Outro dia discutia com uma amiga sobre as disparidades lingüísticas entre São Paulo e Rio. Lembramos alguns termpos bizarros dos paulistas. E, na minha opinião, uma lista maior de carioquêses.
Lembro de um causo ocorrido comigo. Era o começo da Copa do Mundo de 1998, e o pivô Hakeem Olajuwon (foto), do Houston Rockets, havia vindo ao Brasil para uma série de eventos da NBA. Como setorista de basquete, fui destacado para ir na coletiva do jogador.
Foi em algum hotel chique de São Paulo, no qual consegui pegá-lo em contradição, perguntando para qual seleção torceria na Copa, depois da Nigéria (sua terra natal). "Para o Brasil, claro", respondeu o jogador.
Em Buenos Aires, dias antes, ele havia declarado, ao diário "Olé!", que seu segundo time seria a Argentina...
Terminada a coletiva, a Nigéria jogaria com o Paraguai, do atacante Cardozo (foto), pela última rodada da primeira fase. O país africano, já classificado à seguunda fase do Mundial, perderia por 3 a 1. O pivô assistia ao jogo pela TV. Alguns repórteres (entre elese eu) ainda ficaram na sala para registrar suas impressões.
Foi quando Olajuwon se encantou com o relógio do fotógrafo que me acompanhava, o Reginaldo Castro, figuraça (ele é o mesmo profissional que quase foi agredido pelo atacante Adriano em recente treino do São Paulo).
Seu pulso era ornamentado por uma coisa medonha. O objeto havia sido comprado na Rua 25 de Março, por no máximo 10 reais. Tinha um mostrador enorme, com o logo da NBA. Pirataço!
Frequentador das lojinhas oficiais da liga americana, Olajuwon não conseguia compreender como nunca tinha visto um relógio semelhante. Não teve dúvida: virou para o Reginaldo e não resistiu, fazendo uma proposta indecorosa: "One hundred dollar."
Reginaldo não entendia nada. Eu, hiperenvergonhado, traduzi que o superpivô tinha oferecido uma grana pelo mimo. Diante da recusa do fotógrafo, Olajuwon subiu a oferta para US$ 150.
Era uma bela grana para tal bagulho, ainda mais para dois profissionais do Lance!. Secretamente até invejei aquele cacareco, mostrado com orgulho pelo Reginaldo dias antes. Mas fotógrafo estava irredutível, e frustrou os planos do pivô.
De volta à redação, após perder algum tempo no trânsito, duas retrancas me esperavam. Precisava escrever um abre na página de basquete sobre a visita do pivô e outro, no caderno de Copa na parte sobre o jogo da Nigéria, falando das reações de Olajuwon diante do fiasco de sua equipe naquela tarde.
Imediatamente me comuniquei com a redação carioca. Naquele dia era o Bernardo Pires Domingues quem estava fechando no Rio o poliesportivo (termo usado no Lance! para designar tudo o que não é futebol).
Disse a ele que sabia que estava atrasado, mas que mandaria as matérias por e-mail o mais rápido possível.
Foi o que fiz. Acho que em menos de meia hora já tinha escrito os dois textos (não é mérito nenhum, já que os abres de lá eram muito pequenos). Enviei. Berna responde quase em seguida: "Demorou".
Fiquei indignado com a ironia de meu colega carioca, que aliás não era dado a isso. Respondi com um raivoso: "Vai tomar no c..." ou algo do gênero.
O coleguinha ficou totalmente sem graça diante da minha reação. Pois é, naquele tempo não tinha a menor idéia que "demorou" em carioquês queria dizer algo como "legal", "valeu".
Música para o meu pai
Há um mês
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