sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Amaury Pasos

Já que comecei o resgate das entrevistas que fiz com os jogadores do título mundial de basquete de 1959 com um dos craques daquela equipe, Wlamir Marques, encerro com outro, Amaury Antônio Pasos, nascido em São Paulo, no dia 11 de dezembro de 1935.

O ala-pivô começou no Tietê, passando em seguida por Sírio e Corinthians, para o qual se transferiu em 1966 e participou de lendária equipe que contava ainda com Wlamir, Rosa Branca e Ubiratan.

Pela seleção brasileira, disputou quatro Mundiais. E, numa façanha que hoje parece irreal, subiu ao pódio em todos. Foi bicampeão em 1959 e 1963, vice-campeão em 1954 e medalha de bronze em 1967. Disputou ainda três Olimpíadas e conquistou o bronze em 1960 e 1964.

"Eu me lembro que foi o primeiro título mundial do Brasil. Foi aí que começou a melhor década do basquete brasileiro em todos os tempos. Porque naqueles anos, fizemos parte da elite do basquete. Em 1963 houve o bicampeonato mundial."

"Kanela era um líder por excelência. Não havia um jogador que era considerado o tal. Os mais conhecidos eram o Wlamir e eu. Mas o time era mais ligado na parte técnica, no conjunto. Ficamos três meses treinando. O time ficou alojado um mês e meio na Ilha das Enxadas, no Rio, uma base da marinha."

"Aos domingos, o time saía para almoçar fora e voltava. Para você ter uma idéia, o Kanela cortava a luz às 22h. A gente comprava lanterna para poder ler. Naquele tempo, defender a seleção brasileira era uma coisa romântica. Não havia verba para a gente. Só davam uma diária para lavar a roupa."

"A seleção queria conquistar títulos. O time esperava cumprir um bom papel no Chile. Tivemos algumas cobranças. Tínhamos perdido para a União Soviética por três pontos. Mas, por causa de alguns problemas políticos da União Soviética com a China, ganhamos o campeoanto."

"Até então, o Brasil sempre era o primeiro, segundo ou terceiro colocado. Por isso, esperava disputar o título no Chile. Depois daquela conquista, ainda ganhamos medalha olímpica em Roma e Tóquio."


"Sempre tínhamos em mente a disciplina tática. O jogo contra o Chile foi fácil. O estádio Nacional estava cheio. A vitória contra os Estados Unidos foi o mais difícil. Mas os Estados Unidos tinham enviado uma equipe de terceira categoria."

"Após o título, caímos na gandaia no Chile. Fizemos muito sucesso. Fomos comer churrasco, beber vinho. Varamos a noite. Na volta, o time foi de São Paulo para o Rio."

"Faltou renovação ao basquete brasileiro atual, o surgimento de bons jogadores. Até que temos alguns bons jogadores, temos potencial."

"Neste período todo da era Oscar, o Brasil privilegiou um só jogador, um arremessador de bolas. Basquete é um jogo de equipe. Ninguém vence uma equipe com um só jogador. Os resultados é a equipe que consegue. Esse tempo todo, o Oscar foi o cestinha, mas o Brasil não ganhou nada, a não ser um Pan."

"É uma imagem ruim como exemplo para os jovens jogadores. Jogar basquete não é só arremessar a bola na cesta. É preciso estar bem principalmente na defesa, colaborando, dando assistências."

"O Rosa Branca metia mais bolas de longe. Tenho amizade até hoje com os jogadores: Mical, Rosa Branca, eu, Jatyr, Edson Bispo, que depois virou treinador, inclusive da seleção brasileira. Nós ainda nos encontramos. Passei por Tietê, Sírio e Corinthians. Ainda jogo nos veteranos, participo de programas de implantação de basquete nas escolas e sou industrial."

Um comentário:

Marcelo Laguna disse...

Grande Adalba,

Realmente, belas lembranças esta série de entrevistas com a turma campeã de 1959. Lembro-me bem daquela página dupla do Lance!, ficou um trabalho muito bonito mesmo. Estes caras merecem ser reverenciados sempre. E como as palavras do Amaury são lúcidas em relação ao período do Oscar na seleção!

Abração