terça-feira, 25 de dezembro de 2007

No reino das perguntas-chavão

Há algumas semanas postei um texto sobre uma das principais frias que me meti em minha curta carreira jornalística: ter me tornado protagonista, mesmo que de forma involuntária, de uma coletiva de economia, assunto do qual entendo pouco.

A saída foi utilizar o que chamaria de pergunta-chavão para me livrar do enrosco em que havia me metido.

Em um exercício livre feito outro dia desses com uma coleguinha de outra editoria, chegamos a algumas perguntas-chavão, a serem utilizadas em qualquer coletiva, de acordo com o caderno em que o jornalista trabalha. Em uma coletiva, nunca deixe de ter sua pergunta-chavão engatilhada, para se livrar de qualquer contratempo.

Deliciem-se com as questões (mostram que temos sido um tanto repetitivos):

Brasil
Para o deputado: O partido fechou com o governo na questão da CPMF/da reforma tributária/do aborto (ou qualquer tema polêmico do momento)?

Para o presidente: As estatísticas de melhora do IDH não escondem um avanço social ainda tímido do país?

Para o senador: O sr. é a favor da cassação?

Para o ministro do STF: Essa medida é inconstitucional?

Para o ministro de qualquer pasta: Como o ministério fará para se adequar ao novo orçamento?

Mundo
Para intelectual de Harvard: Na opinião do sr., o que falta para que árabes e judeus (ou tustis e hutus ou qualquer grupos em conflito no planeta naquela semana) assinem novo acordo de paz?

Para intelectual da Sorbonne: O que falta para que a democracia seja expandida a todo o mundo?

Para líder europeu: Como políticas de redistribuição de renda podem beneficiar países da África?

Para algum líder do G-8: As leis migratórias de EUA/União Européia podem tornar-se novo foco de tensão social?

Para ativista ambiental: A ausência de EUA e China tornam o Protocolo de Kioto inócuo?

Cotidiano
Para o vereador: O sr. é a favor do novo plano diretor?

Para o comerciante: Qual é a expectativa de aumento das vendas com o natal/dia dos pais/mães/namorados?

Para o desabrigado: O sr. vai cobrar uma solução das autoridades?

Para o prefeito: Quais são os principais desafios da nova gestão/novo ano/novo mandato?
Que alternativas a prefeitura estuda para os desabrigados do Jardim Pantanal/Capão Redondo/Parelheiros (ou qualquer outro local em que tenha havido enchente, incêndio ou retomada de terreno pela PM)?

Esporte
Para o técnico: O sr. vai promover alguma alteração tática em função do adversário (ou da ausência do fulano, ou da volta do sicrano)?

Para o jogador (após vitória): Qual foi o segredo da equipe para o triunfo de hoje?

Para o jogador (após derrota): O que achou da arbitragem?

Para o atleta brasileiro (após ganhar medalha): Para quem você dedica o ouro?

Para o atleta brasileiro (após perder medalha): O que faltou hoje?

Dinheiro
Para o empresário: Qual é a análise do sr. a respeito da taxa de juros?
É possível o Brasil conseguir preços competitivos diante da concorrência dos produtos chineses?

Para economista do governo: Como será a política tributária do governo sem a CPMF?

Para qualquer um: A alta/queda do dólar/euro irá influenciar o desempenho da bolsa?
A alta/queda do dólar/euro vai ajudar/prejudicar as exportações brasileiras?

Ilustrada
Para qualquer personagem: Qual é a análise do sr. a respeito da política cultural do governo?
O sr. acredita que os patrocínios do governo federal são dirigidos?

Para o cineasta: Sobre o que trata seu novo filme?
Que diálogo ele faz com sua obra anterior?

Para o escritor: O romance morreu?
Seu novo livro é baseado em sua experiência de vida?

Para o diretor de teatro: O objetivo de sua nova peça é subverter com a passividade do público?
Shakespeare (ou Artaud ou Pasolini ou Ibsen ou Becket, dependendo do grau de loucura do sujeito) te influenciou?

Faltou alguma? Aceito sugestões.

domingo, 23 de dezembro de 2007

Afogando em números

De forma iniesperada consegui folga da redação para disputar a São Silvestre pelo segundo ano consecutivo. Será minha terceira participação na corrida. E, neste ano, venho respaldado por ter corrido minha primeira meia-maratona (a de São Paulo, em 11/3: 2h17min25s), minha primeira prova fora de SP (o revezamento Bertioga-Maresias, em 7/10) e batido minhas marcas pessoais nos 10 km (Corrida Santos Dumont, em 12/10: 50min58s; o recorde de 52min28s durava três anos) e 15 km (Sargento Gonzaguinha, dia 16/12: 1h23min11s, marca anterior, 1h28min25s era da São Silvestre-2006).

Mas não é sobre a satisfação de correr a prova que quero falar. E sim dos números extraordinários da maior corrida de São Silvestre da história. Seremos 20 mil atletas largando da Paulista às 16h45.

Para esse batalhão de gente (a prova só é menor em SP do que a Nike 10k, que teve 25 mil amadores anunciados), haverá, de acordo com os organizadores, um exército de 4.500 pessoas trabalhando. Desses, 3.000 são membros da PM e da Guarda Civil Metropolitana para garantir a segurança (um para cada pouco mais de 6 atletas). Haverá cerca de 250 médicos e enfermeiros de plantão (um para cada 80 atletas) em 15 ambulâncias postadas pelo percurso de 15 km (uma por km).

Além da medalha, os kits que serão distribuídos após a prova conterão um sanduíche, uma garrafa de isotônico e uma barrinha de cereal. Nada mal para repor as energias.

Agora, o dado que me causou mais estranheza foi a respeito da água que será servida aos participantes. De acordo com a divulgação da prova, serão 450 mil copos. Como seremos 20 mil corredores, dá 22,5 copinhos para cada um. Isso porque não contei aqueles que desistirão no meio do caminho, os inscritos que acabam não correndo por lesão ou viagens de Réveillon de última hora e aqueles (como eu e tantos), que não pegam copos em todas as paradas.

Considerando que a média nas corridas é ter uma barraca de água a cada 3 km de prova, e que devo beber mais um na chegada, são seis copinhos. A pergunta que não consigo responder é a seguinte: onde irão parar meus outros 16,5 copos?

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Fé e futebol

Frédéric Kanouté não é só o jogador com mais acentos em seu nome. O malinês, que defende o Sevilla e atua pela seleção francesa, também é um "investidor" religioso.

Muçulmano, Kanouté comprou uma mesquita localizada na Praça Ponce de León, na capital da Andaluzia. O local iria fechar. Pelo mimo, doado à comunidade islâmica, pagou 510.860 euros (cerca de R$ 1,324 milhão).

Com a iniciativa, o jogador pretende favorecer a comunidade de argelinos e senegaleses da cidade, que compartilham de sua fé.

Além do investimento na mesquita, Kanouté também mantém fundação no Mali em benefício de crianças órfãs. Ele foi revelado pelo Lyon (França) e chegou ao Sevilla há dois anos.

"Trabalhamos pela educação. A idéia é também criar um povo de crianças, com várias casas individuais e um grande bloco de edifícios", contou à agência France Presse.