Quando as agências não mandam nenhum despacho bacana para a gente comentar no blog, acho interessante lembrar causos que vivenciei nesses pouco mais de dez anos em redações. Vamos a dois deles, ambos ocorridos em coberturas de basquete.
Era repórter ainda do Lance! e já tinha desenvolvido várias fontes pelo fato de, na época, freqüentar mais os ginásios e ter contato próximo com técnicos, jogadores e cartolas.
Uma delas era o Cláudio Binotto. Supervisor do Barueri, tornou-se chapinha. Certo dia, o dirigente me ligou para contar novidade.
"Quer um furo?", perguntou.
Putz, que repórter não está à caça deles? "Lógico!", respondi.
"Pois então, contratamos o Flor Meléndez para dirigir a equipe."
O porto-riquenho era um dos treinadores mais badalados do Campeonato Nacional de basquete. Ex-técnico da seleção de Porto Rico, tinha passado por alguns dos principais times do Brasil. Dirigia, na época, o Vasco, pelo qual não vinha acumulando muitos bons resultados.
A tramóia é que o Vasco, na época megalomaníaco com a parceria com o Bank of America, também mantinha o time de Barueri, que atuava igualmente com a camisa do Vasco. A estratégia, então, para se livrar do porto-riquenho sem a necessidade de pagar multa rescisória foi enviá-lo à filial paulista.
O problema é que o Barueri já tinha treinador, o Carlos Alberto Rodrigues, o Carlão, que apesar de não ser um nome tão famoso, vinha fazendo um bom trabalho. Essa foi minha questão ao Binotto.
"Beleza, vou ligar para o Carlão para falar com ele."
"Não, liga depois das 18h, depois do treino, que eu ainda não falei com ele", respondeu o Binotto.
Embora fosse até certo ponto surreal, acatei a sugestão. Às 18h, quando o treino da tarde já devia ter acabado e o Carlão já havia sido informado das más-novas, liguei para o treinador.
"Oi, Carlão. Tudo bem?"
"Tudo ótimo. Acabei de terminar o treino. O time está muito bem. Acho que a tendência é continuar evoluindo no Nacional", respondeu todo animado.
"Mas, fiquei sabendo que você estaria saindo do time... Parece que o Flor Meléndez inclusive já foi contratado", questionei, meio sem jeito.
"Não estou sabendo de nada. Acabei de dirigir o treino", respondeu surpreso.
"Ah, então deve ser boato", tentei me corrigir, em vão, da gafe.
Quis desligar logo em seguida, mas ainda ouvi a voz do Carlão, já em outro tom. "Puxa, Adalberto, espero que, na próxima vez que você me ligar, não seja para eu saber que perdi o emprego."
*
Era 2000, e os EUA vinham ao Brasil para uma série de amistosos. Um deles seria contra a seleção brasileira. Outro contra a seleção paulista.
O problema é que, para armar aquela equipe, a técnica Laís Elena, do Santo André, vinha se desdobrando. Afinal, a maioria das atletas de ponta já havia sido chamada pelo técnico Barbosa para a seleção nacional. Sobrava muito pouco para fazer frente às norte-americanas, que vinham com um time fortíssimo. Discutia esse problema com a treinadora.
"Para os arremessos de três pontos tenho poucas opções. O Barbosa já chamou todo mundo", queixou-se.
Intrigado por Laís não ter chamado a Lílian, que vinha se destacando no Osasco (integraria a seleção brasileira medalha de bronze na Olimpíada de Sydney, naquele ano), questionei a ausência da ala-armadora.
"Ela não foi convocada pelo Barbosa?", espantou-se Laís.
"Não. Ficou de fora", respondi.
"Foi você ter me lembrado. Vou ligar agora para o pessoal do Osasco para chamar ela."
Pois é, depois de ter demitido um técnico, convoquei uma jogadora.
Música para o meu pai
Há um mês
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