quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Quando éramos toscos

Recebo da Taninha (Tânia Scaffa, para os menos íntimos, ex-colega da primeira equipe do diário Lance!) um texto do Maurício Stycer sobre a questão do gênero na redação de um diário esportivo. No caso é a respeito da implantação do projeto do Lance!, em 1997.

Lá se vão mais de 11 anos quando um bando de moleques adentrou a um galpão semi-abandonado e poeirento no glorioso Bairro do Limão para transformá-lo, em menos de três meses, no maior diário esportivo do país. Nos primeiros tempos, tínhamos só uma internet (e discada) e três telefones.

O texto do Stycer lista a turma de mulheres repórteres dos primeiros tempos. A Tânia foi a única mulher selecionada de São Paulo (na foto acima, do dia do lançamento do jornal, ela é obviamente a penúltima, em pé). No Rio, ele lista três jornalistas: Flávia Ribeiro, Thalita Rebouças e Débora Thomé. Uma injustiça à Daniela Oliveira, setorista de vôlei nos primeiros tempos, que não sei que fim levou. E a Thalita saiu logo, não sei nem se integrava a equipe quando o diário foi lançado. Ouvi falar que virou autora de livros juvenis.

De qualquer forma, o trabalho me serviu para abrir alguns campos de discussão interessantes. Vamos a eles. O Stycer defende que houve uma certa "opção masculina" desde a chefia que selecionou os estagiários que iriam integrar o novo jornal. Nesse aspecto, teria sido muito mais meritório a entrada de algumas mulheres na redação.

Cita, por exemplo, os testes de conhecimentos gerais, que continham perguntas sobre futebol, mais usuais de serem respondidas por homens. E que o teste específico (a produção de uma crônica esportiva a partir de jogo que assistimos pela TV) favoreceria mais os homens, habituados a assistir aos jogos. Concordo em parte. O teste específico, de qualquer forma, avaliava uma habilidade que seria necessária a todos (homens e mulheres) na futura redação.

Ao pinçar fala de jornalistas experientes, Stycer encontra episódios que acredita mostrarem laivos de preconceito, de resto algo inerente a qualquer um. Ele conta que um avaliador rejeitou candidato que chorou durante a entrevista, o que, na avaliação do autor, teria ocorrido por conta de "demonstrar características atribuídas às mulheres". Não creio que qualquer equipe de seleção aprovasse candidato com tal despreparo emocional, independentemente do fato de ele ser homem ou mulher.

Mas concordo com o autor, quando aborda outros aspectos, mostrando que uma mulher, na redação, estaria destinada necessariamente, a fazer esportes olímpicos. O futebol era um terreno masculino, ao qual a Tânia, que possuía experiência anterior de cobertura em estádios, não estava destinada. Já eu tive escolha. Lembro que inicialmente me escalaram para cobrir vôlei e pedi para a chefia para ser transferido para o futebol. Fui atendido. Acho que a Tânia não gozaria de tal privilégio. Foi nossa única mulher que também acabou escalada para a seção "Quem vai querer?", de compras, chatésima, mas atributo identificado como feminino.

Outro preconceito arraigado, muito comum até hoje, é desqualificar o trabalho das coleguinhas insinuando relacionamentos afetivos-sexuais com técnicos ou jogadores para obter informação privilegiada. Ela lembra que foi vítima disso: "Muita gente achava que eu dava pro (nadador) Fernando Scherer. Até hoje acham. Falavam isso até para o meu namorado. O Scherer falava coisas pra mim que não falava para outras pessoas. Ele sempre foi meio chatinho e eu sempre soube lidar com ele".

Foi interessante rememorar algumas passagens daquela época através da reflexão do Stycer. Depois de ler todo o texto dele, não resisti e mandei um e-mail para a Tânia, tentando tirar minha maior dúvida: "Éramos tão toscos assim?" Não cabe aqui reproduzir sua resposta. Mas concluo que éramos sim. Será que evoluímos?

4 comentários:

Anônimo disse...

Adalba,
Obrigado pelo toque sobre a Daniela. Não foi uma injustiça; foi um lapso. Vou incluir o nome dela no trabalho.
abraços
Mauricio

Anônimo disse...

Leisteeeeerrrr!!! Tira essa foto daí agoooraaaaaa!!!!! Meu, como eu tô baraaangaaaaaaa!!!!!

Adalba disse...

Oi, Stycer e Taninha,

1-No problem. Lapsos acontecem. Fiquei curioso em ler a sua tese. Podes me mandar uma cópia por email?
2-Aquela foto é histórica. Acho que foi o Rodrigo quem desencavou ela há algum tempo, no blog dele. Adoraria conseguir outras, dos treinamentos em Itapecerica e Rio de Janeiro, ou algumas que foram tiradas na redação. Se algúem tiver alguma bacana, mande para mim.
Para não perder o costume: abraços e beijos (nas minas),
Adalba

Rubão disse...

Tosco, você, Adalba? o homem que foi cobrir o lançamento do perfume da Gabriela Sabatini e chegou em êxtase (para não dizer outra coisa)?

Claro que não!

Rubão, o Fino