sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Minha aventura no fabuloso mundo econômico

Era uma dessas coletivas da BM&F de começo de ano, quando tradicionalmente a bolsa premia alguns esportistas patrocinados, que ganharam alguma medalha importante no ano anterior, com barrinhas de ouro.

Após o evento, convidaram os repórteres de Esporte para uma almoço, que teria a participação também dos jornalistas de Economia, que estavam por lá à cata de informações sobre o balanço da bolsa naquele ano. Não, não me lembro quando isso ocorreu, talvez em 2005 ou 2006.

Foi uma das raras experiências em que adentrei ao glorioso mundinho do jornalismo econômico. Confesso não entender bulhufas do assunto.

O próprio ambiente da "coletiva" me pareceu por demais incomum. Como tempo é dinheiro, as questões eram feitas no mesmo momento em que todo mundo almoçava. Os repórteres, distribuídos pelas mesas, e os dirigentes da BM&F, Manoel Félix Cintra, presidente da bolsa, à frente, num mesão central.

Os jornalistas deixavam o prato por alguns instantes de lado, faziam suas questões, anotavam no bloquinho para em seguida voltar à refeição.

Alheio aos assuntos discutidos, só ficava impressionado com o extraoordinário nível de segmentação do jornalismo de Economia. As perguntas se sucediam, mas as identificações das repórteres (sim, a imensa maioria era de mulheres, ao contrário do que convivo na editoria de Esporte) eram o aspecto mais pitoresco do acontecimento.

"Aqui é a Taís, do Canal do Boi."

"Eu sou a Roberta, da revista Soja News."

"Gostaria de fazer uma pergunta ao sr. Manoel. Fernanda, do site do milho."

E por aí seguia o evento. Já preocupado em regressar à redação, e finalizando o rango, liguei para o setor de transporte do jornal. O celular pegava muito mal por ali. Por isso, deixei o refeitório para dar as coordenadas de local e horário em que precisaria de carro.

Ao retornar à mesa, vi que a sobremesa, uma deliciosa torta holandesa, já havia sido servida. Infelizmente sou uma formiga. E formigas, assim como os peixes, morrem pela boca. Vi um garçom por perto e ergui a mão. Talvez tenha sido a pior decisão de minha ainda curta trajetória profissional.

"Antes de encerrar a coletiva, estou vendo que aquele rapazinho tem uma pergunta", apontou um dos dirigentes da bolsa. Nunca me senti tão mal ao ouvir alguém subestimar minha idade.

Prontamente, uma funcionária bem apessoada me trouxe um microfone. E num instante, estar naquela mesa lateral equivaleu ao silêncio do atacante que vai bater o pênalti na final do campeonato, com o Morumbi lotado.

Como algum sexto sentido me protege nas horas de aperto, improvisei.

"Aqui é o Adalberto, da Folha, gostaria de saber qual é a análise da BM&F a respeito da taxa de juros."

Na época, a única coisa que ouvia sobre economia, nos telejornais, era a ladainha sobre a alta taxa do Brasil, que era um absurdo, prejudicava o setor produtivo e não gerava empregos etc e tal. Muita tinta e papel eram gastos nos jornais para discutir o tema (não, nunca avancei além de um lead de uma matéria sobre isso).

"É uma boa pergunta", iniciou um dos engravatados e prosseguiu: "Nós aqui na bolsa temos como meta neste ano"...

Meu suspiro de alívio de ter deixado de ser o centro das atenções da platéia equivaleu a um grito de gol. Até esqueci da sobremesa.

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