública aumentou: há mais de 80 mil piquetes, greves ou outra forma de protesto público por ano. A China continua executando mais pessoas por ano do que todos os outros países somados. Mais direitos humanos foram violados durante a organização da Olimpíada: 300 mil pequineses foram desalojados de suas casas com baixa ou nenhuma indenização, e o líder dos protestos pacíficos, Ye Guozhu foi condenado a quatro anos de prisão.

PERGUNTA -A Olympic Wath pretende fazer manifestações públicas na China durante os Jogos?
PETR KUTILEK - Estamos avaliando nossas opções. O que é certamente importante, contudo, é que não somente ativistas internacionais, mas especialmente os chineses tenham a oportunidade de se expressar sobre a situação do país. Esperamos que, durante a Olimpíada, o governo não aprisione ou reprima os dissidentes, e que não impeça manifestações pacíficas, o que infelizmente tem ocorrido.

PERGUNTA -Para a Olympic Watch é possível melhorar a situação após os Jogos de Pequim?
PETR KUTILEK - Infelizmente parece que a Olimpíada deve contribuir para promover a deterioração do respeito aos direitos humanos. O sistema de segurança importado para os Jogos deve ser, mais tarde, utilizado para reprimir ainda mais a oposição. A Olimpíada é, obviamente, uma oportunidade de ajudar o governo a melhorar sua imagem ante seu povo e manter-se no poder por mais algum tempo. É necessário que nós vejamos algumas melhores na questão dos direitos humanos na China antes dos Jogos e que o movimento olímpico exponha seus princípios.

PERGUNTA -A Olympic Watch defende o boicote como forma de protesto contra os Jogos de Pequim?
PETR KUTILEK - Acreditamos que vários atletas expressarão suas opiniões através de boicote ou alguma outra forma de protesto. As conversações das ONGs de direitos humanos com atletas olímpicos estão apenas começando. Deve ser difícil para muitos atletas desistirem de participar dos Jogos, mas eles são definitivamente pessoas com consciência e não máquinas de performance esportiva.

PERGUNTA -Por que a Olympic Watch surgiu na República Tcheca, um país tão diverso da China?
PETR KUTILEK - A Olympic Watch teve início em julho de 2001, em resposta à decisão de programar a Olimpíada em Pequim, por três ex-dissidentes do regime comunista da Tchecoslováquia. Nós continuávamos ativos na vida pública na nova democracia tcheca. Acho que faz sentido que a Olympic Watch tenha se estabelecido aqui: muitas pessoas nesta parte do mundo sentem uma forte solidariedade com aqueles que não vivem em liberdade e democracia. De certa forma, nós tivemos sorte: em 1989 os regimes do Leste europeu entraram em colapso, enquanto que os comunistas chineses enviaram tanques às ruas e esmagaram os protestos na praça Tiananmen. E também, eu diria que apesar das óbvias diferenças entre China e Europa, temos um entendimento melhor sobre a propaganda que o governo chinês utiliza: quando eles se defendem contra “interferências em seu assuntos internos, reivindicam que a China tem um conceito diferente de direitos humanos e, em vez disso, pedem respeito mútuo; é um eco do que nós ouvíamos aqui nos anos 80. Isso basicamente significa nós queremos ficar no poder e não damos nada ao povo, e queremos ignorar as regras internacionais de direitos humanos. Por essa razão, é importante para ONGs como a nossa, e para todos os cidadãos responsáveis do mundo, continuar exercendo pressão para que Pequim adote a via democrática em benefício de seu povo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Aeeeeee Mari, Adalba! Finalmente vocês decidiram tirar esa idéia da gaveta. Parabéns pela estréia! Isso aqui vai ficar melhor que a Folha Esporte...hehehe